Vencedora do prêmio Nobel, Esther Duflo defende taxar bilionários
Economista, que faturou o prêmio de 2019, diz que essa é uma forma de os países ricos pagarem a dívida moral com os mais pobres
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A combinação de uma alíquota maior do imposto mínimo sobre multinacionais a um novo imposto internacional sobre bilionários poderia, facilmente, arrecadar o valor para países ricos pagarem a “dívida moral” que têm com os mais pobres, devido ao efeito de suas emissões nas mudanças climáticas e o impacto majorado delas sobre populações vulneráveis.
Essa é a proposta que a economista francesa Esther Duflo, vencedora do Nobel de Economia de 2019, levou a um jantar com ministros das Finanças e presidentes de bancos centrais do G20 nesta quarta-feira (17) em Washington, nos Estados Unidos, a convite do Brasil, que está na liderança rotativa do grupo.
As informações são do jornal Valor. A partir de dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, do Global Impact Lab e das estimativas feitas pela economista Tamma Carleton (Universidade da Califórnia) e colegas, Duflo calcula que a Europa e os Estados Unidos causam, devido a suas emissões, US$ 518 bilhões de danos todos os anos a países de renda baixa e média só em vidas perdidas.
“Quanto mais rica uma pessoa é, mais ela consome, e esse consumo gera emissões, mas não necessariamente no local onde ela mora”, observa Duflo no estudo.
Negociações globais indicam que países mais ricos e influentes não concordarão com contribuições obrigatórias, alocando suas receitas em outras nações, reconhece a economista. Por outro lado, diz, progressos têm sido feitos no sentido de maior colaboração na taxação internacional.
Duflo cita o Observatório Fiscal da União Europeia - dirigido pelo economista francês Gabriel Zucman, que também foi convidado a falar ao G20 neste ano -, segundo o qual um imposto de 2% sobre cerca de 3 mil das pessoas mais ricas do mundo arrecadaria mais de US$ 200 bilhões ao ano.
“Refutar taxação mínima justa não pega bem para bilionários”.
A ideia de Duflo é que essas duas novas taxas, juntas, angariariam anualmente quase todo o valor que os EUA e a Europa “devem” aos cidadãos de nações mais pobres no mundo.
Brasil tenta construir consenso
A proposta do Brasil de tributar os super-ricos ganhou impulso nesta quarta-feira (17), com o ministro das Finanças da França e a chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI) apoiando um esforço coordenado para gerar novas receitas e construir um futuro comum melhor.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o Brasil, atual presidente do G20, está mirando construir um consenso internacional sobre a tributação da riqueza este ano e trabalhará por uma declaração conjunta em uma reunião de ministros da Fazenda e presidentes de bancos centrais do G20 em julho.
“A declaração do G20 que vamos propor visa apoiar politicamente as iniciativas”, disse, em um evento durante as reuniões de primavera do FMI e do Banco Mundial, ressaltando a importância de obter o apoio das maiores economias.
Sua contraparte francesa, Bruno le Maire, que já havia expressado apoio à proposta brasileira, disse no mesmo evento que tributar os mais ricos é o próximo passo lógico para uma série de reformas tributárias globais lançadas em 2017, incluindo um acordo sobre um imposto corporativo mínimo global.
O francês disse que o G20 deveria ter como objetivo chegar a um acordo sobre a tributação dos ricos até 2027.
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