Produtores do ES investem para lucrar com a nova onda do café
Preço do conilon, por exemplo, subiu de R$ 386 a saca para mais de R$ 1.400 em pouco mais de três anos, levando cafeicultores a investirem para melhor
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O café do Espírito Santo tem batido recordes no mercado internacional, tanto em volume de exportação quanto no preço. O principal destaque é o conilon, que superou a celulose e se tornou o produto campeão em exportações do agronegócio capixaba.
Dados da Secretaria da Agricultura, Abastecimento, Aquicultura e Pesca (Seag) apontam que, de janeiro a setembro, foram exportadas cerca de 5,9 milhões de sacas de conilon, sendo 5,5 de conilon cru em grãos e 382,4 mil sacas de equivalente de solúvel, com receita de US$ 1,1 bilhão. No mesmo período de 2023, foram vendidas ao exterior cerca de 2,1 milhões de sacas do produto.
A maior demanda global pelo conilon capixaba é explicada principalmente por fatores climáticos e logísticos na Ásia. Isso, somado à melhora na qualidade do café produzido no Estado, tornou o produto mais competitivo lá fora e, consequentemente, mais valorizado.
Para se ter uma ideia, no início de 2021, a saca de 60 kg do conilon era comercializada a R$ 386, segundo dados do Centro do Comércio de Café de Vitória (CCCV). Na última semana, o produto fechou em R$ 1.428 a saca, chegando a custar R$ 1.493 no fim de setembro.
A valorização do conilon no exterior é comemorada por todos que vivem do café no Espírito Santo. Segundo o gerente de comercialização da Cooperativa Agrária dos Cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel), José Carlos de Azevedo, a expectativa de crescimento do faturamento da cooperativa para este ano é de cerca de 30%.
“O recorde no preço do conilon tem trazido maior rentabilidade para os produtores, em percentuais que podem variar em cada propriedade, por envolver fatores como gestão de recursos e produtividade”.
Quem tem sido beneficiado por esse cenário de alta no preço do grão é o produtor rural Ademir Degasperi, 67 anos. Ele conta que a produção do conilon é o carro-chefe de sua propriedade, de 240 hectares, localizada na região de Roda D’água, em Cariacica.
Na última safra, Ademir produziu 800 sacas, mas, segundo ele, há capacidade para mais. Com o aumento dos lucros, ele espera conseguir melhorar a produtividade.
“Tenho feito melhorias na irrigação e pretendo melhorar os equipamentos. Vale a pena o investimento porque não tem produto melhor para cultivar”, afirmou.
Evolução do preço do conilon
04/01/21 - R$ 386
03/01/22 - R$ 791
30/12/22 - R$ 652
29/12/23 - R$ 740
26/09/24 - R$ 1.493
08/11/24 - R$ 1.428
Fonte: Centro do Comércio de Café de Vitória
O que favoreceu o recorde de exportação do café capixaba?
O sucesso do café capixaba no exterior pode ser explicado basicamente por uma junção de fatores internacionais com uma melhora da qualidade do café conilon produzido no Espírito Santo.
Vietnã e Indonésia, dois dos principais produtores mundiais de conilon, sofreram com uma grande estiagem, o que prejudicou a safra nesses países.
Além disso, a intensificação dos conflitos entre Israel e o Hamas afetou o tráfego no Canal de Suez, em razão de ataques a navios no Mar Vermelho. Isso fez com que esses países optassem por contornar o Cabo da Boa Esperança, tornando o frete mais caro e demorado.
Outro fator que favoreceu a exportação do conilon do Espírito Santo — responsável por 70% da produção nacional — foi o fato de agricultores do Vietnã priorizarem o cultivo de uma iguaria conhecida por ter o pior cheiro do mundo: o durian, também chamado “fruta-cadáver”, sucesso no mercado chinês.
Fonte: especialistas consultados
Crescimento ainda maior para 2025
Os recordes obtidos pelo setor cafeeiro do Espírito Santo no mercado internacional ocorrem, paradoxalmente, em meio a um cenário climático desfavorável para a produção do café, em função da longa estiagem que atingiu grande parte do Estado e do País.
De acordo com o secretário estadual de Agricultura, Enio Bergoli, o principal fator que prejudicou as lavouras foram as altas temperaturas registradas entre o final de 2023 e início de 2024. “Foram 6 graus acima da média esperada. Isso prejudicou o metabolismo dos grãos, tornando-os menores”.
No entanto, produtores e especialistas estão otimistas de que o clima favorecerá a próxima safra, e projetam um 2025 com um desempenho mercadológico ainda melhor. O presidente do Sindicato dos Corretores de Café do Estado, Marcus Magalhães, afirma que os preços e a demanda pelo café capixaba no exterior deverão continuar altos.
“Vivemos um ano atípico, com uma grande frustração por causa de problemas climáticos. Poderia ter sido um ano ímpar se não houvesse essa quebra de safra. Mas há uma perspectiva muito interessante para 2025”.
“Embora tenhamos tido frustração na safra, a renda de muitos produtores permanece alta. É um bom momento para se renovar lavouras e melhorar equipamentos e técnicas de irrigação e fertilização”, completou Enio Bergoli.
O presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Márcio Ferreira, destacou também a perspectiva de melhora na logística do Estado, com o início das operações do Porto de Imetame, em Aracruz. “Isso certamente vai favorecer a exportação de café diretamente do Estado aos mercados consumidores”.
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