Torta capixaba das montanhas do ES tem receita diferenciada
Em cidades da Região Serrana, o prato típico tem adaptações que atravessam gerações, com a inclusão de ovos caipiras e verduras
Escute essa reportagem

Na Semana Santa, o aroma que toma conta de muitas cozinhas capixabas não deixa dúvidas: é tempo de torta capixaba. Embora a versão tradicional, feita com bacalhau e frutos do mar, predomine no litoral capixaba, cidades da Região Serrana mantêm uma receita diferenciada, marcada por adaptações que atravessam gerações.
Em Domingos Martins, Marechal Floriano, Venda Nova e Alfredo Chaves, o preparo centenário valoriza ingredientes disponíveis localmente.
Em vez dos frutos do mar, entram em cena verduras como o repolho e peixes mais acessíveis, como merluza e sardinha. Os ovos, sempre caipiras, reforçam o vínculo com a produção local e o sabor característico da roça. Os temperos verdes, orgânicos, são colhidos diretamente da horta, e o palmito, livre de fertilizantes químicos, vem de produtores da região.
Na sede de Alfredo Chaves, a aposentada Rosa Módolo, de 63 anos, mantém viva a tradição aprendida com a mãe. “Aqui em casa não pode faltar. É tradição e é história servida à mesa”, afirma.
Segundo Rosa, o preparo obedece um ritual cuidadoso: o peixe é dessalgado com antecedência; os palmitos são refogados com alho, cebola e cheiro-verde; e os ovos, misturados delicadamente, garantem leveza e coloração ao prato, que segue ao forno por cerca de 30 minutos.
Em Marechal Floriano, a autônoma Marta Cibin, de 53 anos, também preserva o costume familiar. Todos os anos, ela faz três tipos de torta: com bacalhau, com merluza e uma versão com repolho e sardinha. “Aprendi com minha mãe, que aprendeu com minha avó. Essas receitas fazem parte da nossa história”, conta.
Já em Domingos Martins e Venda Nova do Imigrante, o palmito orgânico produzido na região aparece como diferencial valorizado por muitas famílias.
Para a cozinheira Rosângela Stein, de 48 anos, o ingrediente local faz diferença no sabor e na preservação da identidade cultural.
“Muitas receitas usam palmito industrializado, e talvez isso acabe afastando um pouco da essência da torta. Mais que um prato típico, a torta capixaba à moda das montanhas é um elo entre passado e presente, entre gerações que compartilham histórias ao redor da mesa. Uma tradição que segue viva, alimentando corações com sabor, memória e identidade”, afirma a cozinheira Rosângela.
Improviso
“Recursos disponíveis”
“Longe do litoral e sem acesso facilitado ao mar, moradores das montanhas capixabas recorriam aos recursos disponíveis nas redondezas: palmitos extraídos das matas nativas, temperos frescos colhidos nas hortas e ovos de galinhas criadas no quintal.
O peixe salgado era comprado em Anchieta, durante viagens mensais, ou nas chamadas “vendas” — antigos estabelecimentos comerciais que abasteciam a população com produtos de outras regiões”.
Penha Fronzotti, pesquisadora e escritora
Fique por dentro
Torta das montanhas
Em vez dos frutos do mar, entram em cena verduras como o repolho e peixes mais acessíveis, como a merluza e a sardinha.
Os ovos, sempre caipiras, reforçam o vínculo com a produção local e o sabor característico da roça.
Os temperos verdes, orgânicos, são colhidos diretamente da horta, e o palmito, livre de fertilizantes químicos, vem de produtores da região.
Mais que um prato típico, a torta capixaba à moda das montanhas é um elo entre gerações que compartilham histórias ao redor da mesa.
MATÉRIAS RELACIONADAS:




Comentários