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Fala Doutor

Menstruação precoce aumenta risco de câncer de mama

Outros fatores que podem desencadear tumor na mama são obesidade, tabagismo e sedentarismo, segundo especialista


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Imagem ilustrativa da imagem Menstruação precoce aumenta risco de câncer de mama
Maria Cristina Figueroa: “Fator protetor é engravidar antes dos 30 anos” |  Foto: Divulgação

Estima-se que o câncer de mama tenha 74 mil novos casos em 2023, de acordo com estudo anual divulgado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca). Apesar de não ter somente uma causa, além da idade, obesidade, sedentarismo e tabagismo estão entre os fatores de risco.

A menstruação precoce, abaixo dos 12 anos, também aumenta o risco de desenvolver a doença, de acordo com a oncologista clínica Maria Cristina Figueroa, professora da disciplina de Oncologia Clínica da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS).

A médica conversou com a reportagem de A Tribuna durante a 2ª edição da Academia para Mídia e Pacientes em Informação e Ciência (Ampic), na 17ª edição do Congresso Câncer de Mama, em Gramado, no Rio Grande do Sul.

A Tribuna – Estamos tendo mais casos de câncer de mama em mulheres mais jovens?
Maria Cristina Figueroa – Temos um estudo brasileiro, do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, mostrando que mulheres abaixo de 40 anos estão sendo mais diagnosticadas com câncer de mama, comparado com antes dos anos 2000. Vemos que essa vertente está acontecendo também em outros locais do mundo.
Estamos percebendo essa modificação da doença, acometendo mulheres mais jovens.

Existe uma explicação para esse aumento?

Há algumas explicações. Normalmente, o surgimento do câncer é multifatorial. Difícil denominarmos um culpado, exceto quando tem situações muito pontuais, como questões hereditárias e familiares.
Na grande parte das vezes, as questões comportamentais são muito importantes. Nos últimos anos, temos mulheres optando por não terem filhos ou adiando essa maternidade, e entendemos como fator protetor engravidar antes dos 30 anos.
Temos também cada vez mais mulheres em cargo de alta liderança, estressadas, não conseguindo dormir adequadamente, tendo um excesso de exigências tanto no mercado de trabalho quanto em suas vidas.
Há também mais mulheres indo para uma área de aumento de alcoolismo, inatividade física, ganho de peso, consumo de alimentos ultraprocessados e, com isso, temos um “celeiro” para o aumento de diagnóstico do câncer de mama.

Não amamentar também aumenta o risco da doença?
Na ciência, isso ainda não é bem elucidado. Temos, até o momento, com alguns estudos, que a modificação que ocorre na mama da mulher, no momento em que ela está gestando e amamentando, provoca uma maturidade das células das glândulas mamárias.
Quanto mais tenho células maduras, ou seja, que essas células não tenham risco de se modificar, tenho maior proteção dessa mama. Existe um desenvolvimento peculiar da mama feminina, no momento em que ela gesta e amamenta, e esse desenvolvimento cria um ambiente anti-inflamatório. É como se meu sistema imunológico começasse a ser mais vigilante em relação a qualquer crescimento inadequado de células, por exemplo, do câncer.

Amamentar então é fator de proteção?
Sim. Porém é importante ressaltar que quem decidiu não ser mãe, não há problema nisso, mas é importante conhecer esse risco. Esses fatores são de risco, não são determinantes. Porque vemos mulheres que são mães e tiveram câncer de mama.

Menstruar antes dos 12 anos eleva o fator de risco de ter o câncer de mama?
O principal tipo de câncer de mama é o hormônio dependente. Se as mulheres menstruam mais tarde, têm filhos e, eventualmente, não fazem reposição hormonal, o tempo de exposição ao hormônio para essas mulheres é menor do a mulher que menstrua mais cedo, não teve filhos e ainda vai fazer terapia de reposição hormonal.

Seria o caso de tentar retardar a primeira menstruação?
Em alguns casos sim. Deve-se ficar bem atento a isso, principalmente hoje, em vigência do estímulo que as meninas estão tendo e entrando na puberdade de forma precoce.

Para quem não amamentou ou não teve filho, não seria o caso de iniciar um diagnóstico mais precoce?
Quando temos exames de rastreamento, vamos levar em consideração a prevalência da doença e o teste adequado que tenha impacto na redução de mortalidade daquela doença. Até o momento, a mamografia é o principal exame, porém não é o melhor exame para mamas mais jovens, por serem mais densas. Essas mamas podem camuflar alguma alteração.
A minha dica é manter a mamografia a partir dos 40 anos de idade. Mas não se esquecer de examinar essa mulher, porque assim vamos perceber se a mama dela é mais densa ou não. Mulheres com histórico de câncer de mama na família devem procurar atendimento médico com mais antecedência, a partir dos 25 anos e talvez nessas mulheres tenha de se personalizar a investigação.

Existe relação entre o consumo de bebida alcoólica e o câncer de mama?
Pergunta da leitora Camylla Sodré, 32 anos, designer de unhas
Ainda é controverso, na literatura, se é permitida pouca ingestão de bebida alcoólica ou não. Oriento, de forma geral, um equilíbrio. Se for para consumir, que seja uma taça de vinho por semana e não extrapolar isso. Existem estudos que mostram que melhor seria nenhuma exposição à bebida.


FIQUE POR DENTRO

Cerca de 17% dos casos de câncer de mama podem ser evitados com a adoção de hábitos saudáveis como praticar atividade física, manter o peso corporal adequado, evitar o consumo de bebidas alcoólicas e amamentar.

O sintoma do câncer de mama mais fácil de ser percebido pela mulher é um caroço no seio, acompanhado ou não de dor. A pele da mama pode ficar parecida com uma casca de laranja; também podem surgir pequenos caroços embaixo do braço. Deve-se lembrar que nem todo caroço é um câncer de mama. Por isso, é importante consultar um profissional de saúde.

o Ministério da Saúde recomenda que a mamografia de rastreamento (exame realizado quando não há sinais nem sintomas suspeitos) seja ofertada para mulheres entre 50 e 69 anos, a cada dois anos.

O tratamento do câncer de mama depende da fase em que a doença se encontra (estadiamento) e do tipo do tumor. Pode incluir cirurgia, radioterapia, quimioterapia, hormonioterapia e também terapia biológica (terapia-alvo).

Elucidado - Está explícito; que foi esclarecido ou explicado.
Hormônio dependente - Tumor que se “alimenta” do hormônio para crescer no organismo.

OS NÚMEROS

74 mil casos novos de câncer de mama estão previstos por ano até 2025 no País
17.825 mulheres morreram com a doença em 2020

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