Galípolo é o indicado de Lula à presidência do Banco Central, anuncia Haddad
Nome ainda precisa ser aprovado pelo Senado Federal
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Gabriel Galípolo é o nome indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para assumir a presidência do Banco Central, anunciou o ministro Fernando Haddad (Fazenda).
Se aprovado pelo Senado Federal, ele assume o comando da instituição com a missão de angariar a confiança do mercado financeiro, que teme um BC leniente no combate à inflação em 2025, quando o Copom (Comitê de Política Monetário) terá maioria dos integrantes indicados pelo presidente Lula.
O atual diretor de Política Monetária do BC vai suceder Roberto Campos Neto, à frente da instituição desde 2019 por indicação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e cujo mandato termina em 31 de dezembro.
Aos 42 anos, Galípolo foi um dos conselheiros de Lula na campanha presidencial de 2022 e atuou como número dois de Haddad. Desde que assumiu o posto no BC, ele manteve canal direto com o chefe do Executivo. Os dois conversam até sobre as contas públicas e a antecipação de riscos fiscais pelo mercado financeiro.
A habilidade de uma comunicação direta e sem tom professoral, o que costuma irritar o presidente, foi reconhecida até mesmo pelo presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), quando Galípolo era secretário-executivo da Fazenda.
Aos olhos de Lula, Galípolo é um "menino de ouro", "competentíssimo" e "de uma honestidade ímpar". "Obviamente ele tem todas as condições para ser presidente do Banco Central", disse o chefe do Executivo em junho.
A escolha por Galípolo no comando do BC já era dada como certa pelo mercado financeiro e por integrantes do Senado Federal, responsável pela sabatina e pela aprovação dos nomes indicados à autoridade monetária pelo chefe do Executivo.
Segundo a lei da autonomia da autoridade monetária, aprovada em 2021, cabe ao presidente da República a indicação dos nomes para a cúpula do BC. Posteriormente, os indicados passam por sabatina na CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado Federal. Os escolhidos são, então, levados ao plenário para aprovação.
Um sinal que reforçou a percepção de autoridades dentro do governo de que o diretor de Política Monetária seria o escolhido para suceder Campos Neto foi a sua participação em um jantar do presidente Lula, no fim de junho, na casa de Haddad com um grupo de economistas de dentro e de fora do governo.
No encontro, houve o alerta sobre a possibilidade de alta da inflação caso o dólar seguisse disparando. No jantar, que reuniu expoentes do chamado desenvolvimentismo, Lula foi aconselhado a moderar suas falas para não dar combustível à crise --naquele momento o dólar chegou a superar R$ 5,70.
Galipolo estava presente no evento, organizado em um momento de grande tensão em torno do aumento da desconfiança de que o governo Lula proporia mudanças nas regras do arcabouço.
Após esse encontro, Lula acabou dando sinal verde para Haddad anunciar dias depois que o governo faria um congelamento de R$ 15 bilhões em despesas do orçamento deste ano e economizaria R$ 25,9 bilhões em gastos com revisão de despesas obrigatórias de benefícios previdenciários e sociais em 2025.
Poucos dias antes do jantar, em 24 de junho, Galípolo foi chamado a viajar com o presidente Lula num voo de São Paulo a Brasília. A viagem não constou nas agendas de Lula e do diretor, mas foi confirmada pela Folha.
No dia seguinte, o presidente deu aval para a formalização da meta contínua de inflação de 3% em reunião com Haddad e Galípolo. Foi outro sinal lido com mais um indicativo do aumento da interlocução de Galipolo junto ao presidente.
No encontro, que não constava inicialmente na agenda oficial de Lula e foi incluído posteriormente entre os compromissos do diretor do BC, foram discutidos detalhes do texto que sacramentou a mudança no sistema de metas de inflação.
Na ocasião, Haddad disse que Galípolo estava liderando o tema no BC e foi autorizado por Campos Neto a comparecer ao Planalto para a reunião com Lula.
Após esses episódios, Galípolo foi ganhando cada vez mais desenvoltura em falas durante eventos públicos na busca de credibilidade no mercado financeiro para ocupar a cadeira da presidência do BC. Nas últimas semanas, ele tem atuado como o principal coordenador das expectativas de inflação e de decisão sobre os juros.
Esse movimento combinado ficou mais evidente após a última reunião do Copom, em julho, com a declaração feita por Galípolo na semana passada de que a alta de juros estava na mesa do colegiado do BC.
O próprio Lula deu uma ajuda extra ao diminuir as críticas aos juros altos. No último dia 17, o petista disse que o próximo presidente do BC não lhe devia favor, mas precisava ter coragem para reduzir e também aumentar os juros.
A indicação antecipada do próximo comandante do BC foi um pedido de Haddad ao presidente Lula com a intenção de afastar incertezas, melhorar a comunicação e dar mais estabilidade para a economia até o fim do ano.
Do lado político, a sabatina com a votação do nome de Galípolo -mesmo que meses antes da sua posse- ajuda o Ministério da Fazenda a concentrar esforços nas negociações da pauta econômica, segundo explicou um auxiliar de Haddad à Folha de S.Paulo.
O ministro quis afastar o risco de a sabatina só acontecer em novembro, o que daria pouco tempo para a transição até a posse do presidente em janeiro do ano que vem.
A leitura é de que as eleições municipais e depois as negociações para a escolha dos próximos presidentes da Câmara e do Senado vão tirar espaço na agenda do Congresso na reta final deste segundo semestre da atenção dos parlamentares.
A expectativa é de que a sabatina do futuro presidente do BC possa ocorrer entre os dias 2, 3 e 4 de setembro, quando as sessões do Senado deverão ser presenciais.
Publicamente, Campos Neto também defende que a indicação do seu sucessor seja feita até outubro para assegurar uma transição suave do comando do BC.
Com a indicação de Galípolo, Lula terá que indicar um substituto para a diretoria de Política Monetária e mais dois nomes para o BC. Em 31 de dezembro, chegam ao fim os mandatos de Otavio Damaso (Regulação) e de Carolina de Assis Barros (Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta) -única mulher na cúpula da autoridade monetária atualmente.
O presidente Lula preferiu avançar apenas com a indicação de Galípolo para não atropelar colocando os demais nomes ao mesmo tempo. Galípolo é um nome que não sofre resistências no Senado nem da oposição. Mas a Fazenda negocia a PEC da autonomia financeira do BC para afastar resistências na sabatina.
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