Acidentes de trânsito matam duas pessoas todo dia no ES
Nos três primeiros meses do ano foram 196 mortes. Maioria das vítimas é do sexo masculino e tem entre 25 a 34 anos
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As rodovias que cortam o Espírito Santo se destacam pelas suas belas paisagens, mas, para muitas pessoas, esse traçado traz lembranças tristes e saudades de quem perdeu a vida após se envolver em acidentes de trânsito.
Somente neste ano, nos três primeiros meses, 196 pessoas morreram em acidentes de trânsito no Espírito Santo, o que equivale a uma média de duas vítimas fatais por dia.
Pelos dados que constam no Observatório da Segurança Pública do Espírito Santo, a maior parte das vítimas é do sexo masculino (84%) e tem entre 25 a 34 anos.
Infelizmente, se considerar este mês, as estatísticas continuam crescendo, já que mais pessoas perderam a vida nas estradas.
Nos exemplos, cinco pessoas de uma mesma família morreram em um acidente envolvendo duas carretas e dois carros na BR-101, em Presidente Kennedy, no Sul do Espírito Santo, próximo ao limite com a cidade de Mimoso do Sul, na madrugada do último dia 13.
Especialista em trânsito e membro do Movimento Capixaba para Salvar Vidas no Trânsito (Movitran), André Cerqueira, lamenta esse cenário e faz uma reflexão sobre esse cenário.
“Às vésperas do Maio Amarelo, mês em que o Brasil e o mundo buscam maior despertar e consciência para reduzirmos as diversas vidas perdidas no violento trânsito, ainda estamos derrapando para termos resultados objetivos”, lembrou.
No seu entendimento, o tema para este ano, “A Paz no Trânsito começa por você”, acertou em cheio, pois infelizmente a intolerância e agressividade no trânsito aumentaram bastante.
“Em nosso Estado, não obstante aos diversos esforços dos poderes de trânsito, nós ainda estamos distantes de obtermos um trânsito mais seguro e humano”, disse André Cerqueira, ao falar sobre os dados do Observatório da Sesp.
“Nos últimos anos, foram 2.407 mortes nas rodovias capixabas. Em 2021, 756 mortes; em 2022, 826 mortes em 2022; e, no ano passado, 825”, comparou.
Por fim, ele lamenta que o comportamento dos motoristas tem sido a maior causa dos acidentes fatais em rodovias, gerada por excesso de velocidade, falta de atenção e embriaguez.
Renata Aparecida Marques, dona de casa: “3 anos de dor e espera por justiça”
No último dia 04, Amanda Marques iria completar 23 anos. Só que há três anos, no dia 17 de abril de 2021, a jovem teve os seus sonhos interrompidos.
Amanda tinha ido à casa da mãe, a dona de casa Renata Aparecida Marques, de 43 anos, no bairro Jockey de Itaparica, em Vila Velha, com o noivo. Quando o casal seguia pela rodovia Darly Santos, na altura de Jardim Asteca, foi atingido por um carro de passeio, conduzido por Wagner Nunes de Paulo.
A jovem estava na garupa da moto e morreu no local. Seu noivo foi encaminhado a um hospital e teve alta dias depois.
Wagner deu entrada no sistema prisional no dia 18 de abril de 2021, ficou preso por um tempo, mas, em agosto de 2023, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) concedeu habeas corpus e ele aguarda o julgamento em liberdade.
Entre os argumentos dos ministros do STJ, consta que Wagner é réu primário e o atropelamento se trata de um crime sem violência intencional ou grave ameaça.
Entretanto, a mãe da jovem e o advogado da família, Fábio Marçal, dizem que o acusado dirigiu sob efeito de álcool, teria arrastado as vítimas e não prestou socorro.
A Tribuna – Como tem sido a sua vida sem a sua filha?
Renata Marques – "São três anos de saudades e dor. Eu, que sempre fui saudável, alegre, brincalhona, posso dizer que a minha vida acabou depois que a minha filha morreu. Enfrento uma depressão, estou com pressão alta, tenho crises de ansiedade e não sei mais sorrir."
- Ela era filha única?
"Não. Eu tenho um menino, de 6 anos, que é autista. Era a minha filha que me ajudava a cuidar dele. Dia desses, ele pegou uma foto dela e disse: 'Amanda, irmã', enquanto em seu semblante escorria uma lágrima. Ele me vê chorando pelos cantos e fala: 'Chora não, mamãe'. São três anos de dor e espera por justiça."
- O julgamento foi marcado?
"Ainda não. Sei que nada vai trazer a minha filha de volta, mas eu quero que ele seja condenado, assim vou poder viver o meu luto. Ele tem que pagar pelo que vez."
- Tem sonhado com ela?
"Tenho. Tempo atrás, em um dos sonhos, eu a abraçava, enquanto ela dizia: 'Vem mãe, vem mãe'.
Apesar de não ter vontade de viver, eu não luto só pela minha filha. Eu luto por todos, luto por uma legislação mais dura. Defendo que quem mata no trânsito, de forma automática, fique preso, principalmente aquele que bebe e assume a direção, como foi o caso do assassino da minha filha. Na verdade, quem fica preso somos nós, familiares das vítimas fatais. Ficamos presos na lembrança. Isso precisa mudar. Não vou desistir de lutar."
Números
Vítimas fatais no trânsito
2023 até março: 225.
Ao longo do ano todo, o número sobe para 825.
2024 até março: 196.
Esse número equivale a duas mortes por dia, em média.
Cidades com mais vítimas fatais
1º) Vitória: 12
2º) Colatina: 11
3º) Serra: 10
4º) São Mateus: 8
5º) Aracruz: 8
6º) Vila Velha: 7
7º) Linhares: 7
8º) Guarapari: 6
9º) Viana: 5
10º) Montanha: 5
Por sexo
Mulheres: 16%
Homens: 84%
Por idade
Acima de 75 anos: 7%
De 65 a 74 anos: 6%
De 55 a 64 anos: 15%
De 45 a 54 anos: 13%
De 35 a 44 anos: 18%
De 25 a 34 anos: 21%
De 15 a 24 anos: 19%
De 0 a 14 anos: 1%
Dias da semana
Domingo: 18%
Sábado: 18%
Sexta-feira: 12%
Quinta-feira: 12%
Quarta-feira: 17%
Terça-feira: 12%
Segunda-feira: 10%
Por horário
18 às 23h59: 38%
12 às 17h59: 20%
6 às 11h59: 24%
0h até 5h59: 18%
Tipo de via
Rodovias federais: 27%
Estadual e municipal: 73%
Fonte: Observatório da Segurança Pública do Espírito Santo
O que eles dizem
“Julgamento sem data”
“Ainda não tem data para o julgamento, tendo em vista que é preciso esgotar todos os recursos impetrados pela defesa do Wagner Nunes. Essa demora é uma tortura para a família. Mas a gente espera que consiga vencer essas barreiras que atrasam o processo. A família deseja justiça”.
- Fábio Marçal, advogado da família da jovem
“Sem intenção”
“Sobre a discussão da ocorrência de dolo eventual ou da culpa consciente, afirmamos que, a análise criteriosa das provas constantes nos autos, comprova que não há elementos que caracterizem o dolo do meu cliente. As evidências apontam para a ausência deste elemento intencional”.
- David Metzker, advogado de defesa do acusado
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