Recusa em “ficar” com colega motivou espancamento que matou menina de 11 anos
Adolescente foi imputado por ato infracional referente à lesão corporal grave seguida de homicídio

A morte de Alícia Valentina, de apenas 11 anos, não pode ser vista como um episódio isolado. O estopim da agressão foi a recusa da criança em “ficar” com um colega de turma, em uma escola municipal de Belém do São Francisco, no Sertão de Pernambuco. Esse gesto simples, de dizer “não”, foi suficiente para despertar a violência de meninos que ainda estão na adolescência, mas já reproduzem padrões de masculinidade doentia que atravessam gerações.
UM CRIME QUE EXPÕE O MACHISMO
Segundo o boletim de ocorrência, quatro meninos e uma menina participaram do ataque de forma direta e indireta, iniciado no banheiro da Escola Municipal Tia Zita. O atestado de óbito registra “traumatismo cranioencefálico produzido por instrumento contundente”, indicando que Alícia foi atingida na cabeça com um objeto. A polícia autuou um dos adolescentes por ato infracional a lesão corporal seguida de morte.
Esse menino é apontado como autor direto, mas o nome não pode ser divulgado em razão do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O caso levanta uma questão que vai além do ato brutal: por que meninas ainda precisam pagar com a vida o preço de negar o desejo masculino?
FALHA NA REDE DE PROTEÇÃO
Após o espancamento, Alícia foi socorrida por funcionários e encaminhada ao hospital municipal, mas foi liberada sem a devida atenção médica. Em casa, voltou a apresentar sintomas, entre eles sangramento e vômito de sangue. A mãe buscou atendimento em outros serviços de saúde, mas, mais uma vez, a menina foi dispensada.
Somente em estado grave, Alícia foi transferida para hospitais em Salgueiro e depois no Recife, onde teve morte cerebral confirmada no domingo (7). A sucessão de falhas evidencia o quanto a rede pública de saúde ainda se mostra incapaz de lidar com emergências envolvendo crianças vítimas de violência.
SILÊNCIO DAS AUTORIDADES
O velório de Alícia acontece nesta terça-feira (9), no Cemitério Público Municipal Recanto da Saudade, em Belém do São Francisco. A despedida é marcada por dor, mas também por indignação. A tragédia lança luz sobre a responsabilidade não apenas do Estado, mas também dos municípios, que continuam a se comportar como espectadores diante de crimes que também nascem dentro das escolas. Fingir-se de morto diante da violência juvenil é fechar os olhos para a cultura do machismo e da brutalidade que se reproduz dentro das salas de aula.
MULTIDÃO SE REUNIU PARA SE DESPEDIR DE ALÍCIA
UM PROBLEMA PÚBLICO, NÃO PRIVADO
Em 2024, Pernambuco registrou 8,2 mortes violentas intencionais por 100 mil crianças e adolescentes — quase o dobro da média nacional, de 4,6. O dado reforça que não se trata de um caso particular, mas de uma realidade que pede respostas públicas. Enquanto o poder público insiste em tratar episódios como exceção, famílias como a de Alícia choram sozinhas diante de uma violência que poderia ter sido evitada. O caso está sob a responsabilidade do delegado Paulo Carlos Gomes de Oliveira, da Delegacia da 188ª Circunscrição Belém do São Francisco
DEPUTADO PEDE MOÇÃO DE PESAR E AÇÕES CONTRA VIOLÊNCIA ESCOLAR
O presidente da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, Maurício Carvalho (União Brasil-RO), lamentou a morte de Alícia Valentina, de 11 anos, que foi espancada dentro de uma escola pública em Pernambuco. A menina não resistiu aos ferimentos e o caso gerou comoção nacional.
Segundo o parlamentar, o episódio expõe a urgência de medidas mais efetivas para proteger crianças e adolescentes no ambiente escolar.
"A morte da pequena Alícia Valentina, de apenas 11 anos, após ser espancada dentro de uma escola pública em Pernambuco, entristece e revolta todo o país. Nenhuma criança deveria perder a vida de forma tão cruel, ainda mais no espaço que deveria ser o mais seguro: a escola", disse.
Carvalho informou que apresentou um requerimento solicitando uma moção de pesar pelo falecimento da estudante. Ele também defendeu a ampliação de políticas públicas voltadas para prevenção e combate à violência nas instituições de ensino.
"Como presidente da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados, apresentei um requerimento solicitando uma moção de pesar pelo falecimento da Alícia. Também reafirmo a necessidade de discutir políticas públicas que combatam a violência escolar, oferecendo prevenção, apoio psicológico e segurança para nossas crianças e adolescentes", destacou.
O deputado afirmou ainda que a morte da menina deve servir de alerta para o poder público e para a sociedade.
"A memória da Alícia nos chama à responsabilidade de agir para que tragédias como essa não se repitam", concluiu.
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