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Tribuna Livre

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Colunista

Leitores do Jornal A Tribuna

Dois edifícios distintos com futuro incerto

| 07/08/2022, 11:27 11:27 h | Atualizado em 07/08/2022, 11:28

Cinquenta e sete anos separam dois edifícios emblemáticos construídos em Vitória: Mercado da Capixaba e Hotel Canto do Sol. O Mercado da Capixaba foi projetado por Josef Pitlik, arquiteto tcheco-eslovaco que veio ao Estado para projetar o Grupo Escolar Gomes Cardim (atual Fafi) e o prédio da Imprensa Oficial. 

Pitlik se encantou por nossa capital e ficou aqui por mais tempo do que o planejado. Ele também projetou algumas casas comerciais e muitas residências.

Inaugurado em 1926, o Mercado da Capixaba foi reformado nos anos 1990 e sofreu incêndio em 2002 que arruinou o telhado. De lá para cá funcionou precariamente até ser totalmente abandonado e tomado pelo mato.

O Hotel Canto do Sol foi inaugurado em 1983. É um projeto de um especialista em hotéis, o já falecido arquiteto Paulo Casé. O hotel ficou aberto até 2015, recebeu a exposição “Casa Cor” no ano seguinte e depois disso nunca mais funcionou. Nem mesmo a inauguração do novo aeroporto de Vitória em 2018 motivou os sócios proprietários a reabri-lo.

Vejam que estamos falando de dois edifícios bem diferentes. O primeiro é público, de estilo eclético, construído no início do século 20, na parte insular da capital, é horizontal e urbano. O segundo é um investimento privado, de estilo moderno, construído no final do século 20, na parte continental, é vertical e litorâneo.

Algumas coisas chamam atenção quando analisamos os dois edifícios. Em um se constata a negligência do poder público, que levou o Mercado ao atual estado de abandono. No outro, a incompetência do setor privado, que não consegue tornar viável um empreendimento com tanto potencial, localizado em um dos pontos valorizados da capital.

O hotel conta com uma suíte presidencial com 120 metros quadrados, quatro suítes executivas duplex com 50 metros quadrados cada uma, e 164 apartamentos, todos com os quartos de frente para o mar.

Afinal, que Estado é esse que não zela pelo que é público? E que setor privado é esse que não aproveita as oportunidades de negócio?

Podia-se esperar que o poder público, face à atual crise econômica, agravada pela pandemia, justificasse a impossibilidade de investimento no imóvel abandonado no Centro. Só que não! A prefeitura anunciou, ainda para este ano, um investimento de cerca de R$ 10 milhões na reforma do Mercado.

Por outro lado, esperava-se do setor hoteleiro a ousadia típica do capitalista que costuma encontrar oportunidades em meio às crises. Porém, não se tem nenhuma notícia de mobilização empresarial que aponte para a reabertura do hotel no curto ou médio prazo.

Infelizmente, são tantos exemplos de obras inacabadas que não dá para ter certeza de que em breve veremos reaberto o Mercado da Capixaba. Sobre o Hotel Canto do Sol, é bem provável que ele continue fechado ainda por muito tempo, sem receber turistas e sem criar emprego e renda, privando os mais pobres de oportunidades de trabalho e os mais abastados do conforto de suas instalações e da linda vista da Praia de Camburi.

EDEZIO CALDEIRA  é conselheiro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Estado (CAU-ES).

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