Quando a sarna vai além do prurido
Coluna foi publicada nesta terça-feira (28)
“Eu sinto a coceira por dentro de mim como se o próprio cérebro coçasse”, diz o sarnento. Prurido é um sintoma comum e pode ser causado por toda espécie de alterações dermatológicas: reações alérgicas, infecções bacterianas ou fúngicas, câncer de pele, psoríase, caspa, sarna, piolhos, urtiga, queimaduras solares ou simples secura da pele.
Coçar pode ser uma das mais doces gratificações da natureza, mas o arrependimento a segue muito de perto.
Embora coçar possa proporcionar um alívio passageiro, muitas vezes deixa a coceira ainda pior.
Acredita-se que o reflexo de coçar surgiu para nos proteger de insetos e toxinas de plantas venenosas. O prurido é uma forma antecipada de dor.
Denominada popularmente de “sarna”, a escabiose é uma infecção da pele causada pelo Sarcoptes scabiei.
Esse ácaro é transmitido ao ser humano por contato direto com pessoas que convivem no mesmo domicílio, em dormitórios, creches, alojamentos, ou por meio de compartilhamento de toalhas e roupas.
Os parasitas vivem na pele, como vermes. As fêmeas depositam seus ovos em túneis, na epiderme, determinando lesões extremamente pruriginosas, gerando escavações na camada córnea. A oviposição pela fêmea é mais comum à noite, quando a coceira se torna mais intensa.
A principal complicação da sarna é a infecção secundária da pele por bactérias, que causa foliculite, furunculose, impetigo, ectima, além de eczema, fascite, comprometimento das articulações, do trato respiratório, glomerulonefrite e doença reumática.
Quando o ácaro entra na pele, desenvolve-se uma resposta do hospedeiro à sua penetração, dando início ao processo inflamatório e à resposta imunológica.
O parasita pode influenciar a microbiota do tegumento, tornando patogênicas algumas espécies bacterianas residentes, como acontece com estafilococos e estreptococos, que acarretam infecções secundárias locais, com potencialidade de causar quadros de bacteremia e sepse.
Negligenciada pela própria população e por alguns médicos, aliada a outras dermatoses passíveis de preconceito e negação, como a hanseníase, a escabiose costuma ser tratada com automedicação.
Assim sendo, é importante conhecer o perfil dos produtos utilizados sob forma de automedicação para tratamento da sarna, a fim de avaliar o risco individual do uso de substâncias que podem mascarar o quadro clínico, como os corticoides, ou mesmo causar outras dermatoses, como a dermatite de contato por antibióticos e plantas de uso tópico.
Mesmo que o procedimento seja feito da forma correta, a coceira só começa a diminuir e desaparecer com o passar do tempo, entre uma e duas semanas, depois da cura.
Ainda que o tratamento seja bem-sucedido, com a morte dos ácaros, a coceira e as pústulas podem resistir por um período de três semanas, por causa da reação alérgica aos restos dos ácaros.
Fazendo do ato de coçar um remédio, a vítima tenta evitar a dor que está provocando para satisfazer a vontade de coçar.