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Tribuna Livre

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Colunista

Leitores do Jornal A Tribuna

De Freud à mãe de um homossexual

Coluna foi publicada nesta seta-feira (28)

José Antônio Martinuzzo | 28/06/2024, 11:29 11:29 h | Atualizado em 28/06/2024, 11:29

“Presumo, por sua carta, que seu filho seja homossexual. Mais me impressiona, porém, o fato de a senhora não mencionar esse termo nas suas informações sobre ele. Poderia perguntar por que a senhora evita isso?”

“A homossexualidade não é uma vantagem, mas também não é algo de que se deva se envergonhar. Não é um vício, não é uma degradação, não pode ser classificada como uma doença.”

“Muitos indivíduos altamente respeitáveis – dos tempos antigos e modernos são homossexuais, entre eles, grandes homens (Platão, Michelangelo, Leonardo da Vinci etc.). É uma grande injustiça e uma crueldade perseguir a homossexualidade como crime”.

“Ao me perguntar se posso ajudar, subentende-se que eu poderia abolir a homossexualidade e substituí-la pela heterossexualidade. A resposta é que não podemos prometer isso”.

“O que a análise pode fazer pelo seu filho segue uma linha diferente. Se ele está infeliz, neurótico, dilacerado por conflitos, retraído em sua vida social, a análise pode lhe proporcionar harmonia, paz de espírito, completude”.

Esses são trechos de uma carta de Freud em resposta a uma mãe estadunidense que, aflita, lhe enviara correspondência pedindo ajuda da psicanálise para o filho. Trata-se da tradução livre do texto, escrito em 9 de abril de 1935 e publicado pela primeira vez em 1951.

Pode soar estranho que, em pleno século XXI, seja preciso repetir um saber psicanalítico de mais de um século – só esta carta está prestes a completar 90 anos. Mas como a civilização é frágil como uma vida, perecendo um pouco com cada um que se vai, colocando-se, assim, como uma missão renovada a cada um que nasce, não parece supérfluo transmitir conhecimentos inerentes ao humanismo.

Ademais, nestes tempos em que o “narcisismo das pequenas diferenças” se torna combustível para manipulações e laços de hostilidade e desamor que se dirigem a tudo que não é espelho de padrões hegemônicos e/ou espelha o que não se quer ver em si, é preciso, sim, remarcar o óbvio: amor não é doença, ódio mata; amor nos dignifica como humanos, ódio nos distancia daquilo que podemos ser de mais divino sob o Sol, irmãos sem distinção nem condição.

Essa possibilidade de vida ancorada na diversidade e na fraternidade incondicional é tema de uma campanha do Ministério Público do Espírito Santo, “Onde tem afeto, tem família”. Trata-se de uma minissérie com depoimentos tocantes e corajosos, disponível no canal do MP-ES no YouTube, feita para marcar o mês do Orgulho LGBT+.

Respeito, diálogo, empatia, compreensão, amor, entre outras, são palavras-chave no universo de quem, talvez mesmo não tendo feito análise, ecoa Freud, seja no acolhimento ao diverso, seja na disposição legítima de viver em harmonia com seu desejo próprio. As palavras do pai e promotor Jeferson Ribeiro Gonzaga a seu filho e estudante Tales Albano Gonzaga, e vice-versa, mixam emoção, afeto e razão, traduzindo perfeitamente, na vida real, aquilo que Freud explica tão claramente na carta à mãe de um filho homossexual.

Imagem ilustrativa da imagem De Freud à mãe de um homossexual
José Antônio Martinuzzo é pós-doutor em Psicanálise (UERJ), doutor em Comunicação (UFF) e professor titular da Ufes |  Foto: Acervo pessoal

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