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JOSÉ ANTÔNIO MARTINUZZO

“Palavras do ano” na gramática da digitalidade

As palavras moldam a realidade e refletem o impacto das redes digitais na forma de nomear o mundo

José Antônio Martinuzzo | 15/12/2025, 12:31 h | Atualizado em 15/12/2025, 12:31
José Antônio Martinuzzo

Pós Doutor em Psicanálise, doutor em Comunicação e professor titular da Ufes



          Imagem ilustrativa da imagem “Palavras do ano” na gramática da digitalidade
José Antônio Martinuzzo é pós-doutor em Psicanálise (UERJ), doutor em Comunicação (UFF) e professor titular da Ufes |  Foto: Divulgação

O que dizem as palavras? As palavras falam do que existe! Fora de seu batismo, só há o abismo do sem nome. Além dos seus limites, é puro não dizer, que nos limita e constrange e oprime o peito e a alma – é “nó na garganta”.

Nomear é certificar a existência: de pessoas, objetos, fatos, sentimentos, conceitos... Como humanos, estamos circunscritos às palavras que temos – e àquelas que nos faltam.

Inventar e usar palavras está na origem de nossa espécie, o Homo sapiens. Seguimos há milhares de anos na aventura de batizar os elementos de nossa contingência subjetiva, intersubjetiva, no tempo e no espaço, de modo a manter laços, diminuir a angústia de falharmos na fala de nossas experiências entre o nascer e o morrer.

Já uma tradição, prestigiosas editoras de dicionários elegem “palavras do ano”. Neste 2025, temos as principais: “rage bait” (Oxford University Press) e “parassocial” (Cambridge Dictionary). Outras instituições também escolheram palavras/expressões que consideram significativas: “seis-sete” (Dictionary.com) e “vibe coding” (Dicionário Collins).

“Rage bait” pode ser entendida como “isca de ódio” – os ciberterritórios estão tomados por conteúdos belicosos a movimentar a “economia da atenção”.

“Parassocial” designa a experiência de fã, devoção unilateral a personalidades que catalisam ideais de vida – eis a “economia da influência”, tocada por toda sorte de “influencers”.

“Seis-sete” pode significar na web o velho “mais ou menos” ou o manjado “talvez isso, talvez aquilo” – ou bem mesmo ser “indefinível”, como salientaram dicionaristas.

Das trocas ocas à interação com a máquina, temos o “vibe coding”, uso “amador” da inteligência artificial na construção de aplicativos para organizar o cotidiano mais básico.

Em comum, todas as expressões referem-se à ambiência das redes, novidade histórica da nossa vivência bidimensional (presencial-digital).

Tal fato demonstra o quanto a digitalidade está, simbolicamente, sombreando a realidade material. Imigração, genocídio, feminicídio, fome, guerra, extremismo, retrocesso... Palavras estas e outras, que bem escrevem e descrevem o tempo presente eivado de desumanidades, já não compõem o léxico que agenda a atenção majoritária.

Trata-se de descolamento insano, posto que, ainda que possamos “viver” num ambiente de linguagem multimídia para além da materialidade, habitamos um corpo, com suas demandas e suas vulnerabilidades.

Por óbvio, não se pode anular a dimensão digital da sociabilidade atual, mas tomá-la como referência principal da existência parece só alimentar a ilusão ancestral de que a técnica nos tornará deidades, incólumes à nossa humanidade e suas idiossincrasias.

Mas é preciso saber que sempre seremos entes de “pés de barro”, achando-nos deuses ou não. Até porque, existindo no universo das palavras, nunca as teremos todas ou suficientemente para dar conta da tarefa de nomear o existir.

Desse ponto de vista, estamos condenados a criar palavras sem fim, como quem anseia falar tudo, de tudo e de todos, mas tropeça em lacunas linguageiras que não cessam de não se preencher – por mais palavras que inventemos. Sigamos, mas que seja com os pés no chão!

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