Estudo revela que mulheres estão mais insatisfeitas no trabalho
Pesquisa realizada nos estados brasileiros mostrou que quatro em cada dez mulheres se mostram descontentes com o próprio emprego
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Embora o assunto tenha ganhado relevância nos últimos anos, com a preocupação crescente a respeito da relação entre bem-estar e produtividade, a felicidade das mulheres na carreira ainda é um tema com desafios a serem encarados pelas gestões.
De acordo com uma pesquisa realizada pela organização não governamental (ONG) brasileira Think Olga, dedicada a questões de gênero, quatro em cada dez mulheres se mostram insatisfeitas com o próprio emprego.
A pesquisa entrevistou 1.078 mulheres, de 18 a 65 anos, em todos os estados do Brasil, com o objetivo de entender a sobrecarga de trabalho e o sofrimento psíquico que afetam a população feminina.
Segundo o levantamento, dentre os principais pontos que acentuam essa insatisfação estão a baixa remuneração (32%), a invisibilidade ou falta de reconhecimento no trabalho (21%) e a jornada de trabalho excessiva (20%).
A palestrante e fundadora do projeto Acelera Mulheres, Ana Paula França, explica que essa percepção é um sintoma generalizado, mas acaba por afetar as mulheres de forma específica por estar associada a outros aspectos.
“A mulher entra no mercado de trabalho e ela é exigida da mesma forma que os homens. E nós temos condições diferentes, temos ciclos menstruais, responsabilidades domésticas. E então, para além da sobrecarga, quando chegamos na empresa o ambiente é machista”.
Ana Paula cita que em média 75% da carga mental da família fica com as mulheres. A falta de cooperação dos parceiros na rotina familiar (19%) e as poucas amizades e interações sociais (49%), seja pela falta de tempo ou pelo distanciamento entre as próprias mulheres, também são apontados pela pesquisa como pressões que prejudicam a felicidade.
Nos últimos tempos, no entanto, as pessoas têm demonstrado mais consciência sobre esse aspecto. Segundo a especialista, pesquisas mostram que ambientes mais diversos entregam não só satisfação, mas também resultado financeiro.
“Empresas que têm uma experiência de trabalho melhor chegam a ter 123% a mais de faturamento. Mulheres em posição de liderança entregam 50% mais resultado operacional. Não é só uma questão de representatividade”, comenta, citando dados da empresa de consultoria Accenture.
ANÁLISE
“Mudar essa cultura requer muito esforço”
Vânia Goulart, consultora em Gestão de Carreiras e fundadora da Selecta
“A pesquisa mencionada vem constatar essa luta pelo espaço que as mulheres têm travado ao longo dos anos. Mudar uma cultura é extremamente difícil e requer tempo e bastante esforço.
A história ancestral mostra que a mulher sempre esteve em casa, distante das relações, submissa. Hoje, criar uma casca e ensinar a se autoproteger e a suportar é necessário. Os homens fazem isso muito bem-feito. Ao longo dos anos temos trabalhado nisso com muitas propostas, mas ainda há uma longa caminhada.
Precisamos buscar a igualdade e lutar para a diminuição das diferenças salariais, aumento do reconhecimento e criação de espaços para que cada uma possa exercer o seu desenvolvimento e ser reconhecida com meritocracia e proteção equivalentes.
O nível de estresse exercido divulgado na pesquisa deixa claro que, não só a jornada de trabalho profissional, mas todas as outras às quais as mulheres são submetidas neste contexto machista afetam a felicidade. Acredito na mudança e faço parte desta luta há 29 anos, quando abri minha primeira empresa”.
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