Bancos já não recomendam comprar ações da Petrobras
Decisão da estatal de não distribuir extra de parte do lucro faz com que papéis sejam vistos como similares aos de outras empresas
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A decisão da maioria do conselho da Petrobras de não distribuir dividendos extraordinários, como esperado pelo mercado, reduz a rentabilidade prevista para suas ações na Bolsa ao mesmo tempo em que aumenta o risco deste investimento no curto prazo, dizem analistas.
Tal mudança levou os braços de investimentos de Bradesco, Bank of America e Santander a deixarem de recomendar a compra do papel.
Segundo o Santander, sem a distribuição extraordinária de lucros, a rentabilidade do papel apenas de acordo este fator, medida pelo DY (dividend yield), cai para o mesmo patamar de pares latino-americanos e europeus, a 9%.
Em 2023, a companhia teve um DY de 20,3%, e em 2022, de 61,6%, segundo dados da plataforma Meu dividendo. “Um dos principais pontos positivos da Petrobras era o dividendo, pois não é uma empresa que tem perspectiva de crescimento, diferente de PetroRio e de outras petroleiras menores”, diz Pedro Marcatto, analista da B.Side.
A Órama Investimentos, por exemplo, prefere o investimento em Prio e Enauta, “devido às incertezas associadas ao controlador (União)”, diz o analista Phil Soares.
A decisão da companhia de não distribuir os dividendos extraordinários não foi unânime, o que expõe divisão no alto comando da Petrobras, aumentando a incerteza do mercado. “A divergência do conselho com o presidente, que foi voto vencido, sugere possíveis tensões internas sobre a política de dividendos”, diz Nilson Marcelo, analista da CM Capital.
Marcatto, da B.Side, diz que a companhia ainda indicam um bom investimento. “Ela continua sendo um ativo com boa qualidade, com boa geração de caixa, baixo custo de extração, margens sustentáveis e baixa alavancagem”.
A Petrobras deve, obrigatoriamente, distribuir no mínimo, 25% de todo o seu lucro líquido. Considerando que o resultado tem superado os R$ 100 milhões nos últimos três anos, é um volume significativo.
Além disso, com a necessidade do governo federal de aumentar a arrecadação para atingir a meta de zerar o déficit fiscal, é possível que a companhia aumente a distribuição de dividendos, diz Leão Bispo, professor da FGV. “A questão é a queda de performance, que preocupa no longo prazo”.
Equipe econômica foi contra a decisão
A equipe econômica do governo apoiou, em reunião realizada nesta semana com a cúpula da Petrobras, a decisão de a empresa pagar dividendos extraordinários aos acionistas. Para pelo menos uma parte da equipe econômica, a opção pelo não pagamento de dividendos “foi uma decisão errada”.
Na quinta-feira, ao informar lucro líquido de R$ 31,04 bilhões no quarto trimestre de 2023, a companhia também divulgou que não pagaria dividendos extraordinários referentes ao período. A decisão fez a Petrobras perder, na sexta-feira, R$ 55,8 bilhões em valor de mercado, com queda de 10,57% das suas ações preferenciais.
O motivo foram os temores de intervenção do governo na companhia. A agência Reuters publicou ao longo da tarde que a decisão tinha partido do presidente Lula (PT). Mas, dias antes, integrantes da equipe econômica defenderam para o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, e o diretor financeiro e de relações com investidores da companhia, Sergio Caetano Leite, que o pagamento de dividendos extraordinários “estaria de acordo com a legislação e as expectativas do mercado”.
Além disso, atenderia aos anseios da própria equipe econômica, por reforçar o caixa do governo. “Foi uma decisão errada que prejudica o esforço fiscal”, diz uma fonte da equipe econômica. “Muitos analistas receavam que a ingerência (do governo) seria para ajudar a equipe econômica na frente fiscal. Mas é o oposto.”
Na avaliação dessa fonte, outro fator que contribuiu para a “má decisão” foi a “confusão” dentro do governo envolvendo o destino dos dividendos extraordinários não pagos.
Em entrevista coletiva na sexta-feira, o diretor financeiro e de relações com investidores da Petrobras afirmou que “a reserva” para onde foram os recursos retidos “é destinada a pagamento de dividendos” e não para investimentos.
Especialistas da estatal fazem visita à Venezuela
A Petrobras enviou uma equipe de especialistas em produção para a Venezuela a pedido de Nicolás Maduro, cujo governo está recebendo as principais empresas petrolíferas, apesar das ameaças de sanções dos EUA.
A delegação da Petrobras visitou campos de petróleo no Lago Maracaibo nesta semana, no que pessoas familiarizadas com o assunto descreveram como uma viagem de cortesia. Maracaibo é uma região de produção fundamental para a Venezuela e uma oportunidade para o país ressuscitar o eixo de sua economia após anos de subinvestimento.
Embora Maduro tenha recuado em sua promessa de eleições livres e justas, as principais empresas petrolíferas estão apostando que o governo Biden provavelmente se absterá de impor as mais rígidas penalidades relacionadas à energia para manter baixos os preços globais do petróleo e da gasolina nos EUA.
O ministro do Petróleo da Venezuela, Pedro Tellechea, anunciou visitas de funcionários da Sonatrach da Argélia, da YPFB da Bolívia e da Petroleos Mexicanos a Caracas. Muitos dos campos da Petróleo venezuelanos ficaram ociosos na última década em meio a sanções, má administração e colapso do que já foi uma das maiores economias da América Latina.
Os EUA aliviaram as sanções ao setor petrolífero da Venezuela este ano como parte de um acordo para a realização de eleições livres e justas. Em seguida, o governo de Maduro proibiu que o principal candidato da oposição concorresse, em uma medida que poderia levar os EUA a retomar sanções.
A Petrobras entrou na Venezuela durante a abertura do mercado de petróleo no início deste século, mas há anos não atua no país. A empresa está planejando aumentar os investimentos para se expandir no exterior. Essa semana, a Petrobras anunciou que pagará menos dividendos, uma medida que decepcionou os investidores e provocou uma venda de ações.
Embora os riscos geopolíticos continuem sendo um obstáculo para qualquer investimento na Venezuela, as grandes petrolíferas que voltaram a entrar no país o fizeram sob condições que oferecem mais controle operacional aos parceiros estrangeiros.
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