Morte de fã de Taylor Swift completa um ano com inquérito sem conclusão
Ana Clara Benevides Machado morreu em decorrência de uma exaustão térmica que comprometeu seus pulmões
Escute essa reportagem
Um ano após a tragédia, a Polícia Civil do Rio de Janeiro não concluiu a investigação que apura a responsabilidade pela morte de Ana Clara Benevides Machado durante o show da cantora Taylor Swift, em 17 de novembro.
A corporação diz, em nota, que já ouviu testemunhas, analisou laudos periciais e que está fazendo diligências para esclarecer os fatos. No entanto, para o advogado João Paulo Sales Delmondes, que representa a família da jovem, o inquérito está demorando para ser concluído. "Avaliamos que o andamento tem sido muito moroso, com um ano de falta de resposta das autoridades."
No começo deste ano, o advogado fez um pedido de esclarecimento sobre o andamento do inquérito. Na ocasião, disseram a ele que uma troca de delegados atrasou a investigação, conduzida pela 24ª DP, localizada no bairro de Piedade, zona norte do Rio.
Delmondes diz que a demora é prejudicial à família. "[A conclusão] poderia trazer, no mínimo, um sentimento de justiça", diz ele, acrescentando que a morosidade também é negativa para a imagem da instituição.
"Gera desconfiança e a sensação de que um caso que chocou o mundo não foi levado a sério. A resposta deve ser rápida, servir de exemplo e evitar novas tragédias."
Quando a jovem morreu, fãs disseram que falhas da Time for Fun, a T4F, empresa que organizou o show, teriam contribuído para o incidente.
Em um vídeo publicado nas redes sociais seis dias depois da morte, Serafim Abreu, o CEO da T4F, reconheceu que a empresa poderia ter tomado atitudes como criar áreas de sombra nas zonas externas no estádio do Engenhão, no Rio, alterar o horário dos shows da cantora e enfatizar a possibilidade de entrada nos estádios com copos de água descartáveis.
Em fevereiro, Abreu prestou depoimento e disse que, desde a primeira apresentação, foram instalados 23 pontos de hidratação, com funcionários distribuindo água. Depois da tragédia, afirma ele no documento, a empresa contratou mais 200 colaboradores para distribuição de água e orientação sobre hidratação.
ENTENDA O CASO
Ana Clara tinha 23 anos e cursava psicologia na Universidade Federal de Rondonópolis, em Mato Grosso.
Ela passou mal em uma apresentação de Swift no Estádio Nilton Santos, o Engenhão, no Rio de Janeiro. Na ocasião, com cerca de 60 mil pessoas no espaço, o termômetro marcava perto dos 40ºC, mas a sensação térmica beirava os 60ºC.
Exposta ao calor, ela teve uma parada cardiorrespiratória com um quadro de choque cardiovascular e comprometimento grave dos pulmões, o que evoluiu para a sua morte súbita.
Segundo o laudo, a jovem morreu em decorrência de uma exaustão térmica que comprometeu seus pulmões. Segundo um enfermeiro, ela chegou a ser reanimada no estádio por cerca de 40 minutos. No caminho do hospital, ela teve uma segunda parada cardíaca.
O caso gerou comoção e provocou mudanças em eventos de grande porte. Em agosto, o governo federal publicou uma portaria obrigando shows e festivais a retomarem o fornecimento de água gratuita e a garantirem outras medidas de segurança pelo menos até o Natal, quando a decisão será reavaliada.
A medida é similar a outra publicada no ano passado, prevendo a distribuição de água em grandes eventos após a morte de Ana Clara.
CRÍTICAS A TAYLOR SWIFT
As críticas não se restringiram apenas à empresa que organizou o show. A postura de Swift foi considerada fria e distante. À época, ela compartilhou no Instagram uma nota dizendo que estava desolada, mas não falaria mais, nem nas redes nem nos palcos, sobre a fã morta.
As queixas voltaram a surgir em fevereiro deste ano, quando a cantora doou US$ 100 mil à família de uma fã morta durante um tiroteio nos Estados Unidos. Internautas compararam as duas situações e disseram que faltou a mesma empatia em relação à morte de Ana Clara.
À época, a família da jovem precisou abrir uma vaquinha para conseguir fazer o translado do corpo do Rio de Janeiro para Mato Grosso do Sul.
Comentários