Excesso de café pode causar zumbido no ouvido
Médica explica que chiado pode ocorrer também devido a outros hábitos como ingestão de energéticos e jejuns prolongados
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Quem convive com o zumbido no ouvido sabe que ele é muito mais do que apenas um incômodo sonoro. Muitas vezes descrito como um som de apito, chiado ou zumbido é um sintoma complexo que pode afetar não apenas a audição, mas também a qualidade de vida, segundo especialistas.
Mas o que causa? A otorrinolaringologista Nathalia Manhães Távora explica que existem diversas causas: estresse, problemas mandibulares, doenças cervicais, colesterol alto e até excesso de café e energéticos podem levar ao zumbido no ouvido, explica a médica que esteve no TribunaLab.
A estimativa da Organização Mundial da Saúde é que 15% da população mundial sofra com o zumbido. No Brasil, mais de 28 milhões de pessoas apresentam o problema, segundo o Ministério da Saúde.
A TRIBUNA – O que é exatamente o zumbido no ouvido e por que algumas pessoas experimentam essa sensação? Ele é sempre um sintoma?
Nathalia Távora – O zumbido é um sintoma que significa a percepção consciente de um som, de uma sensação auditiva, quando no ambiente não tem nenhuma fonte sonora. É um barulho percebido pelo paciente. É um sintoma que pode estar relacionado a diversas causas.
- Quais seriam essas causas, é sempre relacionado à audição?
A primeira causa que pensamos é na audição, de fato, e é a mais prevalente, sendo a principal causa do zumbido a perda auditiva. Mas não é a única. E não necessariamente a pessoa que tenha a perda auditiva vai experimentar o zumbido.
Além da perda auditiva, existem outras causas, como alterações metabólicas (alterações de glicose, colesterol, triglicerídeos, doenças da tireoide), doenças cervicais e osteoarticulares.
Alguns comportamentos também podem estar associados ao zumbido como jejuns prolongados, excesso de alimentos estimulantes como café e energéticos.
O zumbido também pode ter relação com alterações ao redor da orelha, com a articulação temporomandibular (músculos responsáveis pela mastigação), com o bruxismo (apertar os dentes).
- Como é a investigação da causa?
Ela deve ser intensa. É uma avaliação com exames de sangue, de imagem, eventualmente, e a audiometria. Tem também a possibilidade de medirmos o zumbido, em alguns casos, com a acufenometria, que serve para guiarmos o tratamento e identificar o lado do zumbido e tipo, já que pode ser algo contínuo ou que vai e volta.
Como diferenciar entre um zumbido temporário e algo que exige atenção médica imediata?
O zumbido merece atenção independente da situação. Deve ser procurada orientação e isso não quer dizer que é nada maligno, que vai dominar a pessoa ou não vai passar, nada disso. A verdade é que cada caso deve ser avaliado e orientado da melhor forma.
- Quais são os efeitos mais comuns do zumbido na qualidade de vida dos pacientes? Isso pode afetar aspectos emocionais e psicológicos?
Pode e afeta muito. A primeira coisa que a pessoa acha quando tem o zumbido é que nunca mais vai se livrar dele. Com isso, vem o medo de ele nunca passar e geralmente com o medo aumenta ainda mais a intensidade. O paciente fica mais estressado e, às vezes, não consegue conviver com outras pessoas. É muito comum chegar a intensidades muito altas.
Pode levar a transtornos bem importantes, como de ansiedade e depressão.
- Existe um público que é mais afetado?
Todas as idades podem ser afetadas. Porém, a população idosa é a mais afetada. Quando falamos da prevalência do zumbido na população mundial – cerca de 15% segundo a OMS –, isso passa para 35% na população idosa. Até porque, nos idosos, há uma maior prevalência de perda auditiva, doenças metabólicas e outros fatores associados ao zumbido.
- Mais pessoas podem sentir o zumbido no ouvido por causa dos fones? A longo prazo, esse uso constante pode levar à surdez?
Com certeza. Muitas vezes, o tipo de fone também pode prejudicar, assim como o uso prolongado.
Se a pessoa está em um ambiente de muito ruído e não usa um fone para abafá-lo, automaticamente ela vai aumentar a intensidade do som e isso é muito ruim para o ouvido, podendo causar uma lesão.
- Zumbido no ouvido tem cura?
Depende do que ela considera como cura. Sempre tem como melhorar. Para a gente, a cura é melhorar a percepção da pessoa a ponto de ela deixar de ouvir o zumbido. Nessa investigação, se a pessoa tem uma doença orgânica que precisa ser tratada, pode ser que esse zumbido cure de fato, de acordo com a causa. Mas, para a gente, a cura vai um pouco além, e mesmo que não ache a causa, a cura é a pessoa deixar de perceber.
Veja a entrevista completa aqui.
Pergunta do leitor
- É normal, de vez em quando, sentir o zumbido no ouvido?
Leandro Lira, 38 anos, cinegrafista
Zumbido é um sintoma que não é algo normal. Ele significa que alguma coisa não está legal, ou dentro da orelha interna ou próximo a ela, ou pode ser ainda algo sistêmico. Por isso, ele deve ser sempre avaliado, para saber se é ou não algo episódico (como exposição a um barulho alto), mas ele nunca é normal.
Fique por dentro
- Na maioria dos casos, o zumbido é uma percepção auditiva “fantasma”, percebida apenas pelo paciente.
- Ele pode parecer um chiado, apito, cigarra, cachoeira, panela de pressão ou, mais raramente, o barulho do coração batendo no ouvido ou alguns cliques ou estalos.
- Alguns ouvem o zumbido somente no silêncio ou quando prestam atenção em seus ouvidos, outros o ouvem o dia todo.
- Muitos fatores que aparentemente não têm nada a ver com o sistema auditivo podem dar origem a esse sintoma.
-Desvios de coluna, alterações cardiovasculares, diabetes, disfunções da articulação da mandíbula e consumo excessivo de cafeína, álcool e tabaco são algumas das causas.
- O tratamento é multidisciplinar e dependendo da causa pode ser feita a terapia sonora.
Audiometria - exame para avaliar a capacidade de audição do paciente.
Acufenometria - exame capaz de medir a intensidade e tipo do zumbido no ouvido
Os números
28 milhões
de pessoas sofrem com zumbido no ouvido no Brasil
15%
da população mundial apresenta o problema
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