Médicos explicam riscos da técnica de beleza perigosa utilizada por Maíra Cardi
Uso do PMMA pode causar nódulos, além de processos infecciosos e inflamatórios, o que ocasiona danos irreversíveis ao corpo
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No processo de tentar conquistar o corpo perfeito, há pessoas que realizam tratamentos de beleza envolvendo o polimetilmetacrilato (PMMA) e não sabem os riscos dessa substância para o organismo.
Polímero não absorvível utilizado para preenchimento, seu uso é desaconselhado para procedimentos estéticos por órgãos como as sociedades brasileiras de Cirurgia Plástica (SBPC) e Dermatologia (SBD). Médicos do Estado explicaram os motivos, mencionando o lado negativo do composto.
De acordo com a cirurgiã plástica Patricia Henriques Lyra Frasson, quando aplicado no corpo, existe a possibilidade de complicações como nódulos, massas e processos inflamatórios e infecciosos, ocasionando danos estéticos e funcionais irreversíveis.
“Dessa forma, não recomendamos sua utilização para fins estéticos, sendo seu uso exclusivo para correções de pequenas deformidades e em pacientes com lipodistrofia de HIV”, comentou.
Patricia disse ainda que procedimentos com PMMA podem levar à morte, em caso de injeção intravascular inadvertida, podendo causar embolia.
O cirurgião plástico Cristiano Almeida Simões afirmou que, para quem já passou por procedimentos e tem a substância, o maior riscos de retirá-la é causar deformidades, pois, junto dela, podem sair também estruturas nobres no corpo.
Nessa situação, Patricia comentou que, dependendo do plano injetado, o produto não será retirado na sua totalidade pelo risco de lesão nervosa ou vascular.
O cirurgião plástico Humberto Pinto contou que já recebeu pacientes que quiseram remover o PMMA. “Normalmente, caem no golpe de resultados milagrosos e de recuperação rápida, sem a necessidade de cirurgia”.
Por fim, Cristiano deu uma dica. “É importante que os pacientes procurem profissionais médicos que são habilitados para tratar de estética, que sejam membros de sociedades especializadas como a SBPC e SBD. Este certamente irá indicar elementos que poderão ser usados de forma segura”.
Para preenchimento, Humberto citou opções seguras: enxerto de gordura (lipoenxertia), uso de ácido hialurônico, ou dependendo da região, o uso de próteses.
Andressa Urach, modelo e produtora de conteúdo adulto; Gabi Martins, cantora; Rico Melquiades, influenciador; e a atriz Carol Marra foram alguns famosos que apostaram nos resultados do PMMA.
Recusa para a retirada de PMMA
A influenciadora digital Maíra Cardi, de 41 anos, relatou em suas redes sociais que dois médicos se recusaram a retirar o polimetilmetacrilato (PMMA) de seu rosto por conta da possibilidade de lesão nos nervos.
“Se lesamos esses nervos durante a retirada, vamos trazer mais malefícios do que benefícios”, explicou um dos médicos na gravação compartilhada por Maíra.
À Maíra, o outro profissional sugeriu, em vídeo, fazer um lifting – usado para eliminar as rugas na face e pescoço – como alternativa, mesmo não podendo garantir a remoção completa da substância.
“Quando o paciente tem PMMA, a nossa tendência é não fazer nenhum tipo de injetável ou tratamento mais profundo”, disse o especialista consultado por Maíra.
Ele ainda orientou a influenciadora a avaliar o quanto a situação realmente a incomoda. “Será que vale a pena mexer no rosto?”.
Casada com o influenciador digital Thiago Nigro e mãe de Sophia, de 6 anos, e Lucas, de 22, ela contou que está em processo para engravidar do marido e, por conta disso, quer tirar o material, que deixa sua face bastante inchada.
“Na gravidez da minha filha, meu braço ficava todo dormente; pode ser que piore ainda mais“, comentou Maíra.
Segundo a influenciadora, em 2009, uma profissional de dermatologia havia aplicado a substância em seu rosto sem ela saber, e o corpo dela rejeitou. Por isso, Maíra terá que passar por uma cirurgia para remover uma parte da bochecha.
Fique por dentro
Produto é um componente plástico
PMMA
O que é
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o PMMA é um componente plástico com vários tipos de uso na área de saúde e em outros setores produtivos. É uma matéria-prima com variadas formas de aplicações que mudam, segundo as formas de seu processamento e desenvolvimento.
Alguns exemplos de produtos que têm sua aplicação são as lentes de contato, implantes de esôfago, cimento ortopédico, entre outros.
Para que é usado no corpo?
O produto está autorizado para as seguintes aplicações pela Anvisa:
Correção de lipodistrofia (alteração no organismo que leva à concentração de gordura em algumas partes do corpo) provocada pelo uso de antirretrovirais em pacientes com síndrome da imunodeficiência adquirida (Aids).
Correção volumétrica facial e corporal, que é uma forma de tratar alterações, como irregularidades e depressões no corpo, fazendo o preenchimento em áreas afetadas por meio de bioplastia.
Riscos
O PMMA não é recomendado para procedimentos estéticos, pois há a possibilidade de complicações como nódulos, massas e processos inflamatórios e infecciosos, ocasionando danos estéticos e funcionais desastrosos e irreversíveis.
Também há a possibilidade de desencadear uma embolia, em caso de injeção intravascular inadvertida.
Outro problema é no momento de retirar o PMMA do corpo. Há a possibilidade de haver deformidades, pois junto da substância podem sair estruturas nobres do organismo.
Caso que repercutiu
No ano passado, a jornalista e influencer Lygia Fazio, de 40 anos, fez um procedimento com PMMA, mas não conseguiu os resultados esperados.
Ela, que teve silicone industrial e o polimetilmetacrilato aplicados em seus glúteos, ficou quase um mês internada. As substâncias se espalharam pelo seu corpo, desencadeando infecções e um acidente vascular cerebral (AVC).
em uma entrevista de 2022, Lydia havia falado que já havia aplicado PMMA em 2013, também na região dos glúteos. Na época, ela colocou 450ml de cada lado.
Fonte: Pesquisa A Tribuna e profissionais consultados.
Você sabia?
O PMMA, polimetilmetacrilato, foi desenvolvido em 1902 pelo químico alemão Otto Rohn e utilizado pela primeira vez na área da saúde em 1936 como prótese dentária, e em 1998 em tecidos moles.
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