Mudanças no clima: risco de sobrecarga no sistema de saúde
Especialistas alertam para medidas preventivas diante dos eventos climáticos que aumentam doenças respiratórias
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O aumento da frequência de eventos climáticos extremos já acende um alerta entre profissionais da saúde: as mudanças no clima podem sobrecarregar o sistema de saúde.
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Com o aumento dos estresses hídrico e térmico, a exposição a ondas de calor mais frequentes e a intensificação da poluição atmosférica, a proliferação de doenças pode alcançar novos patamares.
A médica pneumologista Karina Tavares é uma das profissionais que faz o alerta.
“Já temos uma questão deficitária em nosso sistema público, daqueles que já apresentam suas doenças crônicas. Com o surgimento de novos casos em pessoas antes saudáveis, haverá sobrecarrega. Os convênios estão mais preparados, já que os pacientes tendem a se cuidar melhor e preventivamente”.
O infectologista da Rede Meridional Luis Henrique Borges defende que será cada vez mais importante ampliar a cobertura vacinal contra as doenças emergentes e reemergentes. Ele analisa outras medidas necessárias para a prevenção de uma sobrecarga do sistema de saúde.
“Devemos preparar o sistema de saúde, que poderá ficar sobrecarregado com as vítimas das catástrofes climáticas e das doenças e epidemias, que deverão ficar mais frequentes. Devemos preparar as novas gerações de médicos e profissionais de saúde para lidar com este problema de saúde pública”.
Cada vez mais estudos demonstram a ligação entre o aumento de doenças mentais, os nascimentos prematuros e a desnutrição com as mudanças do clima, destaca o engenheiro de climatização e CEO do Grupo Retec, Patrick Galletti.
“Temos que agir e colocar em prática tudo que estiver ao nosso alcance para melhorar as condições de vida dos seres humanos e do planeta todo”.
Mãe reforça os cuidados com o filho
A porteira Sheila Martins, de 48 anos, teme que, com as mudanças climáticas, o filho Vinícius Martins, de 12, sofra ainda mais com a bronquite asmática e outros problemas respiratórios.
O adolescente foi diagnosticado com bronquite asmática aos 3 anos. Durante o pico de queimadas no Brasil, ele ficou mal e precisou reforçar os cuidados com a saúde respiratória.
“A imunidade dele é muito baixa, então frequentemente ele fica ruim de bronquite, laringite e faringite. Com o aumento das queimadas, a fumaça que chegou ao Estado fez muito mal a ele. Tive que levá-lo ao médico e, agora, ele está fazendo nebulizações”.
Problemas respiratórios agravados
Desde criança, a recepcionista e universitária Eduarda Coutinho, de 20 anos, sofre com a asma. O problema começou como uma bronquite asmática e, há cerca de 10 anos, evoluiu para a asma.
Com as mudanças climáticas, a universitária se preocupa em ter crises mais frequentes e até complicações mais sérias.
Ela conta que a seca e a grande quantidade de queimadas no Brasil, que chegou a formar um “corredor de fumaça” e a atingir o Espírito Santo, já afetam a sua saúde.
“Eu tive crise de asma durante o pior momento das queimadas no País. Tenho medo de que, com a ocorrência cada vez mais frequente de eventos como esse, minha saúde respiratória fique mais comprometida”, lamenta a universitária.
O uso de medicamentos, da bombinha da asma e da nebulização está entre os cuidados de Eduarda.
SAIBA MAIS
Sobrecarga
> As mudanças climáticas favorecem o aumento de doenças de ordem infecciosa, alérgica e psiquiátrica. Com o aumento dos estresses hídrico e térmico, a exposição a ondas de calor mais frequentes e a intensificação da poluição atmosférica, o número de pessoas com doenças respiratórias, alérgicas, de pele e de coração pode alcançar picos históricos, o que tende a sobrecarregar os sistemas de saúde.
> Para evitar um colapso do sistema de saúde, especialistas apontam a necessidade de ampliar a cobertura vacinal contra as doenças emergentes e reemergentes, de universalizar o acesso ao saneamento básico e de fomentar políticas públicas e ações para melhorar o microclima local, como o uso sustentável da água na agropecuária e a recuperação de áreas degradadas.
> Além disso, as escolas precisam orientar crianças e jovens sobre os cuidados de higiene alimentar e corporal como forma de medida protetiva e preventiva a doenças.
Fonte: Especialistas consultados.
Análise
Idosos estão entre os mais afetados pela crise climática
“Os idosos estão entre os públicos que mais sofrem com as mudanças climáticas. Isso acontece porque eles têm o organismo mais fragilizado, assim como o sistema imunológico.
Dessa forma, eles tendem a sofrer mais com as mudanças extremas de temperatura, assim como com as enchentes, muitas vezes não conseguem reagir com tanta rapidez, e as queimadas, afetando mais o sistema respiratório e tendo mais dificuldade para recuperar.
Para evitar essas consequências das mudanças climáticas, precisamos de políticas públicas que envolvam a preservação do meio ambiente e a conscientização da população sobre a preservação.
Além disso, precisamos de conscientização e educação das pessoas sobre o que fazer em períodos críticos. Sabemos que muitas vezes os eventos climáticos extremos acontecem, e acredito que devem continuar. Dessa forma, temos que educar a população a como prevenir os problemas de saúde associados e como lidar com eles.
Com a maior recorrência de eventos climáticos extremos, também há maior chance de proliferação de doenças associadas a esses eventos e, consequentemente, sobrecarga do sistema de saúde”.
Polyana Romano Oliosa, doutora em Saúde Coletiva
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