Investigadas mortes de 14 golfinhos em 2 meses no litoral do ES
Interações acidentais em redes de pesca e ingestão de plástico estão entre as razões de óbitos dos animais, apontam especialistas
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Somente nos últimos dois meses, 14 golfinhos foram encontrados mortos no litoral capixaba. O número chama a atenção dos defensores da vida marinha e levanta uma série de questionamentos sobre a importância de investigar as circunstâncias dessas mortes.
Os golfinhos, que são mamíferos marinhos conhecidos por sua inteligência e sociabilidade, são vitais para o ecossistema marinho. Compartilhando o mesmo habitat e alimentando-se dos mesmos peixes que os seres humanos, qualquer ameaça à sua saúde pode indicar um perigo potencial também para as pessoas.
Segundo João Marcelo Nogueira, diretor do Instituto Orca, responsável pelo monitoramento de encalhe de animais marinhos no Estado há mais de 30 anos, embora o número de golfinhos mortos possa parecer alarmante, é importante contextualizá-lo.
“Temos muitas famílias de golfinhos vivendo no litoral capixaba. Com o aumento significativo dessas famílias após a pandemia (de covid), podemos considerar esse número relativamente normal”.
No entanto, as causas dessas mortes não podem ser negligenciadas. Nogueira aponta diversos fatores que podem contribuir para o óbito dos golfinhos, desde interações acidentais em redes de pesca até a ingestão de plástico, colisões com embarcações e doenças como pneumonia, que foi identificada em um dos animais mortos.
A investigação dessas mortes assume papel importante, não somente para entender as condições em que as famílias de golfinhos estão vivendo, mas também para alertar sobre possíveis ameaças ao meio ambiente marinho.
“Cada golfinho que vem a óbito passa por uma necropsia minuciosa. Amostras são coletadas e encaminhadas para análises em universidades. Após seis meses, recebemos os resultados e nossos veterinários emitem laudos sobre a causa da morte”, afirma Nogueira.
Diante da estreita relação entre a saúde dos golfinhos e a segurança alimentar humana, a investigação dessas mortes assume caráter urgente. “É fundamental compreender e mitigar os fatores que ameaçam a vida marinha, garantindo a preservação não apenas dos golfinhos, mas de todo o ecossistema marinho capixaba”, completa o diretor do Instituto Orca.
Saiba mais
O Instituto Orca realiza a necropsia de cada animal encontrado morto, coleta o material e encaminha às universidades, que fazem as análises e investigações.
Há um prazo de seis meses, e esse material é devolvido para o instituto, e são os veterinários locais que emitem o laudo de causa da morte.
O trabalho de investigação busca também entender as condições que as famílias dos golfinhos vivem, e a segurança alimentar humana, já que esses animais marinhos ingerem os mesmos peixes que os humanos.
Em caso de encalhe de animais marinhos, o Instituto Orca pode ser acionado pelo 0800-039-5005 (Espírito Santo) e 0800-026-2828 (Rio).
De volta ao mar
Apesar da morte de 14 golfinhos no litoral do Estado, um dos animais encontrados teve condições de voltar para o mar de Anchieta, na última quinta-feira. O Instituto Orca recebeu o acionamento de encalhe de um animal da espécie dentes rugosos, macho, de aproximadamente 1,80m, na praia de Ubu, e com a avaliação de que o animal estava ativo e hígido.
“Apesar de o golfinho apresentar amputamento do lado direito da nadadeira caudal, já cicatrizado, estava com condição corpórea muito boa. O animal recebeu atendimento e retornou ao mar”, contou o diretor do instituto, João Marcelo Nogueira.
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