Mais idosos caem no “golpe da novinha” no ES
Criminosos fazem chantagens e exigem pagamentos entre R$ 3.500 e R$ 5 mil. Maioria das vítimas tem mais de 60 anos
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Se passando por garotas “novinhas” e atraentes, golpistas têm convidado homens para conversas privadas nas redes sociais. Para isso, se escondem atrás de perfis falsos com fotos sensuais. Seduzidas, as vítimas enviam fotos e vídeos íntimos, vacilo perfeito para os criminosos de plantão iniciarem a extorsão.
Pelo menos três homens foram alvo do chamado “golpe da novinha” nos últimos meses no Estado, onde os golpistas exigem pagamentos que variam entre R$ 3.500 e R$ 5 mil. A maioria das vítimas tem mais de 60 anos.
Especialista em tecnologia, Eduardo Pinheiro explica como funciona o golpe: “Supostamente uma mulher jovem aborda o homem. Geralmente ele acredita se tratar de maior de idade e começa a interagir”.
Até que, num certo ponto, vítima e golpista começam a ter conversas de cunho sexual e, na sequência, a trocar fotos geralmente sensuais. “Ambas as partes enviam, mas a iniciativa parte da suposta novinha”.
Depois de já ter um material razoável e de ter obtido informações sobre a vítima, entram em cena os outros cúmplices do golpe.
“Se passando pelo suposto pai da novinha, um bandido liga para a vítima e diz que a jovem é menor de idade. E assim começa a fazer chantagem, alegando que ela estava se relacionando com uma menor de idade, baseado no artigo 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)”.
Segundo o especialista, a vítima fica apavorada por estar sendo acusada de pedofilia. E depois entra o outro comparsa, se passando por delegado ou advogado para deixar a vítima mais apavorada.
“Eles alegam que a suposta adolescente vai ter que passar por tratamento psicológico e que a vítima terá de arcar com o custo. Daí surge a extorsão baseada no que foi compartilhado entre as partes”.
A Polícia Civil foi procurada, mas não disponibilizou fonte para falar sobre o assunto.
Especialista dá dicas para não ser alvo da ação de criminosos
Geralmente, as quadrilhas que aplicam golpes cibernéticos não são do mesmo estado que suas vítimas. Elas têm esse modo de agir para dificultar a investigação policial, segundo o especialista em tecnologia e crimes cibernéticos Eduardo Pinheiro.
E como as vítimas podem dificultar a ação dos criminosos? Eduardo Pinheiro explica que a regra número um, para qualquer faixa etária, principalmente nas redes sociais, é não conversar com estranhos.
“Se isso for inevitável, exija uma identificação da pessoa, ou se a pessoa se recusar a fornecer uma identificação real dela, você pode buscar também com sua própria investigação particular na internet”, conta o especialista.
Outra dica é nunca trocar fotos íntimas on-line. “Devido à persistência dos dados digitais, a gente não consegue apagar um arquivo digital. Mesmo deletando, ele vai permanecer nos celulares, nos servidores, no e-mail. Então, é um risco muito grande divulgar fotos íntimas”, avalia.
Outra dica importante também é conhecer a legislação penal. “As pessoas precisam se atentar que é crime se relacionar com crianças, com adolescentes menores de 18 anos, trocar fotos também, isso está no artigo 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente”.
Jovem também foi alvo | Ligação de falso delegado
Apesar de a maioria dos alvos do golpe serem idosos, um jovem de 19 anos recebeu ligações. Ele afirma que não recebeu contato por rede social e não mandou imagens.
“Recebi três ligações no WhatsApp de um número desconhecido e não atendi. Quando vi o perfil, a foto era de um suposto delegado”.
Os bandidos enviaram áudios dizendo que pegaram histórias de pornografia infantil no celular dele. “Nunca cometi crime nenhum e então não cedi”.
Áudio enviado por bandido à vítima
“Olha, senhor (nome do jovem de 19 anos), primeiramente eu vou pedir para o senhor procurar um lugar reservado e adequado até mesmo para a gente poder ter essa conversa a sós, particular”.
“Até mesmo para a gente tentar resolver melhor alguns fatos que chegaram ao meu conhecimento aqui na delegacia”.
“Positivo, cidadão?”
Entenda o golpe
> Abordagem
Criminosos abordam homens, em sua maioria idosos, nas redes sociais.
Eles usam fotos de mulheres jovens, que aparentam ser de maior idade, e sempre bonitas.
As chamadas “novinhas” tomam a iniciativa de começar a conversa, geralmente com homens casados, com filhos e empresários.
Eles correspondem e a conversa vai criando intimidade entre ambos.
> Fotos
Assim que ganham a confiança, elas enviam e pedem fotos íntimas para esses homens, que também passam a enviá-las.
Em alguns casos, eles trocam também o número do WhatsApp.
> Golpe
Algumas semanas depois, o homem recebe uma ligação de um suposto pai, advogado ou delegado.
Esse criminoso informa que a jovem que se apresentou como adulta nas conversas e com quem o homem trocou fotos íntimas é, na verdade, uma adolescente.
Assim, a vítima teria cometido o crime de pedofilia e, para não ser denunciado ou preso, para ter a “ficha limpa” terá que pagar entre R$ 3.500 a R$ 5 mil.
> Legislação
Entre as dicas para não cair em golpes, o especialista de segurança em crimes cibernéticos Eduardo Pinheiro chama a atenção para a necessidade de conhecer a lei.
Estatuto da Criança e do Adolescente
Artigo 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: (Incluído pela Lei nº 11.829, de 2008). tem como pena reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.
Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de com ela praticar ato libidinoso tem como pena reclusão, de 1 a 3 anos, além de multa.
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