Todo amor morre
Coluna foi publicada nesta quinta-feira (20)
Uma frase dura, mas que com o tempo eu passei a entender suas nuances. Durante a vida amamos por algumas vezes: amamos nossos pais, nossos familiares, nossos amigos, nossos filhos, nossos"amores” e nossos amantes.
Muitos de nós amamos comportamentos (abraços apertados), lugares, autores, atrizes, livros, músicas e comidas.
Já outros de nós amamos “coisas”: e nem estou falando de um materialismo barato ou ostentativo. Eu amo um anel que me foi dado pelo significado que ele tem para mim.
Amar faz parte de nós, mas quando ouvi ou li (já não me lembro mais) está frase ainda na infância eu me revoltei: "O amor é eterno", pois as princesas dos desenhos animados encontravam o amor da vida no final feliz. " E viveram felizes para sempre!
Amadurecendo, percebi que a tal frase não era tão equivocada. O amor morre sim, no desinteresse, na rotina, na discórdia, na inveja, na distância, no (des) prazer, no tempo, na vida. E isto pode acontecer em quaisquer relações.
Já vi pais deixarem filhos e vice e versa. Já vi amigos que se amavam e se chamavam de irmão se afastarem e esfriarem os segredos e cumplicidades. Já vi amantes e amores tornarem-se estranhos! Já vi lugares sendo esquecidos e abandonados. Já vi “coisas” serem guardadas no fundo das gavetas e nunca mais serem tocadas até irem para o lixo em uma mudança qualquer (lembrei de minhas cartas de adolescência).
Tem uma banda que eu gosto muito chamada Teatro Mágico, hoje regida por seu vocalista Fernando Anitelli.
Uma de suas músicas, composta por ele inclusive, chama-se Anjo mais velho.
Nela ele declama “só enquanto eu respirar eu vou lembrar de você”. Não sei o que ele quis dizer com isto (um dia vou pesquisar ou quem sabe perguntar pra ele em um show se tiver oportunidade), mas quando jovem achei que ele falava da morte.
Com o tempo ouvindo a canção refleti que só enquanto eu respirasse AQUELE amor ELE existiria.
Só enquanto o azedume do desinteresse, da inveja, da traição, da distância, do tempo e do desprazer não chegasse aos meus pulmões, o amor estaria SALVO. Mas e se nada disto tomar conta dos seus pulmões como o amor morre?! Com a morte! Simples assim!
Não amamos, sentimos, sim, a saudade de amá-los. Sei que alguns espiritualistas podem refutar meu pensamento e inclusive peço desculpas se estiver errada. Seria bom ter almas gêmeas pelas eternidades.
Mas, no mundo do aqui agora, sabendo que existe um fim, eu tenho duas opções: viver de maneira efêmera, pois nada é para sempre ou lutar para fazer com que o fim se delongue, aproveitando com todos os órgãos do meu corpo o amor para depois gozar de sua saudade.