Número de mulheres que trabalham como portuárias aumenta no ES
Houve aumento de 700% do número de mulheres que atuam como portuárias avulsas desde 2010
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O trabalho nos portos é historicamente caracterizado pela mão de obra majoritariamente masculina. Mas, aos poucos, as mulheres estão conquistando seu espaço nos pontos de entrada e saída de mercadorias.
Em 2010, havia três mulheres trabalhando nos portos do Espírito Santo, pelo Órgão Gestor de Mão de Obra (Ogmo-ES). Atualmente, são 24, ou seja, um acréscimo de 700%. Mas, ao todo, são 1.700 trabalhadores portuários avulsos no Estado.
A presença delas nos portos ainda é pequena, mas revela uma quebra de barreiras, com enfrentamento do machismo, coragem e conquista. Foi lá que elas ouviram que “abrir contêiner não é como fazer unha” e que “lugar de mulher é no tanque”.
Mas também foi lá que aprenderam mais sobre esse universo logístico e se desenvolveram enquanto profissionais, tornando-se inspiração para outras gerações.
Treinada para operar empilhadeira de celulose, a trabalhadora portuária avulsa Laiara Martins dos Santos Dias, 33 anos, já ouviu muitas insinuações de que não deveria estar ali, mas responde com sua competência. Ela trabalha com movimentação de carga em pátios e armazéns dos portos.
“Tenho uma filha de 7 anos e quero que ela saiba que ela pode ser o que quiser. Não interessa o que qualquer pessoa fale”, disse Laiara, que executa serviços de acordo com a necessidade de cada porto, e é habilitada para fazer o básico de todas as funções.
As equipes mudam a cada serviço. Ela calcula que, em dois anos, trabalhou com mais uma mulher na equipe apenas quatro vezes.
Além da falta de diversidade e do comportamento da minoria, elas enfrentam desafios estruturais, como a necessidade de lutar por banheiros femininos em boas condição de uso.
De acordo com o Órgão Gestor de Mão de Obra Portuária (Ogmo-ES), a forma de ingressar no órgão é por meio de concursos públicos. Culturalmente, a procura é maior por parte dos homens, mas vem aumentando o número de mulheres interessadas.
As empresas também vêm implantando programas de diversidade e inclusão. O Terminal Especializado de Barra do Riacho (Portocel), por exemplo, informou que uma das metas é ampliar a participação de mulheres, tanto na operação quanto em cargos de liderança. Atualmente as mulheres representam 15,44% do efetivo total.
De estagiária a chefe de operações
A presença feminina na área operacional dos portos ainda está crescendo. Mas Aline Sarti Severo não só chegou no segmento, como conquistou um cargo de liderança. Ela começou como estagiária na área administrativa e hoje é coordenadora de operações do Terminal Portuário de Vila Velha (TVV).
Sob seu guarda-chuva, trabalham 80 profissionais, sendo 14 mulheres. “Quando entrei, em 2003, eu era uma das poucas mulheres no administrativo. Na área operacional não tinha nenhuma”.
De estagiária, ela foi contratada, virou auxiliar, assistente, técnica de processos, analista, supervisora e, hoje, é coordenadora. “Fui conquistando o meu espaço, me destacando. Meus chefes passaram a ser meus funcionários”, contou.
Há cerca de três anos, segundo Aline, as mulheres passaram a ser incluídas na operação, começando com postos como motorista de carreta e conferente. E há cerca de um ano teve início a contratação de auxiliares de operações. “É um serviço mais braçal e pesado. Fizemos o teste e deu certo”.
Hoje ela luta para ampliar a presença feminina e alerta sobre os desafios a serem superados. Aline conta que dizem que ela faz jus ao sobrenome Severo, mas confessa que foi uma casca que criou.
“Se você der um sorriso diferente aqui, a pessoa já acha que você está dando moral. Para impor respeito, tive que ser um pouco rígida. Hoje sou muito respeitada”, ressalta.
As mulheres também seguem na área administrativa do portos. No Portocel, a gerente administrativo-financeira Scheila Dalmaschio da Silva, 50, tem 30 colaboradores em sua equipe.
“Por mais que homens e mulheres tenham compromissos com sua família e que haja homens que são bons companheiros, o papel da mulher na família pode fazer a diferença na carreira profissional, porque ela tem que dar conta também dessa outra parte, e acaba se cobrando muito por isso”, pontua.
Saiba mais
Ogmo-ES
O Órgão Gestor de Mão de Obra Portuária (Ogmo-ES) tem profissionais que prestam serviço para diversos portos do Estado, de acordo com a necessidade de cada um.
Quando os navios chegam e precisam operar, os portos solicitam ao Ogmo os profissionais dos quais eles precisam. Existem três escalas de serviço, e os profissionais se candidatam para o trabalho. Também há um sistema de rodízio, para tornar a divisão justa.
Portocel
As empresas vêm implantando programas de diversidade e inclusão. O Portocel informou que uma das metas é ampliar a participação de mulheres tanto na operação quanto em cargos de liderança. Nos cargos de liderança, elas já respondem por 50% de representatividade. Já do efetivo total, representam 15,44% . Há mulher, por exemplo, na operação de empilhadeiras, o que não havia até bem pouco tempo.
Salários
Homens e mulheres ainda têm, no Brasil, salários diferentes para o mesmo cargo. Em cargos de direção e gerência, elas ganham 27% menos que os homens. Em funções de nível superior, 31,2% menos. Além disso, a presença delas em cargos de liderança é menor, o que contribui para derrubar os salários no todo.
Para mudar esse quadro, houve a sanção da Lei da Igualdade Salarial entre homens e mulheres, no ano passado. E o lançamento do Plano Nacional de Igualdade Salarial.
Fontes: Ogmo, Portocel, Governo Federal, 2° Relatório de Transparência Salarial e Critérios Remuneratórios.
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