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Cidades

Dez motivos que levam famílias a buscarem ajuda de psicólogos

Problemas escolares dos filhos, uso abusivo de álcool e drogas e dificuldades de se comunicar estão entre eles


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Imagem ilustrativa da imagem Dez motivos que levam famílias a buscarem ajuda de psicólogos
Naira Caroline Chaves diz que mudanças nas famílias levam ao psicólogo |  Foto: Kadidja Fernandes/AT

Diante dos desafios e das demandas do mundo moderno, famílias enfrentam situações complexas que podem afetar seu bem-estar e relacionamentos. Para lidar com esses fatores, há uma busca por terapia.

A pedido de A Tribuna, especialistas em famílias listaram os 10 motivos que mais levam as famílias a buscarem apoio emocional.

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Dificuldade de comunicação, problemas escolares dos filhos, uso abusivo de álcool e drogas e dificuldade em lidar com questões de gênero e sexualidade estão entre as causas apontadas pelos especialistas.

“Quadros de depressão e ansiedade também são muito prevalentes e aumentaram bastante, principalmente, no período da pandemia”, destaca a psicóloga especialista em intervenção sistêmica com famílias e presidente da Associação de Terapia Familiar do Estado (Atefes), Suzana Pittol.

 As mudanças que as famílias têm passado também são motivos para a procura por auxílio de especialistas, de acordo com a psicóloga e especialista em terapia da família, Naira Caroline Chaves. 

“Esses novos arranjos de laços parentais biológicos ou não biológicos, afetivos com contratos formais e informais, enfim, inúmeros desenhos têm feito com que as pessoas busquem um entendimento maior desse agrupamento familiar e formas de transformar uma casa em um lar para todos”.

“Isso requer compreensão do ponto de vista de cada um, por isso a terapia tem sido muito buscada”, ressalta a especialista que utiliza a técnica sandplay, método criativo em que o paciente pode “ver” a forma como se relaciona em casa.

Segundo a psicóloga Cecília Rocha, é muito comum a família buscar ajuda profissional quando percebe que as relações seguem um mesmo padrão já há algum tempo e todas as tentativas de mudança não resultaram em melhora. 

“Gosto sempre de ressaltar que o fato da família buscar ajuda é muito positivo, pois mostra que, pelo menos nesse ponto, existe um consenso:  todos querem melhorar”.

O psicopedagogo, terapeuta familiar e colunista de A Tribuna, Cláudio Miranda ressalta que na relação familiar, como em qualquer relacionamento, há todo momento surge um problema ou um desafio a ser superado.

“Nem sempre se consegue solucionar sozinho o problema. É nessa hora que as pessoas podem buscar ajuda de um terapeuta”.

Auxílio para crianças serem adultos saudáveis

Imagem ilustrativa da imagem Dez motivos que levam famílias a buscarem ajuda de psicólogos
Regiane Nunes e Charles Augustus com os filhos Alice e Francisco e seu pet |  Foto: Sannyel Wataro/Divulgação

Iniciar um acompanhamento psicológico ainda na infância pode trazer bons resultados na vida adulta, segundo especialistas. Eles afirmam que crianças que fazem terapia podem ser adultos mais saudáveis, já que terão mais habilidades para lidar com conflitos e emoções.

Psicóloga infantojuvenil e doutora em psicologia, Fernanda Caprini  lista entre os principais motivos que têm levado as famílias a buscarem ajuda terapêutica para crianças e adolescentes  os problemas  como os transtornos de ansiedade e a depressão.  

“Quanto antes essa criança ou adolescente conseguir desenvolver repertório para lidar com as suas dificuldades, melhores serão as projeções do seu desenvolvimento. Além disso, o processo terapêutico permite que a criança ou adolescente vá se percebendo cada vez mais competente para lidar com as suas adversidades”, explica.  

“Isso aumenta o senso de autoeficácia e auxilia na construção de crenças centrais de competência e valor, que vão auxiliar e fortalecer esses adultos em direção a uma maior saúde mental”, completa Fernanda.

A psicóloga, terapeuta de família  e casal, e membro da diretoria da Associação de Terapia Familiar do Estado (Atefes) Luciana Vello frisa que a terapia para crianças e adolescentes promove reintegração familiar, social e escolar, ajuda no enfrentamento de problemas e previne novos episódios quando adultos, garantindo melhor qualidade de vida.

A busca por ajuda em psicoterapia para crianças também tem crescido, destaca a psicóloga Daniela Reis e Silva, diretora do Instituto Acalanto, em função da conscientização de que criança sofre e que precisa receber o tratamento multidisciplinar adequado para os mais diversos tipos de problema. 

“Grande destaque tem sido dado ao que chamamos de experiências adversas na infância e seus impactos na vida mental de adultos, podendo ser considerados fatores de risco para o surgimento de transtornos psiquiátricos graves”, alerta Daniela.

“A intervenção precoce é de extrema valia, e o cuidado integral deve ser implementado por meio de políticas públicas eficazes interligando setores como saúde, assistência e educação, entre outros”, completa.

BUSCA APÓS DIAGNÓSTICO 

Quando o estudante Francisco Nunes Lopes, hoje com 11 anos, tinha apenas 3 anos de idade, ele recebeu o diagnóstico de deficiência intelectual. 

Passar pela investigação, sintomas,  até chegar no diagnóstico foi um  período  difícil para a família, como relata sua mãe, a psicanalista especialista em emoções de pais de crianças atípicas Regiane Nunes Lopes, 38.

“Aos 3 anos, ele começou nas intervenções e eu comecei a entrar em desequilíbrio emocional. Ficava nervosa, chorava a qualquer hora, me culpava por não conseguir dar conta de muitas tarefas. No início, não foi fácil entender e aceitar, até por isso eu estudei e me tornei psicanalista”, contou.

Só que até chegar nesse estágio, Regiane e o marido, Charles Augustus Figueira Lopes, 50,  foram para terapia, assim como a filha Alice Nunes Lopes, 13. 

“Fui atrás de ajuda, mas troquei de profissional por não me sentir entendida. Consegui uma pessoa maravilhosa e incentivei meu marido a ir também. No início, fazíamos separados, depois fomos os dois juntos. Hoje já fazemos algumas sessões a família toda”, conta.

“A terapia nos trouxe equilíbrio individual e familiar. As crianças estão na adolescência, e ela se torna mais necessária ainda. Na terapia, me reencontrei como pessoa, esposa, mãe e o melhor: voltei a estudar e me tornei psicanalista, para ajudar mais famílias como a minha. Não é fácil aceitar que você precisa de ajuda,  que precisa sair de onde está para evoluir”, afirma Regiane.

“Apoio foi fundamental”

A empreendedora Alcidileia Costa Ribeiro, 43, procurou pela terapia de família quando o filho mais velho, Mateus Costa Feu, 27, tinha ainda 2 anos de idade.

Mateus nasceu com uma síndrome  rara, a artrogripose múltipla congênita (caracterizada por múltiplas contraturas articulares, de caráter estacionário, presente ao nascimento) e para lidar com todas as questões envolvendo a síndrome, a família buscou ajuda.

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Alcidileia Costa com os filhos Calebe, Daniel e Mateus: todos fizeram terapia em algum momento de suas vidas. “Indico o apoio terapêutico a qualquer pessoa”, frisa Alcidileia |  Foto: Acervo Pessoal

"Ele se tratou em Brasília e foi lá que iniciamos a terapia, sendo que na época eu era mãe solteira. Fui mãe muito nova, tive sérios problemas psicológicos e teve época de eu ficar à base de medicamento. Precisei ensinar meu filho a se superar. Tivemos de fazer muitas adaptações”, conta.

Hoje, Mateus é casado e trabalha com marketing digital e orientação para casais. “Ele é muito bem resolvido emocionalmente. Ele se superou e vem se superando”, conta.

Além de Mateus, a empreendedora é mãe também de Daniel Costa Ribeiro, 20, e Calebe Costa Ribeiro, 13. Daniel também passou por terapia com a mãe, quando em uma época perdeu o interesse pelos estudos. 

Atualmente, ela conta que o filho Calebe é acompanhado por uma neuropsicopedagoga, já que tem transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH). “O apoio terapêutico foi  fundamental para minha família e eu indico”.

ENTENDA OS PROBLEMAS

1 Ansiedade e depressão

A psicóloga Livia Entringer afirma que a pandemia trouxe muitos desafios às famílias, seja pela mudança de rotina,  pelo isolamento, novas necessidades e modelos de convivência. 

O terapeuta de família Cláudio Miranda frisa também que a pandemia agravou e fez aumentar os casos de ansiedade, depressão e tristeza, fazendo com que mais pessoas buscassem ajuda.

2 Diagnósticos médicos

A descoberta de condições, nos filhos,  como autismo, transtorno de déficit de atenção (TDAH) ou deficiência intelectual podem provocar conflitos na família até a aceitação do diagnóstico.

Especialistas afirmam que receber  notícias sobre transtornos têm levado famílias a buscarem ajuda psicológica  para aprenderem a aceitar,  lidar com as emoções e, nos desafios,  terem mais equilíbrio emocional.

3 Mudanças nas configurações

A psicóloga Naira Caroline Chaves explica que a família tem passado por muitas mudanças e nem sempre a família nuclear é aquela que se forma em torno de um casal. Novos arranjos de laços parentais biológicos ou não biológicos, afetivos com contratos formais e informais, entre outros desenhos,   têm feito com que as pessoas busquem um entendimento maior desse agrupamento familiar.

Há também uma busca por transformar uma casa em um lar para todos, e isso requer compreensão.

4 Falta de comunicação harmoniosa

A psicóloga Suzana Pittol diz que falta de diálogo é um dos principais pontos que levam  à terapia.

O déficit na comunicação entre os membros da família pode gerar uma série de problemas e desafios, impactando a ocupação do relacionamento e o bem-estar de todos. Quando a comunicação falha, ocorrem mal-entendidos, ressentimentos e distanciamento emocional.

5  Dependência 

O vício em drogas, bebidas e  até por eletrônicos também entra como motivos da procura por terapia familiar. A busca por drogas pode levar a problemas financeiros, isolamento social, mentiras e ruptura familiar. 

Já no caso de eletrônicos, o vício  pode ocasionar  isolamento emocional, redução da interação familiar e negligência de outras atividades importantes.

6 Brigas constantes

 A psicóloga Cecília Rocha   destaca que é muito comum a família buscar ajuda profissional quando percebe que as relações seguem um mesmo padrão, com brigas  já há algum tempo, e todas as tentativas de mudança não resultaram em melhora.

7 Dificuldades entre casal

A psicóloga  Luciana Vello lista como conflitos mais comuns entre os  casais, que buscam por ajuda, as  brigas por poder, falta de comunicação, sexualidade e traição.

Especialistas explicam que os conflitos conjugais são uma parte natural  no relacionamento, e é normal que surjam diferenças de opinião, desentendimentos e desafios de comunicação. No entanto, quando esses conflitos se tornam frequentes, intensos e não são resolvidos, podem afetar profundamente o relacionamento e a harmonia familiar.

8 Abuso

Psicólogos e terapeutas de família destacam que a violência familiar e o abuso estão entre os motivos da ida à terapia.

Especialistas afirmam que as vítimas de abuso e os membros da família enfrentam níveis de estresse. Além disso, as reações das vítimas podem ser intensas e manifestar-se por meio de comportamentos como o uso de substâncias, ideação suicida e desaparecimento.

9 Dificuldades escolares

Em crianças e adolescentes, a psicóloga Fernanda Caprini destaca que, além da ansiedade e depressão, a busca por ajuda é também para lidar com  dificuldades  escolares e de comportamentos, como agressividade e isolamento social.

10 Luto

Especialistas afirmam que o luto é uma experiência dolorosa e complexa que afeta todos os aspectos da vida familiar, sendo compreensível que, diante da perda de um ente querido, muitas famílias se sintam sobrecarregadas emocionalmente e busquem apoio terapêutico.

SAIBA MAIS

Terapia veio dos Estados Unidos

- O nascimento da terapia familiar é situado nos Estados Unidos, no final da década de 1950. 

- De acordo com a Associação de Terapia Familiar do Estado, não é possível estimar quantas famílias têm buscado terapia nos últimos anos. Mas terapeutas afirmam que é possível perceber o aumento pela procura, ainda mais após a pandemia.

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