Violência política de gênero: entre a gestão e o apedrejamento
Confira a coluna de sábado (08)
O Dia Internacional da Mulher é uma ótima oportunidade para celebrarmos as nossas conquistas e também um bom momento para refletirmos sobre os problemas que persistem e nos impedem de exercer plenamente o direito de participar da vida política e, principalmente, de liderar.
Ser mulher e ocupar espaços de decisão e instâncias de poder ainda significa enfrentar resistências que vão além dos desafios institucionais. Para muitas de nós, essa luta não se limita à gestão e execução de projetos, mas também ao enfrentamento de muitas formas de violência política, que se apresentam muitas vezes de forma velada. São críticas feitas ao nosso trabalho que ultrapassam a esfera técnica e visam minar a nossa resistência e afetar a nossa confiança. Críticas insidiosas, insinuações e difamações, que invariavelmente são espalhadas para tirar a nossa credibilidade, desqualificar o nosso trabalho e manchar a nossa imagem. Coisas que sutilmente ou de forma mais direta isolam e desestimulam a permanência da mulher no poder.
Se para os homens é permitido errar e seguir adiante com toda a condescendência, um erro cometido por uma mulher em posição de liderança é amplificado de maneira absolutamente desproporcional, tornando-se pretexto para ataques pessoais que colocam em dúvida a sua competência. Em particular, na minha experiência em conselhos de classe profissional e no contato com outras mulheres em posição de comando, eu percebo um fenômeno bastante preocupante: mulheres sendo mobilizadas por lideranças masculinas para fazer coro ao apedrejamento moral de outras mulheres. Enquanto das mulheres se exige perfeição e infalibilidade, dos homens é concedida toda complacência aos erros cometidos, bastando um discurso bem elaborado para que os ânimos sejam pacificados e que todo perdão lhes sejam concedidos.
Essa injusta diferença de tratamento é gritante e afeta diretamente o desempenho das mulheres que se dispõem a lutar por causas coletivas. Infelizmente, esse fenômeno não é pontual, mas estrutural. A experiência demonstra que mulheres envolvidas em política nos conselhos profissionais e em outras instâncias de poder, são alvos frequentes de seus colegas homens. Essa violência no tratamento das mulheres tem um objetivo muito claro: afastar as mulheres do debate político e mantê-las em posições subalternas.
Denunciar essa prática não pode ser entendido somente como um ato isolado de coragem. A permanência das mulheres nos espaços de poder precisa ser normalizada e não vista como exceção à regra. É fundamental que reconheçamos e combatamos essas formas de violência para que possamos garantir que nenhuma mulher seja obrigada a escolher entre a sua integridade pessoal e a vocação para liderar.
Neste 8 de março, reafirmamos o nosso compromisso com uma sociedade mais humana, justa e igualitária, onde as mulheres possam exercer o seu protagonismo com respeito e dignidade. Nossa voz não será silenciada!
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