Anestésico que matou “rainha do boi” foi apreendido 5 vezes este ano no ES
Djidja Cardoso foi encontrada morta na própria casa, no Amazonas. O mesmo anestésico já foi encontrado no Estado
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O uso abusivo da cetamina está no centro de uma investigação que apura a morte da empresária Djidja Cardoso, que atuou entre 2016 e 2020 como a personagem “sinhazinha” do Boi Garantido no Festival Folclórico de Parintins.
A empresária foi encontrada morta no último dia 28, em sua casa, em Manaus (AM). Ela, o irmão e a mãe já eram investigados por suspeita de envolvimento em um grupo religioso que, segundo a polícia, forçava o uso da droga para alcançar uma falsa plenitude espiritual.
Ampolas da droga foram encontradas na casa onde Djidja morava e em salões de beleza da família. Mãe, irmão e outros três funcionários da ex-sinhazinha foram presos pela Polícia Civil.
Do Norte do País para o Sudeste, ou melhor, para o Espírito Santo. Aqui, o Departamento Especializado em Narcóticos (Denarc) informou que já fez apreensões da substância, um anestésico comumente utilizado na mistura da cocaína por traficantes.
A Polícia Científica também confirma que o Laboratório de Química Forense da instituição recebeu sete apreensões de cetamina para serem analisadas: duas em 2023 e cinco neste ano.
À reportagem, o perito oficial criminal César de Souza Netto Rezende falou sobre os resultados das perícias.
O material que chega para ser analisado, segundo ele, vem de apreensões feitas pela polícia. “Normalmente, a cetamina é encontrada como adulterante da cocaína. Porém, nas apreensões citadas, a substância veio pura”, disse.
Assim como em Manaus, já houve uma morte no Estado. A substância foi detectada na amostra de sangue da médica Juliana Pimenta Ruas El-Aouar, de 39 anos.
Juliana foi encontrada sem vida no quarto do hotel em que ela e o marido estavam, no dia 2 de setembro do ano passado, em Colatina.
Consta na denúncia do Ministério Público que ela e o marido, o ex-prefeito de Catuji (MG) Fuvio Luziano Serafim, costumavam usar drogas juntos.
Na amostra de sangue da médica foi detectada a presença de cetamina, e outras substâncias como anfetamina, diazepam, nordiazepam, oxazepam, morfina, venlafaxina, lamotrigina, vomepromazina, midazolam e zolpidem.
Médicos falam sobre os riscos da utilização da substância
Afinal, a cetamina, também chamada de ketamina ou quetamina, de fato, representa um risco, pode até matar?
José Luis Leal de Oliveira, médico psiquiatra, membro da diretoria da Associação Psiquiátrica do Estado, explica que o fármaco possui uso restrito ao ambiente hospitalar e não pode ser comercializado para uso individual.
“Como droga para uso recreativo, a substância em geral é utilizada em forma de pó ou líquido ou comprimido, e os usuários as usam por via injetável, via oral ou inalada”.
Segundo ele, a cetamina é uma substância capaz de induzir dependência, sobretudo em casos de uso intensivo e crônico.
“O uso prolongado da cetamina pode resultar em déficit de cognição, aumento na pressão sanguínea, alterações no trato urinário, em especial uma insuficiência da bexiga denominada ‘bexiga de cetamina’, dores abdominais e, em casos graves, a perda da função dos rins. Também pode resultar em problemas no fígado e na vesícula biliar”.
Ele salienta que a cetamina usada como droga é capaz de provocar dependência química, causa aumento da tolerância, que é quando o usuário precisa aumentar progressivamente a dose consumida para obter o prazer desejado, aumentando cada vez mais a dependência e os riscos de complicações.
“Dentre as complicações como uso prolongado da cetamina estão a morte súbita”, explificou José Luis Leal.
O psiquiatra João Paulo Cirqueira conta que já atendeu pacientes que usaram a droga.
“Em geral, o paciente atendido em ambiente de pronto socorro durante a intoxicação por quetamina requer abordagem para redução da agitação, apresentando-se hipersensibilidade aos estímulos visuais e auditivos”.
A maior parte das internações em casos de intoxicação, segundo ele, requer o manejo de intoxicação de outras substâncias.
“A maior parte dos pacientes com transtornos de uso de substâncias apresentam outros diagnósticos psiquiátricos sendo fundamental a construção de planejamento terapêutico singular e multidisciplinar”, disse.
Tire suas dúvidas
1- Quais são os riscos da substância?
A substância cetamina (também grafada como quetamina ou ketamina, por causa de sua origem no inglês - ketamine) é um anestésico de uso humano e veterinário que se tornou uma droga ilícita na década de 1980.
Mas ela também é capaz de provocar dependência química, causa aumento da tolerância, que é quando o usuário precisa aumentar progressivamente a dose consumida para obter o prazer desejado, aumentando cada vez mais a dependência e os riscos de complicações, como destaca José Luis Leal de Oliveira, médico psiquiatra, membro da diretoria da Associação Psiquiátrica do Estado.
2- Como ela age no organismo? Quais os efeitos colaterais mais frequentes?
O psiquiatra João Paulo Cirqueira explica que os dois efeitos colaterais mais comuns do abuso de cetamina são problemas gastrointestinais e renais, sendo o efeito colateral mais frequente entre usuários a dor abdominal.
A causa da dor pode se associar a anormalidades no trato biliar pelo relaxamento da musculatura lisa. Outras complicações frequentes são as lesões hepáticas (fígado) e alterações urinárias associadas a cistite intersticial (irritação da bexiga).
Há relatos em usuários crônicos de quetamina de danos renais irreversíveis.
A cetamina é frequentemente usada com outras drogas. Dados de paciente atendidos em emergência apontam para o uso concomitante de cetamina com substâncias como álcool e cocaína.
3- Ela provoca alucinações?
O perito oficial criminal César de Souza Netto Rezende frisa que a substância é uma droga dissociativa, que proporciona uma sensação de estar desconectado do próprio corpo, provocando alucinações, entre outras manifestações. A substância, de acordo com ele, é usada em raves.
4- Ela pode matar?
O risco de morte aumenta com o uso crônico, contínuo e progressivo aumento da dose, em especial porque pode causar aumento da pressão arterial, com isso aumentando o risco de infarto, aneurisma, acidente vascular cerebral dentre outras complicações, o risco de complicações aumenta quando há associação com outros fármacos ou drogas como explica o psiquiatra Luis Leal de Oliveira.
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