Maria Cândido em “Paixão Segundo G.H.” nos cinemas
Monólogo transforma 180 páginas em duas horas de registro digital
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Borrões coloridos deixam vazar o rosto sereno, porém retorcido, de Maria Fernanda Cândido nos primeiros segundos de “A Paixão Segundo G.H.”. Ela logo encontra sua voz, dando início a um monólogo que transforma 180 páginas de papel em 2 horas de registro digital.
Tido por muitos como um exemplar “infilmável” do acervo de Clarice Lispector, o livro que serve de base para o filme de Luiz Fernando Carvalho foi publicado há 60 anos, mas encontrou meios para embrenhar-se pelas salas de cinema de hoje ainda muito atual.
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São questões essencialmente humanas que guiam a conversa de G. H. com o espectador, afinal. É no que acredita a atriz, que gosta da teoria de alguns estudiosos que dizem que o nome da protagonista é abreviatura para “gênero humano”.
Ao tornar tão concreto o drama da protagonista da alta sociedade, desolada após ser deixada pela empregada, Carvalho reforça que não é afeito ao termo infilmável, que parece ser uma constante em sua vida, seja pela natureza das obras literárias que leva às telas ou pela pressão que adaptar cânones como “Dom Casmurro” inevitavelmente impõe.
Não havia exatamente um roteiro para “A Paixão Segundo G. H.”. Assim como fez em “Capitu”, o cineasta incorporou o texto à obra cinematográfica, deixando que Maria Fernanda Cândido se apossasse do drama escrito por Clarice Lispector.
Ela chegava ao set sem saber o que gravaria. Para fortalecer os laços da personagem principal com o espectador que, quase voyeurista, a observa sozinha por duas horas, Carvalho tomou a câmera em suas próprias mãos, aproximando as lentes do rosto de sua musa com exagero e dramaticidade.
Mas Maria Fernanda não está exatamente sozinha em cena. Ela encontra sua coadjuvante numa barata, com quem conversa, chora e grita.
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