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Doutor João Responde

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Colunista

Dr. João Evangelista

Desprescrição de medicamentos

Coluna foi publicada nesta terça-feira (11)

Dr. João Evangelista | 11/06/2024, 11:01 h | Atualizado em 11/06/2024, 11:01

Imagem ilustrativa da imagem Desprescrição de medicamentos
Comprimidos: cabe ao médico sempre avaliar a possibilidade de retirar medicamentos potencialmente iatrogênicos, prescritos por outros colegas |  Foto: Canva

O princípio da saúde não é a quantidade, mas o equilíbrio. O excesso de aperitivos provoca indigestão. Minha mãe viveu 100 anos. Atividade física, boa alimentação, sono reparador, fatores genéticos e um pouco de sorte talvez tenham colaborado para torná-la centenária.

Como acontece com muitos idosos, minha genitora precisou tomar vários medicamentos. Creio que muitos foram necessários, mas causava-se apreensão ver aquela caixa de sapatos cheia de fármacos, cada um prometendo curar ou aliviar determinada enfermidade. Consciente dos efeitos nocivos da polifarmácia, sempre que podia, eu deitava fora aqueles que poderiam ser iatrogênicos.

Vivemos numa época em que o idoso abastece o mercado de remédios; basta lembrar da existência exagerada de farmácias. Apresentando queixas diversas, o idoso costuma ser acompanhado por vários especialistas. Em função disso, ele toma muitos medicamentos. Mesmo sendo conduzidos por médicos competentes, o ancião raramente é avaliado de forma integral, favorecendo a polifarmácia e efeitos adversos indesejados, com impacto na qualidade de vida.

Cabe ao médico sempre avaliar a possibilidade de retirar medicamentos potencialmente iatrogênicos, prescritos por outros colegas.

Um enorme dilema enfrentado pelo profissional é a desprescrição, realizada após avaliações amplas e individualizadas de medicamentos não essenciais, e que muitas vezes são causas de queixas que levam o idoso a procurar assistência , colocando sua vida em risco: quedas, fraqueza, perda de apetite, náuseas, vômitos, tonturas, confusão mental, obstipação, entre outros.

Diante de comorbidades, a desprescrição pode ser tão benéfica como a prescrição de medicamentos, desde que seja criteriosamente analisada.

Médicos passam seis anos estudando na faculdade, e mais dois ou três fazendo especialização, aprendendo a utilizar cada fármaco para determinada doença, treinando como prescrever cada droga, com suas dosagens e tempo de terapia.

Mais tarde, durante o exercício da medicina, é que ele percebe o quando é necessário suspender ou não indicar uma determinada medicação. Além dos custos, o uso exagerado de fármacos implica em maior chance de efeitos colaterais e interações medicamentosas, aumentando a taxa de complicações iatrogênicas.

Cerca da metade dos idosos internados em hospitais recebem pelo menos um medicamento considerado desnecessário. Esses eventos adversos, causados pela prescrição inadequada, podem levar à perda da funcionalidade, declínio cognitivo, descompensação clínica, quedas e morte.

Objetivando evitar a cascata iatrogênica, o médico precisa averiguar se a relação risco benefício dos medicamentos foi adequadamente avaliada. Para isso, ele sempre deve questionar se o diagnóstico foi confirmado, quanto tempo o paciente utiliza determinada medicação e por qual motivo ela foi prescrita? Exagerar é caminhar mais rápido para desequilibrar um benefício. Não se rega uma planta o dia inteiro.

Imagem ilustrativa da imagem Desprescrição de medicamentos
João Evangelista Teixeira Lima é clínico geral e gastroenterologista |  Foto: Arquivo/AT

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