Imigração italiana no ES em destaque para o mundo
Renzo Grosselli fala sobre seu livro “Colônias Imperiais na Terra do Café”, que chama atenção para pioneirismo capixaba
Escute essa reportagem
O sociólogo italiano Renzo Grosselli, autor do livro “Colônias imperiais na terra do café: camponeses trentinos (vênetos e lombardos) nas florestas brasileiras, Espírito Santo, 1874-1900”, com primeira edição lançada em 1986, conta que a obra chamou a atenção do mundo para o pioneirismo do Espírito Santo na imigração italiana no Brasil.
No Estúdio Tribuna Online, Renzo falou sobre como foram essas pesquisas e como vê a preservação da cultura no Estado hoje.
A Tribuna – O que diferenciou o Espírito Santo de outros estados do Brasil nas suas pesquisas?
Renzo Grosselli – "Os primeiros imigrantes, o grupo consistente de pessoas culturalmente italianas que chegou ao Brasil, foi um grupo de trentinos, ou tiroleses italianos, que vieram para o Espírito Santo exatamente no comecinho de fevereiro de 1874.
Era um pouco menos de 400 pessoas e não chegaram para entrar numa colônia de povoamento pública do estado imperial, era uma colônia particular, onde hoje está o município de Aracruz.
Vieram para esse empreendimento de Pietro Tabacchi. Está documentado no Arquivo Público do Estado do Espírito Santo. Eu fiquei pesquisando anos nos arquivos italianos, seis meses direto no Arquivo do Estado.
Foi até uma surpresa grande, porque eu tinha pesquisado no arquivo de Santa Catarina, no do Paraná até aquele momento, e não tinha a organização e a quantidade de documentação que eu encontrei aqui sobre aquele período que era de meu interesse, digamos, anos 1870, final do século XIX."
- Aqui o que você encontrou de diferença entre Vitória em relação ao Sul do Brasil e cidades do interior?
"Digamos que Vitória e Florianópolis, em Santa Catarina, não eram muito diferentes, eram urbanas.
E no interior eu não encontrei nada de diferente, se tomarmos como exemplo o estado de Santa Catarina: o lugar dos tiroleses italianos que vinham de Trento naquele estado eram Nova Trento, Rodeio, Rio dos Cedros, entre outras.
No Espírito Santo, entendemos logo que o lugar dos primeiros camponeses que chegaram aqui virou Santa Teresa. Nas décadas seguintes, Venda Nova e outros."
- Como eram suas pesquisas?
"Eu subia a região serrana só no sábado e no domingo, porque o resto da semana eu tinha que pesquisar no Arquivo Público. Eu planejei pesquisar três meses, encontrar a documentação que precisava, mas não foi assim. Encontrei muito mais. Foram seis meses."
- Aqui no Espírito Santo temos muito orgulho de dizer que somos descendentes de italianos. O que você percebeu: temos mais diferenças ou mais semelhanças?
"Vocês, a italianidade do Espírito Santo, de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, especialmente, têm uma ligação forte e importante com a Itália. Mas se tiver gente que se sente italiana, eu digo, pensem bem! Eu, Renzo Maria Grosselli, sou brasileiro, não tenho cidadania brasileira, mas sinto-me brasileiro e nasci na Itália e vivi décadas na Itália.
Vocês teriam que ser exatamente orgulhosos de ter o que é bom do Brasil, que é muito bom do Brasil, e o que tem de bom da Itália, que é muito. Não somos nem melhores nem piores do que os outros. Dos luso-brasileiros, dos negros, ex-escravos e indígenas.
Claramente, os nossos antepassados lutaram aqui bravamente, mas também os alemães, os poloneses. Mas, olha, o governo imperial distribuía a terra aos europeus, não aos nordestinos, não aos ex-escravos."
- Foi aqui essa primeira colonização em massa. E como é que fica isso em relação aos outros estados que reivindicam para si esse protagonismo?
"Eu não posso, nem quero afirmar que a imigração italiana, digamos, no Brasil, começou no Espírito Santo assim, imediatamente.
Tem gente dizendo que em Santa Catarina, em 1836, chegaram 200 camponeses, provavelmente, do reino da Sardenha, que era Piemonte e Sardenha, na realidade. Mais de 40 anos antes da grande imigração. Não deu certo, deu problemas grandes. Agora, naquele lugar, não tem nada de italiano.
Eu escrevi no livro de 1986: “O primeiro grande grupo que deu o começo à grande imigração culturalmente italiana no Brasil foi o grupo Tabacchi, que chegou no Espírito Santo”.
Eu não entro na batalha, eu não digo que os 100, 150 anos tenham que começar aqui. Sabe o que eu digo? A imigração italiana de massa começou no Brasil em 1874, 1875.
E começou no Espírito Santo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Paraná. E há quem me diz: 'Mas chegaram italianos na Bahia!'. Sim, também em Pernambuco, nos anos 30, mas grupinhos que não deram aquela acelerada."
Quem é
Nome: Renzo Maria Grosselli.
Idade: 72 anos.
Nascimento: Trento, Itália.
Profissão: Sociólogo e historiador.
Livros: Com coautorias e autorias são 33. O mais recente é “Emigração do Trentino da Grande Guerra à Derrota do Nazi-fascismo”.
Sua obra “Colônias imperiais na terra do café: camponeses trentinos (vênetos e lombardos) nas florestas brasileiras, Espírito Santo, 1874-1900”, de 1986, desperta o Espírito Santo para o protagonismo na imigração italiana no Brasil e ao mundo.
Comentários