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Cidades

Histórias do padre que escapou de bombas na África

O africano Mukabi Misik Senga, 65, contou que precisou fugir de Angola, país que vivia uma guerra civil em 1991


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Imagem ilustrativa da imagem Histórias do padre que escapou de bombas na África
Mukabi Misik Senga Pierre é pároco na igreja São Tiago Maior, em Setiba, Guarapari: em 2000, ele começou sua trajetória como padre no Estado |  Foto: Roberta Bourguignon

Prestes a completar 32 anos de sacerdócio, o padre Mukabi Misik Senga Pierre, 65, nascido na República Democrática do Congo, na África Central, relembra o início de sua trajetória  como religioso. Em  1991, ele precisou escapar até de bombas para continuar a caminhada.

Foi em Angola, onde acontecia uma guerra civil, as estradas tinham muitas minas com bombas e as  explosões eram frequentes.

“Eu fiquei em Angola por seis meses e, na eleição presidencial, a população não concordou com o resultado e iniciou uma guerra civil. Eu já tinha passado em estradas e não havia encontrado nenhuma bomba. Mas  olhei para trás e vi muitos carros passando pelas minas com as bombas, e os caminhões explodindo”.

Ele contou ainda que viu um caminhão de água explodir e “voar” ao passar por uma bomba. “Foi triste ver aquilo de perto. Muitos padres e freiras já tinham morrido ali, e fui aconselhado a ir para Namíbia, para sair da guerra. Então deixei Angola”, lembra o padre.

Pierre disse que um grupo de militares alemães tentava ajudar a identificar as minas para desarmar as bombas, mas a guerra levou muito tempo para acabar.

Foi após chegar na Namíbia que Pierre foi enviado ao Brasil em 1992 pela primeira vez para aprender a falar português. Em dois meses, ele aprendeu a língua e pediu para continuar até que a guerra em  Angola cessasse. 

Depois de um tempo, ainda fecharam os canais de comunicação entre o Brasil e a África, e o padre teve de ficar em São Paulo. 

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Pensando em resolver seu destino, Pierre então voltou para a Namíbia mas, ao chegar ao local, não tinha paróquia para assumir e foi destinado ao Brasil novamente para entrar em cursos. 

Só que o padre não iniciava de fato sua missão na igreja, e isso começava a preocupá-lo. Pierre já falava francês e português, então tinha a confiança que poderia ficar no Brasil. Mas sem exercer sua profissão, passou a estudar. 

Morando em Salvador, o padre  foi aprovado na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, e passou a estudar Filosofia. 

Pierre conseguiu uma bolsa da universidade e terminou o curso sem ajuda financeira da igreja. Apesar de ter sido ordenado como padre em 1° de agosto de 1991,  sua trajetória como  padre só  começou em 2000, um ano após chegar ao Estado, conhecer o padre Tarcísio Caliman e ser aprovado como um padre da Arquidiocese de Vitória.

Pároco é doutor e professor

Imagem ilustrativa da imagem Histórias do padre que escapou de bombas na África
Padre Mukabi Misik Senga chegou à igreja São Tiago Maior em 2017 |  Foto: Roberta Bourguignon

A trajetória do padre Mukabi Misik Senga Pierre, 65, pelo Espírito Santo é marcada por obras em igrejas e também como professor.

É que, além de pároco na igreja São Tiago Maior, em Setiba,  Guarapari, Pierre é professor universitário e terminou seu doutorado recentemente.

Na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, fez mestrado e doutorado em Filosofia, e o sangue de professor veio do pai, que exercia essa profissão. 

“Meu pai sempre me ensinou que o conhecimento nos daria possibilidade de sempre crescermos como pessoa. Então eu nunca deixei de estudar. Já dei aula em faculdades de Guarapari e atualmente leciono em Vitória. É sempre um prazer para mim”. 

Pierre chegou a Guarapari em 2006 e foi para a igreja São Tiago Maior em 2017. Ele conquistou a confiança dos religiosos, organizou  os setores de trabalho da paróquia, delegou responsabilidades aos paroquianos, acreditando no potencial e capacidades de cada um, respeitando individualidades e limitações. 

Pierre ergueu templos que não existiam e iniciou  a construção da Igreja paroquial de Nossa Senhora de Lourdes,  em Santa Mônica.

Ao povo, ele diz que basta acreditar no poder de Deus e em sua força e capacidade para a realização de qualquer projeto.

Olhando o passado de mais de três décadas como padre no Brasil, declara que não se vê em outra função. “Sou encantado com esse meu dom de servir e me dedico a isso”.

Roteiro religioso criado por Mukabi

Imagem ilustrativa da imagem Histórias do padre que escapou de bombas na África
Peregrinos durante caminhada |  Foto: Roberta Bourguignon

Inspirado no Caminho de São Tiago de Compostela, na Espanha, Guarapari ganhou um novo roteiro religioso para ser contemplado,  criado a partir de uma ideia do padre Mukabi Misik Senga Pierre,  responsável pela Paróquia São Tiago Maior, em Setiba.

Ele decidiu buscar, pela caminhada, uma maneira de contemplar a natureza e expressar a fé. 

“A ideia do Caminho de São Tiago  é uma devoção, um caminho espiritual, feito em grupo ou individualmente.  Na Espanha, são muitos trajetos que chegam ao santo. Aqui, começamos com um primeiro, mas a ideia é criarmos outros. Pode sair do Centro, da região de montanhas em Buenos Aires ou de vários outros lugares”.

O padre observa que, na natureza, é possível conversar com Deus e refletir sobre a vida.

“O caminho é   para contemplar a natureza e ir conversando com Deus. O novo roteiro turístico religioso nos leva a conhecer São Tiago e as belezas de Guarapari”.  

O percurso é feito por nove quilômetros. Quem desejar fazer o caminho,  deve procurar a paróquia pelo WhatsApp  (27) 99705-1725.

A II Caminhada de São Tiago acontece no próximo dia 23, com saída às 6h30 na  pracinha da igreja. O encerramento com a missa será às 10h30 no pátio da igreja.

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