Até crianças podem ter varizes, diz especialista
Médico explica que o problema tem um componente genético grande. Se um dos pais tem varizes, há 40% de chance do filho ter
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As varizes estão longe de ser apenas uma questão estética. Entre 2013 e 2022, mais de 529 mil brasileiras foram internadas para tratamento do problema, segundo levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV).
O cirurgião vascular e angiologista José Marcelo Corassa, que esteve no TribunaLab, alerta ainda que até crianças podem ter varizes. O médico destaca que em dias quentes as doenças venosas tendem a se agravar.
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“O calor dilata as veias, elas ficam mais relaxadas. Pessoas que, às vezes, ficam no sol por muito tempo, começam a ter inchaços, porque a veia já não funciona tão bem, por estar completamente relaxada pelo calor”.
A Tribuna - Todos nós temos veias, mas o que seriam as varizes?
José Marcelo Corassa - "Uma variz é uma veia permanentemente dilatada e insuficiente. O que quer dizer insuficiente? O fluxo tem que ser sempre da periferia para profundidade, e da periferia para o coração. Toda vez que existe uma alteração dessas válvulas venosas, o sangue passa a refluir, aí a pressão dilata as veias e isso é irreversível."
- Levantamento feito pela Sociedade de Angiologia e Cirurgia Vascular apontou que 632 meninas, menor de 1 ano até 14 anos, foram internadas para tratar varizes. É um problema que pode atingir crianças?
"Pode. Eu já operei uma menina com 12 anos. As varizes têm um componente genético muito grande. Se você tem um dos pais com varizes, tem 40% de chance de ter. Agora, se tiver dois, passa a ter 80% de chance. E há outras doenças, menos comuns, que podem desenvolver varizes, como alterações congênitas de deficiência valvular."
- Visivelmente elas podem não aparecer mas já apresentarem sintomas?
"Normalmente é visível. Chamamos de varizes aquelas veias superficiais. Antigamente se falava em varizes profundas, mas esse é um termo que não existe.
Normalmente, quando a veia começa a dilatar é que ela é sintomática. Há casos em que vemos pessoas, às vezes, com vasos minúsculos que têm muitos sintomas, enquanto há outras com varizes gigantescas que não têm sintomas.
Isso acontece porque todo o vaso é acompanhado por um nervinho. Quando a veia começa a dilatar, ela traciona esse nervinho, essa alteração gera uma má nutrição desse nervo e ele queima. Quem tem varizes maiores, geralmente já “detonou” tudo e não sente mais nada."
- Vasinhos podem sinalizar problemas mais graves na circulação?
"Desde que a pessoa começa a desenvolver qualquer tipo de varizes é sinal que ela tem uma fragilidade da parede da veia."
- Existem fatores de risco específicos que aumentam a probabilidade de desenvolvimento de varizes?
"Quando falamos de varizes, temos as condições predisponentes e as condições desencadeantes. Predisponente é a tendência, genética. Desencadeantes seriam gravidez, obesidade, ficar muito tempo em pé, exercícios que requerem muita força, tudo isso desencadeia as varizes."
- Quando devemos nos preocupar com as varizes?
"Sempre. É importante avaliar que uma variz pequena é como se fosse um iceberg, a pessoa vê a superfície, dali para a baixo ela não vê. Toda vez que aparece, é importante um médico avaliar o porquê a variz apareceu e fazer um tratamento."
- Em dias quentes, as doenças venosas tendem a se agravar?
"Tendem, porque o calor dilata as veias, elas ficam mais relaxadas. Nós estamos trabalhando contra a gravidade. Pessoas que, às vezes, ficam no sol por muito tempo, começam a ter inchaços, porque a veia já não funciona tão bem, por estar completamente relaxada pelo calor. Além de isso, aumenta a passagem de líquido para fora da veia."
- Quais são as complicações potenciais associadas às varizes não tratadas?
"A variz evolui. Se a pessoa tem uma variz grande e há alteração do seu fluxo, a pessoa pode ter flebite, que é a inflamação da veia, assim como trombose e uma úlcera venosa."
- Quais tratamentos disponíveis hoje? O tratamento feito com espuma serve para todo mundo?
"A cirurgia ainda é o padrão ouro, porque é uma coisa que resolve. Hoje pode ser feito até procedimentos em consultório, como a própria espuma, principalmente nos pacientes de mais idade. É o padrão ouro na Europa.
Uma outra coisa que pode ser feita em consultório é o laser, com anestesia local, onde é feita a cauterização da veia. É um padrão americano."
Fique por dentro
As varizes são veias superficiais anormais, dilatadas, cilíndricas ou saculares, tortuosas e alongadas, caracterizando uma alteração funcional da circulação venosa do organismo, com maior incidência no sexo feminino.
As principais queixas clínicas dos pacientes são dor tipo “queimação” ou “cansaço”, sensação das pernas estarem pesadas ou ardendo, edema (inchaço) das pernas, principalmente ao redor do tornozelo.
Não existe nenhuma relação estabelecida entre a formação de varizes e depilação ou uso de salto alto.
As veias que são retiradas por estarem doentes não colaboram para a circulação; ao contrário, sua retirada causa melhoria na drenagem venosa dos membros inferiores, aliviando sintomas e prevenindo as implicações da evolução da doença.
Flebite - Inflamação de uma veia superficial, que gera a formação de um trombo.
Predisponentes - Fatores que aumentam a chance de aparecimento de uma doença.
Os números
- 38% da população geral brasileira têm varizes
- 45% das mulheres têm o problema, que é mais comum no sexo feminino
Tratamento
Em sua rede social, a apresentadora Ana Hickmann revelou, em junho deste ano, sofrer com as varizes. “Eu tenho varizes e vasinhos, algo que já me incomodou muito não só pela estética, mas pela minha saúde. E não é porque uso salto! É uma questão de família que precisa ser cuidada com atenção”.
Ela, que faz tratamento, contou que sua mãe operou duas vezes por causa de varizes há 30 anos. “Minhas duas avós sempre sofreram muito com isso. A questão hereditária e genética pesa bastante”.
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