Dercy Gonçalves por Grace Gianoukas: Mulheres revolucionárias do palco
A atriz faz homenagem a Dercy Gonçalves em peça na próxima semana e à luta contra a “hipocrisia da sociedade”
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Dolores Gonçalves Costa era muito mais do que a Dercy Gonçalves conhecida por soltar “palavrões” na TV.
“Ela foi muito revolucionária, uma militante ferrenha contra a hipocrisia da sociedade. Não levava desaforo para casa, e isso não era comum entre as mulheres daquela época”, salienta a atriz gaúcha Grace Gianoukas, durante conversa por telefone com o AT2.
Buscando apresentar curiosidades da vida dessa grande estrela, que morreu em 2008, a artista topou o desafio de homenageá-la através do espetáculo “Nasci pra Ser Dercy”, que chega a Vitória no próximo fim de semana.
Na trama, Grace, 59, interpreta a atriz Vera, que vai ao estúdio fazer teste para o papel de Dercy Gonçalves em filme. Mas ela se revolta contra o roteiro, cheio de estereótipos, algo de que a humorista fugia.
“A maior luta de Dercy foi pela liberdade de ser quem ela era. Ela teve uma vida sofrida, de muitas batalhas, mas construiu o espaço dela, e ninguém tirou. É uma mulher para quem faço reverência”, diz Grace.
E a atriz não fica para trás quando o assunto é revolucionar através da arte. Assim como a personagem da peça, ela se revoltou contra roteiros que recebeu. “Já me convidaram para fazer trabalhos e, quando cheguei, o texto estava cheio de preconceitos. Nesses 40 anos de carreira, sempre me levantei para questionar. Nós não podemos ser ridicularizados pelo que somos”, afirma a gaúcha, que diz ter semelhanças com Dercy.
“Somos pioneiras pelas nossas ideias. Sempre batalhamos pelos nossos ideais e tivemos a comédia como uma cura para as pessoas que sofrem diariamente nessa vida. O palco é o meu lugar, e acho que também era o lugar dela de colaboração para um mundo melhor”.
Serviço
“Nasci Para Ser Dercy”
- O quê: Comédia estrelada pela gaúcha Grace Gianoukas. Com direção de Kiko Rieser, a peça integra o 12º Circuito Banestes de Teatro.
- Quando: Próximos dias 23 e 24 de setembro. Sábado às 20h e domingo às 17h.
- Onde: Teatro Universitário da Ufes, em Goiabeiras.
- Ing. (Meia): Térreo a R$ 60 e Mezanino a R$ 25.
- Venda: Site sympla.com.br ou na bilheteria, de terça a sexta-feira, das 14 às 19h.
- Clas.: 16 anos
- Inf.: 2142-5350
Grace Gianoukas atriz, autora e diretora: “Achavam que Dercy estava do meu lado”
AT2: Aceitou de imediato fazer a homenagem a essa estrela do humor brasileiro?
Grace Gianoukas: Não topei na hora, não. Foi um processo de bastante reflexão, por muitos motivos. Primeiro, porque não sou uma imitadora. Sou atriz, interpreto. E, quando fui lendo mais o texto e me aprofundando na história de Dercy, comecei a ver que era uma grande responsabilidade: queria ser o mais fiel possível a ela, ao pensamento dela. É um desafio porque é uma personagem muito viva na cabeça das pessoas.
Mas resolvi aceitar esse desafio, e acho que deu certo, pois, quando nos apresentamos no Rio, várias pessoas que conheceram a Dercy ficaram impressionadas, achavam que a Dercy estava do meu lado. (Risos) Tive um alívio, uma confirmação de que estava tudo bem quando a filha dela, Decimar, e outros parentes foram assistir e se emocionaram muito. Eles viram a Dercy ali. Estudei muito movimentos, sutilezas do comportamento de Dercy.
Sempre soube que nasceu para ser Dercy nos palcos?
Nunca! Quem nasceu para ser Dercy foi Dolores Gonçalves Costa. Eu nasci para ser atriz, para ser a Grace Gianoukas e interpretar Dercy Gonçalves. (Risos)
O que mais te encanta nela?
Sou uma pessoa que luta pela liberdade, pelos espaços, para que as pessoas possam ser o que são, assim como ela. Eu também não tinha quem fizesse por mim, e eu ia lá e inventava.
O riso é a maior ferramenta que tenho para levar ao palco assuntos delicados, que as pessoas têm medo de tocar.
Como se preparou?
Quando fui convidada, o diretor Kiko Rieser já havia mergulhado por meses na vida dela, lendo livros, entrevistas, matérias. Tive 25 dias para botar o espetáculo no palco. Assisti às entrevista de Dercy, porque eu precisava muito descobrir a Dolores fora da persona Dercy, que era quase como um escudo protetor de tudo que ela sofreu. Nas entrevistas, quando fala de temas delicados, ela mexe no colar, na roupa, desamassa o vestido…
Qual foi o maior desafio desse espetáculo?
Cantar. Canto duas músicas. Já fiz alguns espetáculos com música, mas nunca cantei sozinha. Como a Dercy cantava muito bem, tive que me dedicar muito. Foi um desafio fascinante!
Considera-se desbocada?
Eu falo palavrão. Agora que estou quase fazendo 60 anos e tenho 40 de carreira, não tenho mais nada para provar pra ninguém, e não me importo com o que as pessoas pensam de mim. Se tenho que falar palavrão, eu falo!
Espera viver tanto quanto ela, que morreu aos 101 anos?
Acho que não consigo chegar lá. A gente tem uma vida mais estressante. Como atriz, estou sempre lutando demais. Às vezes, trabalho com quatro coisas ao mesmo tempo. Seria bom chegar a essa idade, mas a única coisa que não quero é dar trabalho para os outros.
Dercy assumia que fazia plásticas. Você fez alguma?
Nunca pensei. Não estou com dinheiro sobrando para isso. Tem muita coisa para focar. (Risos) Fiz, uma única vez, um pouquinho de botox na testa para tirar marca de expressão. Sou toda natural, e não tenho tempo para isso. Há dias que nem me olho no espelho. Acordo e já saio correndo. (Risos).
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