O tempo da paciência
Entre afetos e frustrações, a paciência revela seus limites — e nos convida a olhar para o outro (e para nós mesmos) com mais humanidade
Engraçado como todo mundo hoje vive dizendo que a gente “tem que ter paciência”. Com o outro, com o processo, com a vida, com o tempo. Mas… e quando essa paciência se esgota?
A psicologia compreende a paciência como uma forma de regulação emocional. Autores como Mischel (1989), ao estudar o famoso experimento do “marshmallow”, já mostravam que a capacidade de esperar por uma recompensa maior no futuro — ou seja, ser paciente — está relacionada a isto.
Porém, é ilusório acreditar que essa capacidade se dá da mesma forma em todas as pessoas, ou ainda, em todas as relações.
A verdade é que a paciência tem limite! E esse limite é absolutamente subjetivo.
Às vezes, o meu limite é curtíssimo, outras vezes ele se estica como elástico. Tudo vai depender do lugar, da pessoa, da circunstância, da minha saúde mental naquele momento e, sobretudo, da minha relação com quem está à minha frente.
No começo de uma convivência, tendemos a exercer mais paciência. Somos mais compreensivos, mais atentos. Há espaço para diálogo, para a tentativa de ajustar o que não agrada.
Mas com o tempo… ah, o tempo. Ele vai desgastando algumas tentativas. Quando sentimos que já tentamos demais, por muito tempo, em muitas formas, a paciência se encurta. Não porque somos ruins, mas porque somos humanos
A psicologia das relações interpessoais mostra que a paciência não é apenas uma virtude individual, mas um fenômeno relacional. De acordo com o psicólogo John Gottman (1999), nos relacionamentos duradouros, a maneira como lidamos com as frustrações cotidianas — que exigem paciência — é um dos fatores centrais para a estabilidade ou o rompimento do vínculo.
Mas veja bem: não se trata de estar certo ou errado. Trata-se de reconhecer que, muitas vezes, cobramos dos outros uma paciência que nós mesmos não temos.
Precisamos parar para pensar o que a pessoa do seu lado está vivendo, o que ela enfrenta todos os dias, o quanto de paciência ela precisa exercer com o mundo, com o corpo, com a casa, com o trabalho, com ela mesma. Para depois a adjetivarmos de impaciente. E nem sei se temos este direito!
É claro que existe gente com o pavio curto, que se recusa a escutar, a aceitar críticas ou visões diferentes do mundo. E isso também torna a convivência difícil.
Mas mesmo aí é preciso lembrar: existe uma linha muito tênue entre exigir paciência e ignorar a dor ou a história do outro.
O meu limite não é o seu. O seu não é o dele. O dele não é o nosso.
E para podermos compreender isso, é necessário atualizar o contexto. Porque a paciência se molda aos afetos, às tentativas, às frustrações, às histórias.
Talvez devemos, inclusive, dar um tempo da relação para encontramos novas condutas para voltarmos a alimentar o nosso pote da paciência. Ou ainda, talvez, mais do que exigir paciência dos outros, nos fazermos duas perguntas sinceras: “Qual é o meu próprio limite para continuar tentando?” e “Será que não sou eu que devo ser mais paciente?”.
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