Login

Esqueci minha senha

Não tem conta? Acesse e saiba como!

Atualize seus dados

Pernambuco
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Pernambuco
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Espírito Santo
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo
Assine A Tribuna
Espírito Santo
arrow-icon
  • gps-icon Pernambuco
  • gps-icon Espírito Santo

Tribuna Livre

Tribuna Livre

Colunista

Leitores do Jornal A Tribuna

Herodes

Coluna foi publicada no domingo (16)

Pedro Valls Feu Rosa | 17/06/2024, 11:42 11:42 h | Atualizado em 17/06/2024, 11:42

Imagem ilustrativa da imagem Herodes
Herodes, o Grande, foi um rei do território da Judéia, como representante do Império Romano |  Foto: © Divulgação/Canva

Hoje faremos um exercício mental. Vamos começar pensando em um daqueles grandes aviões a jato que percorrem todo o planeta, com capacidade para cerca de 300 passageiros. Em seguida imagine um desses aviões carregado exclusivamente com crianças rumo à Disneylândia. Suponha, agora, que este avião sofra um acidente, vitimando todos os pimpolhos a bordo.

Um horror desses causaria comoção mundial. Inquéritos rigorosos seriam abertos e o assunto ocuparia os noticiários durante anos a fio. Agora tente pensar no que aconteceria se caíssem, ao longo de um único ano, 29 desses aviões. Com toda a certeza o Brasil teria muito trabalho para provar que é um país responsável.

Considere, em seguida, neste passeio pelo mundo dos números, que apenas em 2010 o Brasil perdeu, assassinadas, nada menos que 8.686 crianças e adolescentes – o equivalente a 29 aviões de passageiros lotados. Curiosamente, no entanto, quase não se falou nisso! Que diferença faz um avião!

Dia desses li que, entre 1981 e 2010, 176.044 seres humanos com menos de 19 anos de idade foram vítimas de homicídio aqui no Brasil – 90% deles crianças. Voltei à calculadora. Descobri que matou-se o equivalente a quase 587 aviões de passageiros lotados – uns 20 a cada ano.

Há quem diga serem estes vestígios de um passado remoto. Poeira histórica deixada pela caminhada de um povo que marcha resoluto, rumo ao avanço e à civilidade. Discordo. E assim porque a situação só tem piorado.

Vamos a mais alguns números: em 1980, a taxa de homicídios na faixa etária entre 0 e 19 anos era de 3,1 para cada grupo de 100 mil pessoas. Em 1990, até onde pesquisei, este índice aumentou para 7,7. No ano 2000, avançamos para 11,9. E em 2010, atingimos o recorde de 13,8. Decidi fazer mais algumas contas e descobri que, entre 1980 e 2010, este índice de homicídios aumentou cerca de 376%. Tradução: tudo indica que o problema só tem piorado – e, o que é pior, sob o nosso silêncio! E que diferença faz um avião...

Seria este um problema mundial? Após uma pequena pesquisa constatei que não. No ano de 2008, nossa taxa de homicídios na faixa etária entre 0 e 19 anos de idade era de precisos 13%. Pois bem: em uma relação de 92 países só “perdemos” para El Salvador (18%), Venezuela (15,5%) e Trinidad e Tobago (14,3%). Alcançamos um pouco honroso quarto lugar.

Nossa vergonha é ainda maior quando perdemos até para regiões então conflagradas (Iraque, com 5,6%), palco de guerras pelo controle do tráfico de entorpecentes (México, com 2,9%) e cenário de atos terroristas (Irlanda do Norte, com 1,7%).

Diante desse quadro, transcrevo o alerta de um representante da Anistia Internacional: “O Brasil convive, tragicamente, com uma espécie de “epidemia de indiferença”, quase cumplicidade de grande parcela da sociedade, com uma situação que deveria estar sendo tratada como uma verdadeira calamidade social. É como se estivéssemos dizendo, como sociedade e governo, que o destino desses jovens já estava traçado”. Pois é. Vai ver Herodes era brasileiro!

Imagem ilustrativa da imagem Herodes
Pedro Valls Feu Rosa é desembargador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo |  Foto: Divulgação

SUGERIMOS PARA VOCÊ: