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Esportes

Corinthians diz que casa de apostas era 'desconhecida' antes de acordo de patrocínio


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Poucas horas após a Vai de Bet anunciar a rescisão do contrato de patrocínio, a direção do Corinthians veio a público para confirmar o fim do vínculo e também criticar a ex-parceira. Em comunicado, o clube paulista afirmou que a casa de apostas era "desconhecida" antes da assinatura do acordo de patrocínio.

"O Corinthians lamenta que o parceiro comercial tenha encerrado o maior acordo de marketing esportivo do Brasil - do qual a empresa se beneficiou a ponto de sair de uma casa de apostas desconhecida para a segunda colocação no setor em apenas cinco meses - sem que houvesse nenhuma conclusão das investigações relacionadas ao intermediário da negociação", afirmou o clube.

Depois de apenas seis meses de vínculo, a Vai de Bet optou pela rescisão do contrato após a polêmica dos pagamentos da intermediária do acordo a uma suposta empresa "laranja". Clube e a empresa têm reunião marcada para esta sexta para debater as tratativas do distrato.

"Vale ressaltar que o Corinthians é o maior interessado em resolver a questão citada. Por isso, não está medindo esforços para que os fatos sejam elucidados, seja por meios próprios, por terceiros ou na colaboração junto às autoridades", informou o clube paulista.

O fim do acordo é uma nova derrota para o presidente Augusto Melo. Responsável por findar uma hegemonia de 16 anos do grupo de Andres Sanchez no poder do clube, ele assumiu a presidência do Corinthians em janeiro após grupos de oposição se unirem em torno de seu nome. O novo mandatário alvinegro assumiu o cargo anunciando a Vai de Bet como nova patrocinadora master do clube. Para isso, a nova diretoria firmou na Justiça um acordo para pagar R$ 40,1 milhões à Pixbet, empresa concorrente e principal parceira do time alvinegro na ocasião, para encerrar o contrato de exclusividade vigente - os valores serão quitados até o início de 2025, sob pena de bloqueio de contas.

A Pixbet, que se juntou ao Corinthians em 2022, ainda na gestão de Duílio Monteiro Alves, apresentou uma proposta de renovação no valor de R$ 75 milhões anuais para ter sua marca estampada no espaço mais nobre da camisa corintiana. Recém-empossado, Augusto Melo rejeitou por entender ter à mesa uma proposta muito mais vantajosa da Vai de Bet. A concorrente ofereceu R$ 360 milhões por três temporadas, com pagamentos de R$ 10 milhões mensais ao longo de 36 meses, se tornando o maior patrocínio da história do futebol nacional.

Criada em 2022, a Vai de Bet é uma das marcas da empresa Betpix NV, holding com registro em Curaçao, ilha holandesa situada no Caribe, onde a operação de casas de aposta são permitidas - no Brasil, a regulamentação das bets foi sancionada em dezembro do ano passado. Outras marcas do grupo são Betpix365, Betpix, Obabet e Pix365, todas estas plataformas de aposta. O nome por trás do investimento no Corinthians é o empresário José André da Rocha Neto, de Campina Grande, na Paraíba.

Segundo o site Transparência.cc, José André da Rocha Neto tem participação em 31 empresas com CNPJ oriundo da Paraíba e São Paulo. Destas, 27 ainda estão ativas, sendo 22 filiais e nove matrizes. A grande maioria atua no ramo imobiliário, sendo a mais recente a Celiforte Construções e Incorporações, e a mais antiga a Torre Forte Construções, ambas de Campina Grande. O capital social dos empreendimentos ligados ao nome do empresário somam aproximadamente R$ 19,2 milhões, e ele possui outros 37 sócios.

"LARANJA"

O contrato do Corinthians com a Vai de Bet, ao qual o Estadão teve acesso, previa o também pagamento de 7% do montante líquido de cada parcela à Rede Media Social Ltda, intermediária do acordo entre as partes. Ou seja, 700 mil por mês ao longo de três anos, resultando em R$ 25,2 milhões ao fim do contrato.

Segundo reportagem publicada na coluna do jornalista Juca Kfouri, no portal UOL, após os pagamentos da comissão, a Rede Social Media Ltda repassou o parte dos valores por meio de PIX à Neoway Soluções Integradas em Serviços Ltda, empresa com endereço na Avenida Paulista que serviria como "laranja", termo popular designado a intermediários de negócio fraudulento. Edna Oliveira dos Santos, mulher residente na cidade de Peruíbe, litoral Sul de São Paulo, teve o nome envolvido no episódio. Há a suspeita de que ela tenha sido usada no caso sem a sua anuência.

Com CNPJ ativo desde janeiro de 2021, a Rede Media Social Ltda possui um capital social declarado de R$ 10 mil e está no nome de Alex Fernando André, mais conhecido como Alex Cassundé, membro da equipe de comunicação do presidente Augusto Melo. Ele trabalhou na campanha do atual presidente a convite de Sergio Moura, superintendente de marketing do Corinthians. Pressionado por não conseguir fechar outros patrocínios para a camisa do clube, Moura pediu afastamento do cargo após a polêmica vir à tona.

O clube notificou a intermediadora extrajudicialmente cobrando explicações sobre o caso e solicitou a EY investigação do contrato para esclarecimentos. O caso é investigado pelo Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania (DPPC). Ao Estadão, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP) limitou-se a afirmar que "diligências estão em andamento visando o esclarecimento dos fatos". O Corinthians confirmou ter recebido a notificação e disse que vai colaborar com as investigações pois afirma ser "o maior interessado em esclarecer os fatos".

O contrato também está sendo analisado pela Comissão de Ética e Justiça do Conselho Deliberativo do Corinthians. O parecer deve sair nos próximos dias e será convocada uma reunião extraordinária para pedir esclarecimentos a respeito do episódio, que motivou a saída de Yun Ki Lee do cargo de diretor jurídico, e de Fernando Perino do cargo de diretor jurídico adjunto. Ligado a Lee, Marcelo Mandel, diretor de relações internacionais, decidiu se afastar do cargo nesta quarta.

O MICO

Além de ter de pagar R$ 40,1 milhões à Pixbet pela quebra de contrato, o Corinthians corre o risco de não receber a multa da Vai de Bet pela rescisão unilateral. O acordo possui uma cláusula anticorrupção na qual as partes se comprometem a cumprir os dispositivos integralmente. Segundo o documento, o contrato prevê que, caso não haja justa causa, a parte interessada na rescisão precisa pagar 10% do valor total restante. Como o clube já recebeu R$ 60 milhões dos R$ 360 mi prometidos, a indenização seria de R$ 30 milhões. Porém, se a empresa entender que houve violação da cláusula, ficaria inibida do pagamento. A formalização do distrato será conversado entre as partes na próxima semana.

Com o fim da parceria, o Flamengo passou a ter o maior patrocínio master do País. O rubro-negro carioca renovou recentemente com a Pixbet, justamente a antiga parceira do time do Parque São Jorge, e conseguiu um aumento no montante a ser recebido alegando os valores pagos da Vai de Bet ao Corinthians. Assim, o vínculo do clube rubro-negro com a marca passou de R$ 85 milhões a R$ 105 milhões, com progressão de montante fixo a partir de 2025.

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