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Brasil

Pisa: como são as questões da prova em que Brasil ficou entre os últimos?


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As questões do Pisa, cujos resultados foram divulgados nesta semana, são elaboradas por especialistas internacionais ligados à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), responsável pelo exame. Depois de revisadas por membros dos países participantes, são traduzidas nas várias línguas. O Pisa, em cada edição, divulga pouquíssimas questões feitas pelos alunos, principalmente porque elas podem ser usadas novamente em outros anos. Só duas perguntas do Pisa 2022 foram disponibilizadas na íntegra no relatório.

Os resultados do exame, que avalia alunos de 15 anos, foram divulgados na terça-feira, 5. Já com notas muito baixas ao longo das edições do exame, a nota do Brasil se manteve praticamente estável, mas subiu algumas posições no ranking. No País, 73% dos alunos ficaram nos níveis abaixo do básico em Matemática. A média da OCDE, de nações desenvolvidas, é de 31%.

Isso significa que eles têm dificuldades para fazer tarefas como aplicar operações matemáticas básicas ou interpretar textos simples. Não conseguem fazer contas com porcentagens ou distinguir fatos de opiniões. O Pisa 2022 mostrou que o desempenho dos estudantes tanto em Matemática quanto em Leitura nos países ricos durante a pandemia teve a maior queda da história.

Uma das questões de nível 2 apresentada no relatório mostrava um triângulo e pedia que o aluno indicasse a porcentagem relativa à quantidade de figuras que se repetiam dentro desse triângulo. A prova tem perguntas que vão do nível 1 ao 6.

Antes de fazer a porcentagem, o aluno precisa estimar qual seria o padrão de triângulos azuis e vermelhos numa eventual quinta linha. "Este item requer estender o padrão além do que é mostrado. Mede processo de formulação de situações matemáticas", diz o relatório.

No Brasil, só 16% dos alunos de 15 anos acertaram questões como essa. É o total que chegou ao nível 2 do exame. Em países desenvolvidos, 68,9% estão nessa etapa de desenvolvimento considerada necessária para "um participação plena na sociedade" segundo a OCDE.

A outra questão disponibilizada tem nível mais alto de dificuldade, nível 6, e apresenta uma tabela com porcentagens de área florestal em vários países em dois períodos de tempo. Os alunos precisam calcular qual foi a maior mudança. Como a prova é feita no computador, eles precisam também elaborar uma estratégia de utilização da planilha, com múltiplas operações.

"Possivelmente contribuindo para a dificuldade deste item está o reconhecimento de que a 'maior mudança' neste contexto não significa apenas um aumento, mas também pode significar uma diminuição na porcentagem de área florestal entre períodos de tempo", diz o relatório do Pisa. Segundo o texto, a questão cobra noções de interpretação, aplicação e avaliação de resultados matemáticos.

No Brasil, 0,2% dos estudantes conseguiram chegar ao nível 6. Entre os países da OCDE, são 2%. Mas em Cingapura, Taiwan, China e Hong Kong, o índice passa dos 10%. Segundo o relatório, esses jovens têm competências para resolver problemas mais abstratos e demonstram pensamento criativo, crítico e flexível para solucionar questões.

"O que demonstramos no Pisa não são conhecimentos e habilidades esperadas para jovens de 15 anos, e sim, para crianças de 11, 12 anos", diz o diretor executivo do Iede, Ernesto Faria, sobre o desempenho do Brasil. "O que precisamos é recuperar as defasagens de modo a ensinarmos em sala de aula o esperado para cada série. Não podemos aceitar a grande maioria dos alunos abaixo do nível 2."

Como o Estadão revelou, uma tabulação do Iede mostra que notas dos alunos mais ricos que estudam em escolas particulares no Brasil na prova de Leitura do Pisa é equivalente às registradas pelas nações do topo do ranking, como Estônia e pela Coreia do Sul. O desempenho seria suficiente para colocar o Brasil na 5ª posição global do ranking, divulgado nesta terça-feira.

Se considerar as redes pública e particular, os jovens brasileiros estão em 52º lugar (de 81 avaliados), entre a Moldávia e a Jamaica. Os números expõem como as diferenças de aprendizagem se acentuam conforme mais baixa é a origem socioeconômica do aluno quando um país não investe na educação para eliminar esse déficit.

Já em Matemática, os brasileiros de classe alta ficariam em 29º, um ponto abaixo da média dos países da OCDE. Mesmo assim, acima dos Estados Unidos e Noruega, com 471 pontos. No ranking geral, Brasil aparece em 65º lugar.

As questões do triângulo e da área florestal são usadas mais de uma vez na prova, mas com níveis diferentes de dificuldades. Pergunta-se primeiro uma informação mais simples, caso o aluno acerte, ele já é considerado no nível 5, por exemplo. Se acertar depois o próximo cálculo pedido, entra no nível 6.

Outras perguntas do Pisa descritas no relatório pediam para que os alunos calculassem a distância entre planetas no Sistema Solar e quantidades de DVDs vendidos entre 2008 e 2014 no Reino Unido. Mas não é divulgado como a questão foi apresentada ao aluno.

No Pisa há perguntas em formato de teste e outras discursivas. As provas podem ter questões diferentes ou em ordem diferente para os países, mas com o mesmo nível de dificuldade.

Antes de aplicadas, as perguntas do Pisa são pré-testadas com alunos de 15 anos ao redor do mundo para se compreender o nível de dificuldade e a qualidade da questão. O mesmo é feito na prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), no Brasil.

Os estudantes tiveram uma hora para fazer a prova de Matemática, foco deste ano, e outra uma hora para as outras áreas. O Pisa tem questões de Matemática, Leitura e Ciência. Apenas em Ciência as notas se mantiveram parecidas com as de 2018. Cada ano, o exame é focado em uma disciplina, o que significa ter mais questões e mais análises dessa área.

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