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Cidades

“A inteligência artificial não vai substituir professores”, afirma especialista

Especialista afirma que ferramenta pode oferecer suporte na sala de aula, mas não dispensa a figura do professor


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Imagem ilustrativa da imagem “A inteligência artificial não vai substituir professores”, afirma especialista
Murilo Carvalho diz que inteligência artificial pode ser suporte para aluno |  Foto: Aquiles Brum

A integração da inteligência artificial no cenário atual da educação tem se mostrado uma ferramenta promissora para potencializar o aprendizado dos alunos. Ela pode oferecer suporte e estimular o pensamento crítico dos estudantes dentro muitas tarefas. 

Mas o que ela não pode fazer é substituir o professor em sala de aula ou a escola. É o que garante o  engenheiro de produção Murilo Carvalho, especialista em educação e entusiasta do uso do ChatGPT na sala de aula.

Confira outras entrevistas do Estúdio Tribuna Online aqui

Para o especialista, a ferramenta pode ser vista como uma fonte de conhecimento, os alunos podem preencher lacunas, desenvolver habilidades e explorar novas ideias. 

No entanto, é crucial destacar que a inteligência artificial não substitui o papel do professor.

Ele  ressalta que a inteligência artificial conversacional, representada pelo ChatGPT, é uma revolução tão grande quanto a chegada do smartphone há alguns anos.

A Tribuna  - Como a inteligência artificial, o ChatGPT, pode ser usada em sala de aula?

Murilo Carvalho - Acho que é  importante  explicar primeiro o que é o ChatGPT. A gente ouve falar a sigla, que é um tipo de inteligência artificial um pouco mais avançada e, de fato, causou temor em muita gente. 

O ChatGPT é uma inteligência artificial conversacional. E é aí que está a grande diferença em relação às outras ferramentas de tecnologia que nós vimos até agora. 

É uma inteligência que consegue compreender aquilo que nós, humanos, falamos, dentro da nossa linguagem e, a partir daí, elaborar soluções. 

Particularmente, acredito que a inteligência artificial conversacional está bem no início e que ela pode ser uma revolução tão grande, ou até maior, que o smartphone.

Mas também  existe muito exagero em torno desse assunto. Toda vez que a gente recebe algo novo, isso causa um estardalhaço, um burburinho. O que é muito comum no início de qualquer adesão de nova tecnologia. Não é diferente com o ChatGPT.

Quando a gente fala dessa inteligência artificial conversacional que quebra os muros da comunicação entre humanos e máquinas, vemos que em todo o desenvolvimento da nossa sociedade o aumento da conexão foi o que acelerou o nosso desenvolvimento.

Como funciona?

Quando a gente faz uma pesquisa no Google ou quando fazemos uma programação, por exemplo, no computador, precisamos dar um comando para aquela máquina.  Se o aluno pede para o Google  pesquisar, por exemplo, sobre o  racismo estrutural, ele vai me entregar 10 ou 12 links com algumas opiniões sobre o que pode ser racismo estrutural, mas ele não vai conversar com o aluno. Ele não consegue interagir com o humano. 

Já a inteligência artificial conversacional, que é aquela que temos na figura do ChatGPT, consegue, por exemplo, cruzar determinadas informações que estão na internet e vai te entregar essa resposta cruzando todas as bases e conversando  como se fosse um humano. 

 É importante lembrar que  o ChatGPT é uma base off-line (não conectada à internet),  datada até dezembro de 2021, onde tem grandes conteúdos da internet guardados. Eles não divulgam o que está compondo para que essa inteligência aprenda, mas dentro do ChatGPT, por exemplo, tem toda a enciclopédia da Wikipédia, tem a Barça, algumas outras grandes fontes de informações,  mas eles não divulgam quais. E  a ferramenta consegue fazer essas associações e  conversar  como se fosse uma pessoa.  

O que estou falando aqui é só a ponta do iceberg.  Quando a gente consegue interagir desse jeito,  ganhamos várias  aplicações que  acredito que podem sim ser uma revolução maior do que o smartphone. Porque ela é um ganho de produtividade em todas as áreas, inclusive na área da educação. 

Não dá para negar e nem fingir que não existe. Acho que é pior a gente seguir por esse caminho. 

Porque há tanto medo da tecnologia dentro da educação?

Toda vez que temos algo novo chegando, e não só dentro da sala de aula, o primeiro movimento é uma repulsa e uma dualidade.

O ChatGPT, por exemplo, substituiu muitas funções do mercado de trabalho.  Esse medo é comum quando  alguma coisa nova chega. E, especialmente na educação, essa não é a primeira vez. 

Com a chegada da calculadora acharam que a matemática ia acabar e não foi o que aconteceu. Com  a calculadora  conseguimos fazer cálculos mais rápidos e a escola soube dosar o momento  com e sem a tecnologia,  para que o aluno pudesse desenvolver também o raciocínio. O mesmo aconteceu quando surgiu a internet.  Com o ChatGPT, vamos para um outro nível mais avançado de pesquisa. 

Assim como outras tecnologias, é necessário olhar com cuidado. Medo vai causar mesmo, e  é bom que se tenha, porque do mesmo jeito que não podemos negar, não podemos introduzir de qualquer maneira, ou não instruir o aluno no uso dessa tecnologia.

O mau uso dessa ferramenta pode ter consequências negativas. Ela pode diminuir a capacidade de formulação e estruturação de pensamentos em alguns alunos, então é importante ter cuidado ao usá-la na sala de aula.

Como o aluno pode usar o ChatGPT para melhorar o aprendizado dele?

A inteligência artificial pode ser uma bicicleta para o cérebro. Assim como o smartphone colocou muita informação na palma da nossa mão, tem o lado positivo e o lado negativo. E o GPT vai seguir o mesmo caminho.

É importante dizer, antes de tudo,   que o aluno precisa entender o que a tecnologia do ChatGPT é capaz e o que ele não é capaz de fazer. A fonte do ChatGPT, por exemplo. A ferramenta cruza  uma infinidade de fontes para prover uma resposta e não entrega aquela  autorizada ou referenciada.

 Então,  o ChatGPT não substitui a fonte de conhecimento, que é o professor. A inteligência artificial não vai substituir  professores ou a escola. A escola e o professor continuam com a autoridade sobre o conteúdo e isso a tecnologia não consegue trocar. 

Até porque, a ferramenta em si apresenta limitações, além da fonte da informação, os dados off-line com informações de 2021. Então, se o aluno procura alguma informação que aconteceu depois de 2021, o ChatGPT pode dar a informação errada.

Outro ponto é o viés de treinamento. Ele aprende de acordo com o que damos de interação a ele. O ChatGPT aprende a forma como falamos com ele, mas também aprende em linguagem geral.

Como o aluno pode usar essa ferramenta de forma eficiente?

O aluno pode aprender a fazer perguntas, que é uma coisa muito importante na educação.  Tem de saber  fazer as perguntas certas para o  ChatGPT, a gente chama de “alimentar o  comando”. 

Outra ajuda é  utilizar o chat como se fosse um tutor para preencher as lacunas de conhecimento de alguma matéria que ele está com dificuldade, por exemplo. 

O aluno  tem que ser desenvolvido para usar com segurança, de modo a ter uma opinião crítica em cima daquilo que vem sendo estudado. É por isso que o papel da escola é tão importante, vai ajudar o aluno a ter criticidade quanto ao que o ChatGPT responde.


Perfil

Murilo Carvalho

Engenheiro de Produção pela Universidade Federal do Espírito Santo.  

técnico em Gestão Empreendedora pelo Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes). 

Palestrante e cofundador da Gama Ensino e fundador da Luma Ensino. 

Especialista em Tecnologia para o Mercado de Educação com  mais de 10 anos de experiência.

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