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Pernambuco: entre a megalomania e a identidade cultural

Exageros misturados com fatos históricos marcam dia a dia dos pernambucanos


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Imagem ilustrativa da imagem Pernambuco: entre a megalomania e a identidade cultural
Ponto Turístico localizado na Rua da Aurora, no Centro do Recife, é um símbolo da megalomania pernambucana, que vez por outra é fundamentada em fatos históricos, nas contribuições culturais, políticas e econômicas do estado ao país. |  Foto: Divulgação

Se você for turista, chegar em Pernambuco e começar a ouvir em toda esquina algumas frase do tipo: “este é o maior Carnaval em linha reta”, “O Galo da Madrugada é o maior bloco de rua do mundo” e outras coisas como ‘nunca na história’, "o Brasil nunca vai ser hexa porque somente o Náutico é hexa", não se espante. Nem vá longe, "você não precisa conhecer a Suiça, se tem Gravatá".

A megalomania de Pernambuco, que tem reflexos na economia e na vida social, virou brincadeira, mas é histórica. Pernambuco já foi, literalmente, um país. 

Não há consenso sobre como surgiu, um marco histórico, mas há fatos que ajudaram a criar esse sentimento de identidade. “Alguns tentam colocar, por exemplo, o movimento regionalista de Gilberto Freyre, mas têm muitos elementos históricos, sociais, que juntos vão constituindo (a identidade pernambucana)”, disse o historiador e cientista social Wellington Estima.

“São muitos elementos culturais dentro de um caldeirão, que é o Estado de Pernambuco, que juntos vão criar esse sentimento de identidade, essa identidade de megalomaníaco, que eu acho que é um dos grandes símbolos”.

Os artistas

Para Wellington Estima, o caldeirão que gerou o sentimento de grandeza pernambucano recebeu vários elementos. “Os grandes acontecimentos históricos nos quais Pernambuco foi protagonista, a cena cultural, as produções intelectuais de autores como Gilberto Freyre, o próprio (escritor) Ariano Suassuna, que apesar de ter nascido na Paraíba tem uma grande relevância aqui no nosso estado, a cena musical, com Gonzaga, que cantou Pernambuco também, o próprio Chico Science, o Frevo”, destacou.

A parte engraçada existe, ele ressalta. “Essa semana mesmo eu recebi um aluno que veio do Rio Grande do Sul, e aí você começa a brincar, a ler, a descontrair. E aí você começa a soltar as pernas, porque isso é muito curioso, é muito curioso. A gente tem uma capacidade criativa de dizer coisas que são sensacionais”.

Oceano Atlântico

O historiador lembrou que algumas coisas são puro exagero, como dizer que o Oceano Atlântico nasceu no Recife, na fusão dos rios Beberibe e Capibaribe. Mas não deixa de ser engraçado. “A gente diz que a gente tem a maior avenida em linha reta (do Brasil), a Caxangá, ainda que a gente saiba que não é mais verdade. A gente diz que, da lua, você só consegue ver a muralha da China e a avenida Caxangá. Isso é questionável”, disse, rindo.

Municípios comparados a Países e cidades históricas

“A gente diz, por exemplo, que não precisa conhecer a Suíça, se você tem que Gravatá (cidade do Agreste pernambucano), que não precisa conhecer os Alpes se você tem Triunfo (município do Sertão). Aliás, tem uma cidade na Itália que é até bonita e que ela parece muito com Recife, chama-se Veneza”, afirmou, ainda em tom de descontração. “A gente diz que nossos judeus fundaram Nova Iorque”, acrescentou.

No futebol

“Eu vou pegar um recorte na paixão nacional, no futebol. O torcedor do Sport tem certeza absoluta que ele é rival do Flamengo, que ele é o maior clube do planeta Terra. E, enfim, isso é em questionar. O torcedor do Santa Cruz tem convicção de que é a maior torcida do planeta e também a mais apaixonada do planeta. E o torcedor do Náutico diz que o Brasil jamais vai ser hexa porque só o Náutico é hexa”.

Na política

O historiador cita movimentos políticos de resistência que surgiram no estado, com As ligas Camponesas, as figuras históricas, como o próprio Miguel Arraes, o Francisco Julião. Enfim, de alguma forma, o pernambucano se conecta a esses eventos históricos, esse solo fértil que vai permitir a gente desenvolver isso tudo”.

"A Revolução Pernambucana 17 é o grande movimento republicano com a relevância histórica, política, militar e econômica, ao meu ver, mais importante, por exemplo, do que a Conjuração Mineira. Agente virou uma República durante 75 dias, a gente teve a primeira Constituição Republicana",

Na economia e na política

No contexto colonial, a capitania de Pernambuco, em particular, destacou-se como um centro de atividade econômica e política. O legado histórico da região remonta ao processo de exploração da Cana-de-açúcar, que impulsionou o crescimento econômico e a formação de uma sociedade multicultural. 

De acordo com Wellington, a história de Pernambuco é marcada por uma série de eventos significativos que moldaram não apenas o estado, mas também o país como um todo. Ele cita alguns exemplos marcantes, como o Quilombo dos Palmares e a Guerra dos Mascates, além da Revolução Pernambucana de 1717, considerada um dos primeiros movimentos republicanos do Brasil.

Além disso, destaca episódios como a Confederação do Equador e a Revolução Praieira como resistência e luta por direitos e liberdades individuais em Pernambuco. "Se a gente fizer esse recorte histórico desde a Colônia, chegando no Império, Pernambuco teve um papel, sem sombra de dúvidas, decisivo na construção de muitos eventos políticos, sociais, históricos e militares. A gente costuma dizer, por exemplo, que a Pátria nasceu aqui".

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