Na saúde, sim. Na doença, nem sempre
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O diagnóstico de câncer é uma realidade impactante e dolorosa. No universo feminino, a neoplasia mais comum (depois do câncer de pele não melanoma) é o câncer de mama. A condição exige uma série de esforços e transformações, que passam pela mudança de rotina, uma possível queda de cabelos e, em muitos casos, a retirada da mama como parte do tratamento.
Todos esses desafios fazem parte da jornada de milhares de brasileiras diagnosticadas com a doença, que também pode desencadear outra realidade bastante cruel: o abandono.
Um levantamento realizado pela Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), em parceria com DataFolha e AstraZeneca, revelou que uma em cada dez mulheres diagnosticadas com câncer de mama é abandonada pelo parceiro após a confirmação da doença.
O estudo analisou as respostas de 240 mulheres com diagnóstico de câncer de mama em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Curitiba e Goiânia.
Causa, no mínimo, indignação o fato de tantas mulheres serem deixadas de lado em um dos momentos mais difíceis de suas vidas. E mesmo sem dados estatísticos, podemos dizer que, para além dos cônjuges, essa rejeição certamente se estende por parte de filhos, netos, irmãos e até genitores dessas pacientes.
É inútil tentar entender os motivos para um abandono demasiadamente desumano, pois não há justificativas para uma atitude tão desprovida de compaixão.
Sabemos que o diagnóstico de uma doença grave como o câncer impacta não apenas os pacientes, mas pode abalar a estabilidade familiar, seja nos campos financeiro, emocional e até espiritual. Muitas vezes, aquela mulher afetada, agora, por uma neoplasia maligna parece não ser a mesma que até então convivia em uma relação conjugal.
Mudanças no corpo, falta de energia e até instabilidades de temperamento são alterações trazidas pela doença, que vem acompanhada de medos, incertezas, que por tantas vezes aquela mulher não está preparada para lidar.
Aquela parceira que antes era um alicerce da família, agora está frágil e precisando de apoio. Aquela mãe e esposa que enxugava as lágrimas de todos, hoje muitas vezes não consegue conter o choro porque está insegura. Aquela mulher com astral que contagiava todos a sua volta, agora é a que mais necessita de uma palavra amiga, ou de alguém que segure a sua mão nos momentos de tristeza e incertezas.
É indispensável compreender que essas instabilidades podem ser temporárias, pois, felizmente, em grande parte dos casos, é possível alcançar a cura ou o controle da doença. E depois, a tão sonhada realidade que existia antes do diagnóstico pode ser vivenciada em uma relação fortalecida pelos laços da responsabilidade afetiva capaz de superar abalos da enfermidade.
O abandono é adoecedor, mas o amor e a lealdade têm poder curativo e restaurador que nem mesmo a ciência com todos os seus avanços é capaz de explicar.