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Colunista

Leitores do Jornal A Tribuna

Consciência Negra e Dona Domingas: interseções!

Confira a coluna desta segunda-feira

Fabíola Fraga | 18/11/2024, 18:48 h | Atualizado em 18/11/2024, 18:48

O dia 20 de novembro de 2O24, entra para a História do País como sendo o primeiro ano em que o dia da Consciência Negra, antes uma data já importante, passa a constar no calendário nacional como feriado.

Para além do valor simbólico desse dia, cabe fazer uma reflexão mais aguçada a respeito dessa tão propalada "Consciência Negra" no contexto artístico da capital, respectivamente na realidade escultórica da Arte pública.

Provavelmente temos em Vitória, um dos aspectos mais nítidos no que diz respeito ao longo caminho que ainda resta percorrer até chegar o dia em que possamos realmente comemorar uma data como essa.

Voltando nosso olhar para o monumento a Dona Dominga, mulher e negra, eternizada nas escadarias que levam ao centro do poder capixaba pelo escultor Carlo Crepaz, possamos entender um pouco do abandono dessa história.

Localizada no coração da capital, a escultura Dona Dominga compõe junto com a escadaria Bárbara Lindenberg (1883) e o Palácio Anchieta um conjunto arquitetônico centenário de grande importância. Nesse cenário de poder, no início da década de 1970, uma senhora negra, imortalizada numa escultura, adentra essa esfera elitizada e rompe essa estrutura historicamente reservada aos brancos e heróis em seus cavalos imponentes.

Essa tríade, escadaria, palácio e escultura, compõe o mesmo espaço geográfico, porém, é a figura de uma senhora negra, com a idade avançada, aparentando dificuldade de locomoção, o ponto a ser analisado, principalmente quando percebemos a pouca ou quase nenhuma referência a sua importância na História cultural da capital. Por algum motivo, talvez a estética romântica e realista da escultura, ou quem sabe o fato de representar uma camada da população que por muitas décadas era invisibilizada socialmente, Dona Domingas não dispõe das mesmas atenções do poder público, e consequentemente, da população. Realmente é um contrassenso, o monumento de uma mulher idosa negra ser imortalizada num espaço de poder e referência.

Mas nossa Domingas não permite ser intimidada, ela permanece altiva, forte, gigante. Ela representa um povo resiliente, resistente e vitorioso, que nesse ano conquistou o direito a reflexão, sem avanços significativos, que não a própria data, agora feriado.

Interessante notar que a população mais pobre da cidade de Vitória, que ela, Domingas representava enquanto imagem da própria realidade de tantos e tantas, é em sua grande maioria, alijada de detalhes e informações a respeito, de talvez, sua mais ilustre representante.

Enquanto pesquisadores, temos um papel, que está em curso, qual seja, levar à luz as informações não ficcionais a respeito desse monumento e dessa mulher. Ao poder público cabe resguardar, respeitar e enfatizar a importância de uma filha negra da periferia, que, um dia, foi alçada a Monumento público pelas mãos de governantes que nela enxergavam uma pessoa do povo.

Nesse dia da Consciência Negra, reflitamos e acima de tudo fica um convite: Vamos falar de Dona Domingas?

Fabíola Fraga é doutoranda em Artes / Ufes

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