Anitta diz não se importar mais com sucesso e evitar política para cuidar da saúde
Em entrevista, cantora ainda rebateu críticas que recebe de haters
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Era 2013 quando Anitta lançou "Zen", em que canta sobre estar de bem com a vida por causa de quem amava. Mais de uma década se passou, e agora, mais apaixonada por si mesma do que por alguém, a serenidade daquela música nunca fez tanto sentido.
Em 40 minutos de entrevista, Anitta reitera como renovou sua paz de espírito após problemas graves de saúde, num processo que ela diz tê-la levado a parar de se preocupar se vai bombar ou não —seja no Brasil, onde ouve críticas por se ausentar demais, seja no mercado estrangeiro, onde tenta penetrar.
"Já fiz de tudo. Desde que atingi o que queria na minha carreira e vida financeira, decidi que só trabalharia por amor. Já estive no top um, no top dez, no top 50, do Brasil, do México, da Itália, da França e do mundo. Não preciso provar nada para ninguém", diz ela, que percorre o país com sua turnê de Carnaval, "Ensaios da Anitta".
É com o clima espirituoso que ela prepara seu próximo disco, "Funk Generation", a ser lançado neste ano, com músicas de funk em espanhol e inglês, em mais uma tentativa de estrelato internacional. "Não estou fazendo o álbum pensando ‘essa música vai bombar em tal lugar’. Quem amar amou, quem não amar espera o próximo", diz. "Não podemos se preocupar só em fazer dinheiro e ficar famosa. Todo mundo está adoecendo por isso."
Anitta deu uma prévia do novo álbum no ano passado, quando lançou três músicas, entre elas "Funk Rave", cujo clipe, cheio de homens com torsos suados à mostra, gerou polêmica por cenas em que ela simula um sexo oral.
O vídeo foi gravado na favela Tijuquinha, no Rio de Janeiro. Este mês, a cantora lançou um vídeo dançando seu novo single, "Joga pra Lua", na Rocinha. Em 2017, ela foi ao Morro do Vidigal para o clipe de "Vai Malandra".
Com isso, foi acusada por parte do público de usar a cultura e os símbolos da favela só quando convém, como se quisesse construir uma imagem de ex-pobre que não abandona as origens. Anitta, que hoje mora nos Estados Unidos, nasceu em Honório Gurgel, bairro da periferia da capital fluminense.
"Quem diz isso nasceu ontem, e não há 14 anos, quando minha carreira começou. Eu surgi cantando na favela e na Furacão 2000. Só estou fazendo o que sempre fiz. As pessoas estão com uma memória muito curta", ela rebate.
Apesar de ter dificuldade para emplacar hits nos Estados Unidos, Anitta estabeleceu seu nome no país. Após "Envolver" ter figurado como a música mais ouvida do mundo no Spotify —ainda que mais de 60% dos plays que a levaram até o topo tenham vindo do Brasil, segundo levantamento do DeltaFolha—, ela enfileirou uma série de conquistas no mercado americano nos últimos dois anos.
Foi a primeira artista brasileira a cantar funk e vencer sozinha um troféu do Video Music Awards, o VMA, uma das premiações mais populares do país. Em paralelo, virou figurinha carimbada do Met Gala, um dos eventos prestigioso de moda mais prestigiosos do mundo, e ganhou indicação a uma das categorias principais do Grammy, o maior prêmio da música, após quase 50 anos sem brasileiros entre os indicados.
Por outro lado, ainda não dá para afirmar que ela estourou nos Estados Unidos. "Envolver", por exemplo, não foi além da 70ª posição das mais tocadas da Billboard, a principal parada do país. "Boys Don’t Cry", sua principal aposta em inglês, não apareceu nem entre as 200 mais ouvidas do Spotify americano. Ela também foi esnobada pelo Grammy, que laureou a jazzista Samara Joy, na categoria de artista revelação.
São as consequências de precisar dividir sua atenção, afirma a cantora, que dedica 70% de seu tempo à carreira internacional. "Eu sabia que precisaria trabalhar sem a pressão de ter resultados de forma rápida, megalomaníaca, imensa, fenomenal."
No Brasil, no entanto, ela diz que nada mudou. A artista, que arrasta multidões no Brasil, vem rodando o país desde o início do mês com shows de cerca de cinco horas, com convidados. Cada show homenageia uma escola de samba. As apresentações em São Paulo acontecem nesta quarta-feira (25), com ingressos ainda à venda, e no dia 4 de fevereiro, com tíquetes esgotados.
Os shows são animados, abarrotados de gente bebendo, entoando suas músicas e rebolando até o chão. Mas o clima pesou em Brasília no último dia 13, quando Anitta ouviu vaias do público depois que seu DJ anunciou que o cantor Naldo Benny subiria ao palco. "Vocês não sabem como é ouvir 42 mil pessoas vaiando. Quem quiser faz barulho, quem não quiser faz silêncio", ela disse ao público na ocasião.
Naldo enfureceu os fãs da cantora quando sugeriu que abriu portas para ela no funk. "Fico grata aos meus fãs por me defenderem, mas me sinto mal com linchamento", Anitta diz ao ser questionada sobre o impasse. "Não estou tão online para saber as fofocas. Tenho estado bem desconectada das redes desde que fiquei doente."
Anitta ficou cinco meses afastada do trabalho no final de 2022, com uma suspeita de câncer, tumor no pulmão e bexiga comprometida. Crente de que estava prestes a morrer, ela começou a escrever seu testamento. A cantora afirma ter melhorado, graças ao tratamento médico e a um retiro espiritual que fez com a xamã Max Továr, isolada num sítio de Minas Gerais.
É às doenças, aliás, que Anitta atribui o fato de ter se afastado bruscamente do debate político que rachou o país no meio naquele ano. Apoiadora de Lula à época, a cantora se vendeu como garota propaganda do PT ao publicar uma montagem que colava a estrela do partido a um collant vermelho que vestia.
"Fiquei no hospital por um tempo e parei de me ligar não só em política, mas na minha carreira também. Deixei de gravar, de lançar, de fazer entrevista, de sair, de fazer show, de tudo", diz ela.
Mesmo tendo feito lives no Instagram para aprender sobre política, Anitta diz não se sentir versada o suficiente no assunto para comentar o primeiro ano do novo governo de Lula. Mas o faz mesmo assim, e afirma que falta às autoridades dar mais atenção para os povos indígenas e para a Amazônia.
É uma resposta rápida, mas não tanto quanto ao que havia dito ao responder à pergunta que veio antes. "Eu gostaria de não falar sobre este assunto", ela afirma duas vezes ao ouvir o nome da cantora Ludmilla, anunciada como atração do festival americano Coachella, do qual Anitta participou com Pabllo Vittar em 2022.
Seja por medo de requentar a rixa, que envolve um desacordo sobre a autoria da música "Onda Diferente", seja por ainda nutrir algum desafeto, a cantora se cala diante de uma nova representante do Brasil num palco de tamanha repercussão.
Anitta é daquelas que logo fica de saco cheio das coisas —da casa onde mora, do tipo de música que lança, do fã que a perturba nas redes sociais e até da própria carreira, se cai na mesmice. É por isso que passa a maior parte do seu tempo entre Miami e Los Angeles, planejando os próximos passos com engravatados da indústria da música ou se divertindo com artistas de quem sempre foi fã. Mas casa mesmo, ela garante, não há outra como o Brasil.
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