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Economia

Professores têm IR maior que milionários

Quem ganha acima de R$ 2,1 milhões por ano paga em média 5,5% de Imposto de Renda, menos que médicos e policiais, revela estudo


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Imagem ilustrativa da imagem Professores têm IR maior que milionários
Aplicativo da Receita Federal: tributação na remuneração normal e sobre lucros e dividendos são diferentes |  Foto: Marcello Casal/Agência Brasil

Milionários pagam alíquotas menores de Imposto de Renda (IR) do que professores, médicos e policiais, mostra estudo do Sindifisco Nacional, sindicato que representa os auditores-fiscais da Receita Federal, a partir de dados do Imposto de Renda Pessoa Física de 2022, que leva em conta os lançamentos do ano anterior. 

O estudo do Sindifisco  mostrou que contribuintes que declararam ganhos totais acima de 160 salários mínimos (R$ 2,1 milhões no ano, ou R$ 176 mil por mês) pagaram, em média, menos de 5,5% de Imposto de Renda.

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É uma taxa menor, por exemplo, do que pagaram professores de ensino fundamental (8,1%), enfermeiros (8,8%), bancários (8,6%) ou assistentes sociais (8,8%) – profissionais que, na média, declararam rendimentos totais abaixo de R$ 94 mil naquele ano (menos de R$ 8 mil ao mês).

O Sindicato dos Professores no Espírito Santo (Sinpro/ES) afirma que tem conhecimento da ação e luta por uma lei para diminuir o valor do imposto. “Temos conhecimento deste dado e não achamos justo essa condição”.

Atualmente, na rede privada do Espírito Santo, são cerca de 15 mil profissionais em exercício. “Diretamente afetados por essa norma. Acreditamos que a luta em defesa de melhores condições de trabalho para as professoras e professores é algo contínuo”, concluiu o Sindicato.

Sandro Câmara, advogado especialista em Direito Público, explica porque essa diferença acontece e se, aos olhos da lei, ela é legal. 

“Essa discrepância é permitida por lei. Enquanto o assalariado da classe média paga o imposto sobre os seus rendimentos, que pode alcançar até 27,5% dos rendimentos, empresários e profissionais liberais não são tributados em relação aos lucros e dividendos recebidos de suas empresas”, destaca. 

Câmara explica que a legislação não prevê a incidência de IR sobre tais recebimentos. No entanto, depois de 30 anos de discussão, a Câmara dos Deputados aprovou a primeira fase da reforma tributária, que reformula a tributação sobre o consumo. O texto segue para o Senado e, se passar, vai taxar grandes fortunas.

Hemerson Barrada Maia, advogado especialista em Direito Tributário explica o que deve acontecer. “Até então o projeto prevê o reajuste da tabela para 30% de alíquota máxima, ou seja,  30% para salários acima de R$ 39 mil. Mas ainda precisa ser confirmado pelo Senado”, diz.


Medida sobre taxação da alta renda

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Hemerson Maia: compensação |  Foto: © Divulgação

O presidente Lula (PT)  sancionou ontem uma medida provisória que muda a tributação de fundos fechados, que são exclusivos para alta renda. O que isso significa? É o mesmo que taxar grandes fortunas? 

Hemerson Barrada Maia, especialista em direito previdenciário explica que não diretamente. “O que a medida provisória pretende é compensar a reciclagem –  renúncia de receita – obtida com a ampliação da faixa de isenção do IR”, diz. 

Segundo ele, a tributação no Brasil está concentrada no consumo e não na renda. “Hoje, que tem altos ganhos, na maioria dos casos, faz retiradas via pessoa jurídica e consequente distribuição de lucros, por isso a tributação é menor.” 

Maia detalha o que isso quer dizer na prática. “A classe média, por exemplo, em sua maioria está ligada a vínculos de emprego celetista ou cargos públicos em que o Imposto de Renda é retido na fonte, com alíquotas variando de 7,5 a 27,5%”, conta. 

Ele, que é advogado, ao declarar o Imposto, fatura os clientes pelo CNPJ do escritório, a uma alíquota global que começa em 4,5%. “Se fosse na pessoa física, seria 27,5% apenas de IR”, afirma.


Mudanças na forma de tributação

Bancários pagam mais

Contribuintes milionários pagam no Brasil alíquotas menores de imposto de renda do que profissionais de renda média e alta.

Pessoas com ganhos totais acima de 160 salários mínimos (R$ 2,1 milhões no ano, ou R$ 176 mil por mês) pagaram, em média, uma alíquota efetiva de Imposto de Renda (IR) de menos de 5,5%.

É uma taxa menor, por exemplo, do que pagaram professores de ensino fundamental (8,1%), enfermeiros (8,8%), bancários (8,6%) ou assistentes sociais (8,8%).

Profissionais que ganham, em média, menos de R$ 8 mil ao mês.

A alíquota também é menor do que a dos policiais militares (8,9%), cuja renda média total em 2021 ficou em R$ 105 mil (R$ 8.750 ao mês). Ou do que a de médicos (9,4%), que declararam em média renda total de R$ 415 mil (R$ 34,6 mil ao mês).

Fundo dos super-ricos 

Prevê a cobrança de 15% a 22,5% sobre rendimentos de fundos exclusivos, também conhecidos como fundos dos ‘super-ricos’.

A medida tributa o capital de residentes brasileiros aplicado em offshores, como aplicações e bens no exterior. 

A cobrança será realizada duas vezes ao ano como ‘come-cotas’, diferentemente do modelo atual, em que a tributação é realizada somente no resgate.

Fonte: Especialistas citados na matéria.


Mudança para fortunas é mudança mundial e saída

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Morris Pearl tenta há anos mudar o entendimento válido nos EUA |  Foto: © Divulgação

Com o avanço da reforma tributária, especialistas revelam que não tem saída, taxar grandes fortunas é uma tendência mundial. Seja no Brasil, nos países das América  ou na Europa, o desafio é mesmo, equilibrar as contribuições entre os mais ricos e os mais pobres. 

A presidente Nacional do PT, Gleisi Hoffmann, falou sobre a importância da votação do projeto para avançar em direção à segunda parte do projeto, a taxação dos chamados super-ricos. “É um processo fundamental para o crescimento do País e a geração de emprego e renda”, disse. 

Alessandra Pizzol, economista, alerta que o desequilíbrio é disfuncional. “Isso ocorre, em boa parte, porque os salários são mais tributados que aplicações financeiras, não podemos dizer que é justo”, afirmou.

Ex-diretor de um dos maiores fundos de investimentos do mundo, o BlackRock, Morris Pearl, tenta há quase dez anos mudar o entendimento nos EUA. “Quem já é rico, tende a ficar mais rico com o tempo. Enquanto todos os outros estão apenas lutando para permanecerem iguais”, criticou.

Ele articula ao lado do presidente dos EUA, Joe Biden, a taxação de grandes fortunas.


Análise

“Precisamos de uma redução da carga tributária no País”

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Marcel Lima, Conselheiro do Comitê Qualificado de Conteúdo de Finanças do IBEF-ES |  Foto: Arquivo/AT

“Parte importante da renda da parcela mais rica da população é proveniente da distribuição dos lucros das empresas (os dividendos), que hoje são isentos de imposto de renda no Brasil.

Por outro lado, boa parte dos profissionais com renda média e alta paga imposto na fonte sobre os salários recebidos com alíquota máxima de 27,5%. 

Essa diferença naturalmente contribui para uma menor alíquota média sobre a renda dos mais ricos. 

Entretanto, se formos considerar os impostos pagos pelas empresas brasileiras sobre os lucros (antes da distribuição dos dividendos), chegamos a uma alíquota na casa dos 34% (que indiretamente já é paga pelos acionistas).

Muito mais do que discutir as alíquotas sobre determinadas fontes, precisamos de uma redução em toda a carga tributária no País.”

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