Marcos Veras em espetáculo mais corajoso da carreira
Em “Vocês Foram Maravilhosos”, que chega a Vitória no fim de semana, o ator abre o coração e fala de perdas e família
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É preciso ter coragem para subir ao palco e expor questões tão íntimas. Em “Vocês Foram Maravilhosos”, que chega a Vitória neste fim de semana, o ator e humorista Marcos Veras, de 44 anos, mostra ter isso de sobra ao dividir com a plateia, numa grande “terapia coletiva”, as perdas que marcaram a sua vida.
Entre os assuntos tratados em seu 3º solo da carreira estão a morte do pai, José Arteiro, em 2008, aos 58 anos, e da irmã, Jaqueline, de 33, que morreu nove meses depois, vítima de aneurisma. “Estou abrindo meu coração. É o espetáculo mais corajoso da minha carreira”, garantiu ao jornal A Tribuna, por telefone.
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Mas não foi tão simples levar esses temas ao palco, mesmo que eles sejam tratados de forma leve e bem-humorada. Além do tempo, foi preciso muita terapia.
“Fui entendendo que essa é uma forma de homenageá-los. De trazer não só para mim, mas para o público, uma naturalidade de algo que todos nós vamos passar: a morte, seja a nossa ou a de um ente querido”, explica o carioca.
Marcos ainda promete divertir o público com curiosidades sobre pessoas importantes para sua carreira, como Jô Soares e Fátima Bernardes, perrengues da vida de artista e paternidade. Ele é pai de Davi, 4, fruto da relação com a atriz Rosanne Mulholland, 43.
“Num espetáculo que fala de vida, ele não podia ficar de fora. Ser pai do Davi é o meu melhor papel! É o que me faz acordar todos os dias e seguir. A chegada dele foi renovadora, significativa, e tento estar próximo em todas as fases. Sou um papai babão, apaixonado”.
Ao fim do espetáculo, Marcos ainda chama uma pessoa da plateia para uma sessão de terapia descontraída. “As pessoas se abrem, deitadas num divã. Tudo é feito com muito respeito, leveza e escuta. Teve um rapaz autista de 20 anos que compartilhou a perda do pai para a covid, e um senhor de 50 anos que já sofreu um infarto e o maior medo dele era infartar novamente”.
Para o ator, essa parte da atração é uma forma de reconhecer a importância da terapia na sua vida.
“É algo que continuo fazendo e que faz grande diferença na vida de qualquer pessoa. Tem gente que ainda tem resistência, que não sabe como funciona e tem preconceito, e acho que a peça pode até colaborar para quebrar esse estigma de que terapia é algo para poucas pessoas ou para pessoas com problemas muito sérios”, salienta.
Serviço
“Vocês Foram Maravilhosos”
O quê: Comédia com Marcos Veras (RJ).
Quando: Sábado (28), às 20h, e domingo (29), às 17h.
Onde: No Sesc Glória, centro de Vitória.
Ingressos: A partir de R$ 19,80 (Balcão Fileira E a K/1º lote/meia).
Venda: Site lebillet.com.br.
Classificação: 14 anos.
Marcos Veras, ator e humorista: "Comédia é cartão de visitas"
A Tribuna - Como se deu sua relação com o humor?
Marcos Veras - "Sempre fui fã de programa de humor. Na adolescência, fui o cara que gostava das comédias, acompanhei Chico Anysio, Jô Soares, “Os Normais”. Quando fiz escola de teatro, a comédia se apresentou para mim de forma presente, forte.
No decorrer da carreira, tive a oportunidade de fazer outras coisas, de experimentar o drama, de apresentar programas, então acho que minha carreira é muito múltipla e gosto que ela seja assim. Recentemente, fiz meu primeiro musical, então estou sempre buscando novos desafios. Mas comédia é meu cartão de visitas, até porque é o gênero preferido do brasileiro."
Por que o título de “Vocês Foram Maravilhosos”?
"Esse nome tem vários significados para mim. Ficou na minha cabeça ao assistir shows de amigos que fazem stand-up. Uma grande maioria, no final, fala: “Muito obrigado pela noite, vocês foram maravilhosos”. Pensei: “Isso é titulo de peça”.
Durante a pandemia, comecei a escrever coisas e a resgatar textos antigos que havia escrito e fui juntando. Quando vi, estava fazendo uma peça sobre pessoas. Sejam pessoas da televisão brasileira, que foram minhas parceiras, ou pessoas da minha família. “Vocês Foram Maravilhosos” são todas essas pessoas que estiveram e que estão comigo até hoje, e o público também."
Nessa peça você fala sobre perdas. De que forma as partidas do seu pai e da sua irmã transformaram sua vida?
"Tento ver a vida da forma mais otimista possível. Sei que não é fácil, por conta das notícias ruins, da rotina. Tudo isso te engole e te dá choques de realidade."
Como surgiu o quadro “Terapia Coletiva”, quando chama alguém da plateia ao palco?
"Acho que o fato de eu estar me abrindo em cena, em algum momento passou pela minha cabeça dar a oportunidade de alguém que quisesse se abrir também.
As pessoas querem ser ouvidas. Todo mundo tem suas dores, medos. E, às vezes, não têm oportunidade de falar disso, com família, amigos... O teatro é um momento de escape, de leveza, e aí pensei, “já que estou me abrindo, por que não dar oportunidade para outra pessoa se abrir também?”."
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