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Opinião Internacional

Opinião Internacional

Colunista

José Vicente de Sá Pimentel

A convenção dos democratas

Coluna foi publicada no domingo (25)

José Vicente de Sá Pimentel | 26/08/2024, 12:04 h | Atualizado em 26/08/2024, 12:04

Imagem ilustrativa da imagem A convenção dos democratas
José Vicente de Sá Pimentel é embaixador aposentado |  Foto: Divulgação

Deu tudo certo na Convenção Nacional do Partido Democrata. Depois de meses de aflição diante de uma provável derrota de Biden, os representantes partidários lavaram a alma, transformando as noites de segunda a quinta-feira numa festa como há muito tempo não se via. Fora do Centro de Convenções, alguns milhares de manifestantes pró-Palestina reclamaram muito, sem, no entanto, conseguirem furar o esquema de segurança montado pela polícia local.

As grandes lideranças Democratas, como Hillary e Bill Clinton, Michelle e Barack Obama, ao lado dos governadores e senadores que haviam sido cogitados como possíveis candidatos para integrar a chapa partidária, todos participaram com pronunciamentos vigorosos em que sublinharam a união em torno de Kamala Harris.

Em suma, a Convenção festejou a extraordinária mudança ocorrida desde que Joe Biden, em 21 de julho, desistiu de sua candidatura e abriu caminho para a da atual vice-presidente.

Os dois discursos mais importantes foram os de Tim Walz e da própria Kamala. Até então pouco conhecido, Walz debutou para o grande público e demonstrou o acerto da escolha. O contraste entre ele e o companheiro de chapa escolhido por Trump não poderia ser mais gritante.

Enquanto J.D.Vance se apresenta sempre sério e introspectivo, Walz é expansivo, engraçado e sem papas na língua. Os eleitores do interior dos Estados Unidos terão, sem dúvida, facilidade para se identificarem com ele.

Kamala tinha três desafios principais. O primeiro era se fazer conhecida e, na medida do possível, antecipar-se à provável maledicência que deverá enfrentar durante a campanha. O segundo era demonstrar-se confiável e firme diante dos adversários na política interna e externa. O terceiro era delinear os seus planos para a economia e para a imigração, tópicos em que o governo Biden tem os piores índices de aceitação por parte da opinião pública.

A julgar pela reação dos principais comentaristas políticos americanos, as tarefas foram satisfatoriamente cumpridas. Creio que o principal mérito de sua apresentação foi o de transmitir autenticidade ao perfil traçado. Quem viu, há de ter avaliado que ela é aquilo mesmo, uma pessoa alegre e de bem com a vida, porém firme em suas convicções, entre as quais a da primazia do interesse público sobre as conveniências pessoais. A mensagem subliminar era a de afirmar-se como cidadã americana e diferenciar-se da imagem de Trump.

Além da extraordinária audiência registrada na imprensa de todo o país, o êxito da Convenção impactou as pesquisas de opinião, que já na sexta-feira revelavam, pela primeira vez, que as intenções de voto a favor dos Democratas superaram as dos Republicanos nos sete Estados chamados de pêndulos, que são decisivos no Colégio Eleitoral. Em todos eles - Arizona, Carolina do Norte, Georgia, Michigan, Pennsylvania, Nevada e Wisconsin - a liderança passou, em um mês, do lado Republicano para o Democrata.

O dado mais curioso que as pesquisas de opinião demonstram é que a inflexão está dissociada das avaliações sobre a situação econômica local. O caso talvez emblemático é o da Carolina do Norte, um Estado com 16 votos no Colégio Eleitoral, que pende agora para Kamala, apesar de os entrevistados considerarem que a política econômica de uma administração Trump seria mais eficaz. Ora, os dados econômicos comprovam que esse foi um dos Estados que mais se beneficiaram das medidas econômicas do governo Biden, seja na produção e na renda per capita, seja na criação de empregos. Dados como estes sugerem que a desinformação é grande e que a luta pela conquista do eleitorado apenas começou.

As nuvens políticas assumiram uma nova conformação, mas, como advertia Magalhães Pinto, elas mudam cada vez que a gente olha. Em mais alguns dias, e sobretudo após o debate Trump x Kamala, previsto para 10 de setembro, ficará menos difícil prever as preferências dos eleitores. A partir daí, teremos uma ideia dos contornos da próxima administração americana, dos seus principais personagens, e já então passarão a ser sentidos os efeitos dessas escolhas na imensa área de influência mundial dos Estados Unidos.

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