Coletores indígenas ajudam no reflorestamento e garantem renda extra no ES
Sementes de espécies nativas da Mata Atlântica viraram fonte de renda para famílias da Cooperativa de Agricultores Indígenas Tupiniquim e Guarani
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É das sementes que vão nascer grandes árvores, plantas das mais variadas espécieis e que vão dar sombras, ar puro, preservar encostas, manter fontes de água e virar moradia de animais e vegetais.
Foi reflorestando áreas que já estavam devastadas que o Cacique da aldeia Guarani, Marcelo viu pela primeira vez, animais que nunca tinham aparecido por aqui.
"A gente tem uma missão de reflorestar e isso é bom porque os animais da floresta precisam comer, beber água, o ser humano também precisa de comer e beber água. E a floresta oferece tudo! É uma riqueza importante onde tem remédio, comida, sombra, ar puro pra gente respirar e ainda gerar água", disse o Cacique da Aldeia Nova Esperança que faz parte da Cooperativa Indígena de Coletores de Sementes.
Sementes de espécies nativas da Mata Atlântica viraram fonte de renda para famílias da Cooperativa de Agricultores Indígenas Tupiniquim e Guarani (Coopyguá) de Aracruz (ES). O projeto faz a coleta de sementes que são vendidas para reflorestamento e também usadas em artesanato e na culinária.
Os coletores estão diariamente caminhando pela mata e chegam a andar até 20km por dia. Trazem na palma da mão o que um dia se tornará uma árvore.
A boleira, por exemplo, é uma semente que é carnuda e que são colhidas cerca de 20kg dela. Em seguida, é limpa e depois é colocada pra secar.
Após a colheita das sementes é preciso garmazená-las de forma correta, pois os frutos nascem quando as sementes estão armazenadas em um ambiente favorável. Processo esse que é necessário muita dedicação e amor envolvido.
As sementes ficam em ambiente climatizado e com umidificador. Em cada saco de 23kg cabem em média 34 espécifeis de sementes. Em quase 1 ano de coleta, elas preencheram 182 sacos o que é possível para reflorestar uma área de 42 hectares e meio.
Danila Moraes Soares, coletora de sementes integrante da aldeia tupiniquim Comboios, afirma que a coleta de sementes é uma atividade ancestral dos indígenas, mantida há gerações.
"Aqui temos mais de 40 espécieis. Desde as leves e umas bem pequenas que quase não parece. Temos em torno de 6 a 7 meses pra ter todas essas espécifeis de sementes favoráeis para plantio", disse a integrante da aldeia tupiniquim Comboios, Danila Moraes Soares.
Após o plantio das sementes, elas ganham novos caminhos, novas terras, novos ares. No ano passado, dos mais de 2.200kg coletados, 1.400 foram colhidos em áeas da empresa Suzano, que é a maior produtora mundial de celulose com sede em Aracruz. Há um termo de parceria entre a empresa e a cooperativa, para que as coletoras tenham acesso livre as áreas de conservação.
A iniciativa integra o Programa de Sustentabilidade Tupiniquim-Guarani no Espírito Santo (PSTG), desenvolvido pela Suzano em parceria com as comunidades indígenas de Aracruz. Segundo consultor de desenvolvimento social da Suzano, Gerson Peixoto, o foco do programa é organizar e viabilizar a comercialização formal de produtos oriundos das terras indígenas.
"A gente tem uma iniciativa com a cooperativa índigena a Coopyguá onde a gente apoia toda parte de gestão e comerciaização dessa cooperativa, fazendo investimentos na parte de formação desses cooperados e auxiliando-na contabilidade, como administrar os recursos, vendas e comercialização", explicou Peixoto.
"Por ano, a gente tira uma base de 2 a 4 mil reais. E por mais que as pessoas falem 'vocês ganham só isso? Será que vale a pena?'.Mas pensamos que nem tudo é o dinheiro, nem tudo são valores. É o retorno que a natureza vai dar pra gente. A gente precisa deixar um legado. Porque a natureza vai continuar ali", finalizou a coletora de sementes, Danila Moraes Soares.
Na cultura indígena, o solo é sagrado, a natureza é mãe. E tudo que vem como graça tem respeito e devoção. E a floresta, esses hectares todos de área verde, parecem já agradecer tudo que já receberam um dia e nós também agradecemos.
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