Litro de azeite fabricado no ES custa R$ 360
Alimento é considerado de alta qualidade, por ser mais fresco, mas produção é pequena e costuma ser vendida antes de ficar pronta
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Os azeites produzidos no Espírito Santo são vendidos por até R$ 90 a garrafinha de 250 ml. Na prática, o litro do produto sai a R$ 360. O preço vem subindo devido à crise climática que afetou a fabricação nos principais países produtores.
Os azeites de supermercado, geralmente importados, já estão recebendo até lacre antifurto. Já as produções locais no Estado, vendidas nas propriedades rurais, são reservadas antes mesmo de a mercadoria final ficar pronta.
A cultura das oliveiras está sendo introduzida no Espírito Santo e, além de a produção ser pequena, ela caiu neste ano, contrariando a expectativa de aumento e tornando o azeite capixaba mais difícil de encontrar.
Por outro lado, há também quem está tendo sucesso na empreitada. O empresário Márcio Rohr, de 48 anos, está investindo nas oliveiras associadas ao turismo de experiência.
Na região da Pedra Azul, em Domingos Martins, ele plantou 3 mil pés de oliveiras de quatro variedades. Maior produtor do Estado, colheu 400 quilos de azeitona, o que rendeu 30 litros de azeite. O produto é vendido para os clientes dos chalés de altíssimo padrão Monte das Oliveiras, que ficam cercados pela plantação.
O empresário destacou que a produção ainda é pequena porque as plantas são jovens.
O plantio foi planejado por dois anos e realizado em 2018. A expectativa dele é de que a produtividade aumente quando as plantas tiverem mais de 10 anos:
“São 10 quilos de azeitona para fazer um litro de azeite em média. Só 10% da azeitona tem o óleo. É um processo que não é barato. Por isso o azeite é tão disputado.”
O presidente da Associação dos Olivicultores do Estado, Ricardo Serro, avaliou que o azeite produzido no Estado é “excepcional”, sem dúvidas muito melhor do que os vendidos no supermercado. “Um produto fresco, com azeitonas processadas no mesmo dia em que foram colhidas.”
A cultura das oliveiras é nova no Espírito Santo, os produtores ainda estão aprendendo e a produtividade está muito aquém da expectativa criada, segundo ele.
Do azeite consumido no Brasil, apenas 2% é nacional. “Precisamos melhorar a produtividade, para ser comercial e abastecer as prateleiras do Estado”, frisou.
Você sabia?
Planta milenar, no contexto bíblico, a videira é considerada uma árvore sagrada e está associada à prosperidade.
A oliveira mais velha do mundo tem mais de 3 mil anos de idade e ainda dá frutos, na ilha grega de Creta. Seu tronco tem 12,5 metros de circunferência e aspecto escultural.
Estudo para melhorar azeite de abacate
Donos da primeira produção comercial de azeite de abacate no Espírito Santo, os irmãos produtores e empresários Jean Carlos Peterle, de 42 anos, e Maico Peterle, 38, produzem cerca de 120 litros do produto por semana, durante nove meses por ano.
Há mais de 40 anos a família produz abacates em Venda Nova do Imigrante. Com dificuldade de encaixar o fruto de tipo B, que são aqueles que não estão no padrão ideal para serem comercializados in natura, seja pela aparência ou por alguma avaria, por exemplo, surgiu a ideia da produção do óleo da fruta.
A família contratou a empresa júnior do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) para desenvolver o projeto. Um investimento de cerca de R$ 25 mil. “Na prática, precisamos ir adaptando”, lembrou Jean Carlos.
Sobre o sabor, ele descreve que é bem leve, suave e não tem gosto de abacate. “Os clientes gostam de usar para temperar salada, para cozinhar e tem gente comprando até para usar no cabelo”.
O processo de produção é trabalhoso, segundo ele. O abacate é colhido verde, para ser lavado sem se desfazer. Limpo, ele é colocado para madurar e quando está no ponto, é aberto. A semente vai para o viveiro e a casca para o descarte.
A polpa é aquecida a 50 graus, no máximo, e passa por uma centrífuga que separa o óleo da massa. Depois, passa por outra centrífuga para separar o óleo da água e, por fim, ele é filtrado. Depois, vai para os tanques de inox, envasa, rotula, empacota e comercializa.
O engenheiro de alimentos, doutor em bioquímica e professor do Ifes, Wilton Soares Cardoso, explicou que quimicamente o azeite de oliva e o de abacate são iguais, em relação a constituição dos óleos. A diferença está nos compostos aromáticos e no sabor.
Saiba mais
Plantio da Oliveira
As mudas das oliveiras devem ser adquiridas de viveiros certificados pelo Ministério da Agricultura e custam cerca de R$ 15 cada.
Elas são plantadas em covas, com uma distância média de quatro metros entre as plantas, em solo nutrido e precisam de adubação adequada.
O local escolhido deve ser ensolarado, mas elas precisam de 2 mil horas por ano abaixo de 12 graus. O plantio pode ser feito em qualquer época do ano.
Polinização
Nas oliveiras há dois tipos de cultivares, a que se autofecunda e que precisa de outra planta liberar o pólen com o material genético diferente da dela para fecundar.
Colheita
Depois de cerca de seis anos, vem a primeira produção, que acontece de janeiro a abril. Para isso se usa um pano debaixo da árvore e uma derriçadeira para derrubar as azeitonas. Há também a colheita manual. Elas são recolhidas e colocadas em caixas de madeira em lugar fresco até serem levadas para o lagar, onde o azeite é extraído. A colheita e o processamento são feitos no mesmo dia, para garantir o azeite fresco.
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