Paulo Bonino: “Vi a cidade crescer pelas lentes das minhas câmeras”
Profissional fotografa há 70 anos e começou a registrar a evolução de Vitória em 1960. Seu trabalho rendeu mais de 40 prêmios
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“Tenho 95 anos e fotografo desde os 25. Ganhei medalhas em vários países, quase no mundo inteiro. Tenho medalhas da China, de Cingapura, da Itália, dos Estados Unidos. Acho que ganhei mais de 40 prêmios com a fotografia.
Além disso, vi a cidade de Vitória crescer pelas lentes das minhas câmeras. Fotografei vários momentos da história do Estado. A construção da Segunda e da Terceira Ponte, o Clube Ítalo-Brasileiro, na Ilha do Boi. Fotografei Camburi, quando ainda nem havia construções.
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Até em meu livro, publicado em 2010, há várias fotos de antes e depois, mostrando essa evolução de Vitória desde a década de 1960. Inclusive, vou fazer uma nova exposição em novembro.
Mas lembro de um momento que não fotografei, que acho que seria uma grande foto, mas eu não estava com a câmera. Um menino engraxando o sapato de um preso, que estava dentro de um furgão, só com os pés de fora, em frente aos galpões do Porto de Vitória. É uma imagem que ficou na minha cabeça, mas não teve registro”.
Concursos
Comecei a mandar fotos para concursos em 1956, mas não ganhei nada. Era a foto de uma estrela-do-mar, não era de qualidade, estava começando.
Das medalhas, a que acho mais bonita é uma das que ganhei por causa da foto de um beija-flor fêmea chegando na flor. É a minha preferida! Fiz em Santa Teresa, na casa um amigo.
Você vê na foto que as peninhas estão todas se movimentando, é incrível! Uma coisa perfeita é a natureza! Essa até saiu na capa da Revista National Geografic brasileira. Dei um nome simples para o beija-flor: Clytolaema rubricauda.
Ganhei três prêmios com essa foto, foi minha fotografia mais premiada: na Itália, nos anos 1980, na Austrália, em 1982, e outra nos Estados Unidos, em 1986.
Prêmios
Outra que lembro bem é a premiação com a medalha de bronze da Nicon, em 1971. Estava fazendo a cobertura fotográfica da duplicação da linha da Vale no trem, indo para Governador Valadares, em Minas Gerais. Fiz a foto de um cavalo, com a câmera em 1/8 de segundos na mão. Então, tudo que passou na janela gravou em rodopio em volta dele.
Foi um momento de sorte pura! Fazer uma foto em baixa velocidade em um trem andando, está querendo o quê? Que fique borrado! Mas não ficou, tem até uma certa nitidez.
Fotografia
Fui nomeado no primeiro mandato de Chiquinho (Francisco Lacerda Aguiar), que foi diretor do Serviço de Rádio, Cinema e Teatro Educativos do Estado.
Lá eu aprendi a fotografar e gostei. Nunca tinha pegado na máquina. Estava com 25 anos. Já gostava de fotografia, mas não achava que poderia me tornar fotógrafo.
Aprendi rápido porque sempre tive sensibilidade para ver as coisas que as pessoas não notam.
Estava sempre observando os detalhes e o que era interessante para a fotografia eu fazia. Às vezes um pouco sem jeito, mas com o tempo fui melhorando.
Esperava a hora da entrada de luz certa, porque a entrada de uma luz bonita valoriza uma foto. Prefiro bater a foto com a luz de uma janela, do que com o flash. A beleza de detalhes e um contraste bonito de luz e sombra.
Sou exigente com meu trabalho. Tem de chamar atenção para ser uma fotografia boa. Bem crítico, o que não servia para mim, não servia para clientes.
Fotos de natureza
Aprendi a gostar e fazer fotos de natureza depois de um convite do biólogo Fábio Ruschi. Ele era muito meu amigo. Os beija-flores são meus preferidos. As últimas fotos que fiz foram de beija-flores em minha casa de Guarapari.
Inspiração
Sempre gostei muito do fotógrafo francês Henri Cartier-Bresson. Ele era o fotógrafo do instantâneo, conseguia parar as imagens em momento crítico.
Aquilo tinha uma profunda percepção humana, com fotos feitas em milésimos de segundo.
Hoje temos tecnologias, mas nada substitui uma mente desenvolvida e mãos caprichosas. Isso é observação, gostar do que faz.”
*Depoimento dado à jornalista Lorrany Martins.
Perfil
Paulo Bonino
Fotógrafo de 95 anos teve uma foto sua publicada na capa da Revista National Geografic nos anos 1980. Ganhou vários prêmios e medalhas internacionais com suas fotografias.
Fez várias fotos da construção e desenvolvimento da cidade de Vitória, além da natureza, desde os anos 1960 até 2005.
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