Lilian Bacich: “Há maneiras de desenvolver habilidades dos estudantes”
A abordagem Steam pode ser colocada em ação nas escolas para propor soluções para problemas do cotidiano, diz especialista
Metodologias ativas e a abordagem Steam – sigla em inglês que reúne Ciências, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática – deixaram de ser tendência para se tornar parte essencial do currículo escolar.
Lilian Bacich, doutora em Educação e pesquisadora na área, aponta como projetos desenvolvidos nas escolas já estão transformando comunidades pelo País. “Há várias maneiras de desenvolver habilidades dos estudantes”, disse.
Como forma de reconhecer boas iniciativas de profissionais de escolas públicas municipais, estaduais e federais no Espírito Santo, a Rede Tribuna, em parceria com a ArcelorMittal, realiza o Prêmio Conhecer Steam. Os vencedores serão conhecidos em uma cerimônia que acontece nesta sexta-feira (19).
A Tribuna: Qual o papel das metodologias ativas no início de um novo ano letivo?
Lilian Bacich: Metodologias ativas não são necessárias apenas para engajar alunos. Elas são uma premissa para desenvolver o currículo da educação básica.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) tem, na sua essência, a construção do conhecimento por meio do desenvolvimento de habilidades. E isso não acontece apenas com aulas transmissivas, em que o professor fala durante 50 minutos. O conteúdo pode até ser exposto em alguns momentos, mas o estudante precisa fazer algo com esse conhecimento. Há maneiras de desenvolver habilidades dos estudantes. Isso exige ação e metodologias ativas.
Ainda existe a ideia de que metodologias ativas são projetos isolados. Isso é um erro?
Sim. Muitas vezes se pensa em um projeto separado, como algo extra, mas ele deveria ser a parte central do currículo.
Não precisa ser nada mirabolante, mas precisa ser efetivo dentro do que se busca. Podem ser atividades feitas em sala de aula, como entrevistar colegas ou familiares.
Como o Steam se conecta às metodologias ativas?
A abordagem Steam não é uma metodologia. Não existe um jeito só de fazer Steam. Ela parte da integração entre áreas do conhecimento – Ciência, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática – e pode ser desenvolvida por meio de diferentes metodologias, de acordo com a faixa etária.
Como colocar o Steam em ação nas escolas?
Usando abordagem para propor soluções para problemas do cotidiano. O aluno não necessariamente vai resolver o problema por completo, mas vai refletir, propor ideias e pensar alternativas. Pode ser uma campanha de conscientização, a criação de um artefato ou um protótipo.
O protótipo é necessário?
Na abordagem Steam, o grande diferencial é justamente o protótipo. Sem ele, é apenas um projeto.
O protótipo pode ser algo simples, como um totem de conscientização, mas precisa materializar a ideia e provocar reflexão sobre um problema real da comunidade.
Pode citar exemplos de projetos que se destacaram?
Um projeto premiado nacionalmente utilizou o solo da região para produzir tintas sustentáveis e pintar os muros da escola, em Minas Gerais. Os alunos criaram, testaram e aplicaram o protótipo.
Outro exemplo, no Nordeste, foi o desenvolvimento de um filtro para reaproveitar águas e irrigar a horta da escola.
Os projetos nem sempre envolvem tecnologia avançada?
Não. Tecnologia não é só robô ou equipamento sofisticado. Tecnologia é tudo aquilo que ajuda a resolver problemas das pessoas. Às vezes, soluções simples têm um impacto enorme.
Essas iniciativas podem transformar a comunidade?
Sim, e isso acontece de fato. Há projetos desenvolvidos que resultaram em mudanças reais. Um exemplo é o de uma área ao lado de uma escola que antes era um lixão. Após um projeto escolar, os vereadores e o prefeito colocaram em prática o projeto dos estudantes em transformar o local em um espaço de convivência. Três anos depois, ele está lá.
Esse é um caminho para uma educação mais transformadora?
Com certeza. É realmente aquela visão que o Paulo Freire sempre provocou, para que a gente pensasse a educação como uma mobilização para emancipação daqueles estudantes, para transformação de uma sociedade, com resultados práticos e possíveis de acontecerem. A educação não se fecha nos muros da escola. Ela se conecta com o entorno.
Quem é Lilian Bacich
É doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano, mestre em Educação, bióloga e pedagoga.
Com experiência na área de Educação, atuou por 28 anos na educação básica, na graduação e na pós-graduação.
Também trabalhou como organizadora dos livros “Psicopedagogia: teorias da aprendizagem”; “Ensino Híbrido: personalização e tecnologia na educação” e “Metodologias ativas para uma educação inovadora e Steam em sala de aula”.
Prêmio Conhecer Steam 2025
Em sua 1ª edição, o prêmio tem o objetivo de promover e valorizar a educação por meio da abordagem Steam – que integra Ciências, Tecnologia, Engenharia, Artes e Matemática – em escolas públicas municipais, estaduais e federais no Espírito Santo.
Em uma parceria da Rede Tribuna com a ArcelorMittal, o tema deste ano é “Construir a Minha Comunidade”, voltado para que profissionais apresentem projetos pedagógicos que estimulem nos estudantes o pensamento crítico, a criatividade e a responsabilidade em relação ao entorno em que vivem.
Seleção
Para garantir diversidade de perspectivas no processo de seleção, uma banca avaliadora foi formada por 10 profissionais da área da educação. Dos projetos inscritos, 71 foram selecionados como finalistas.
Divulgação
Nesta sexta-feira (19), serão conhecidos os projetos vencedores durante uma cerimônia especial, que será exibida pelos veículos da Rede Tribuna.
Premiação
Três melhores projetos receberão incentivo em forma de premiação:
1º lugar - R$ 5 mil.
2º lugar - R$ 3 mil.
3º lugar - R$ 2 mil.
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