O que significa Anitta perder 200 mil seguidores?
Coluna foi publicada nesta quinta-feira (23)
A compositora, cantora, empresária, influencer, ativista de causas ambientais e sociais, ganhadora de prêmios nacionais e internacionais e a primeira brasileira a conquistar o top 1 da maior plataforma de música do planeta Anitta lançou, na semana passada, uma música na qual assume, de uma vez por todas, que é frequentadora e crente dos preceitos de religião de matriz africana. Não que ela já não tivesse falado na mídia sobre sua fé, mas fazer uma música com atabaques tocando foi demais para muita gente.
Vejam que no início deste artigo eu coloquei diversas características da Anitta figura pública, até porque eu só conheço esta. Eu o fiz para mostrar quantas qualidades a artista possui e demonstra a seu público. Mas o mundo é minimalista, ele pega uma coisa, uma característica, um ato, um deslize e redefine para si toda a personalidade de uma pessoa.
Nós reduzimos literalmente as pessoas, pois não acreditamos ou não aceitamos uma das suas facetas.
E assim a reduzimos e, a partir daquele momento, nada que ela fez, faz ou venha a fazer tem valor ou sentido, pois “Eu” (a pessoa mais sábia do mundo, o anjo inquisidor que determina quem é digno do céu ou do inferno - se eles existirem) sou a pessoa idônea, não errante, pura e imaculada quem pode decidir isto.
Não vejo nenhum problema em deixarem de seguir a artista, cada um tem a sua rede social para escolher sobre o que deseja se alienar. Afinal, se eu escolho um conteúdo, o algoritmo, não me oferta outro que contradiga o meu gosto e me faça talvez pensar diferente.
O problema são os ataques, as falas cheias de ódio e o ressentimento, as falas de punição ou possíveis punições divinas (se existem) e principalmente a da redução de um sujeito tão múltiplo a uma única coisa: a sua religião.
Então, eu vou te lembrar uma coisa. Você também já foi reduzido por alguém por algo que fez, pensou, cogitou ou afirmou por aí? Você, não é diferente da Anitta, você também já foi “cancelado” por expor uma de suas facetas. Ninguém foge disso, o dedo indicador sempre estará lá. Tanto o do outro quanto o seu.
Mas você pode fugir de ser a pessoa que resume o outro.
Você pode parar e pensar: “Dá tanto trabalho se construir nestes milhões de pedaços que me definem para alguém pegar um e me determinar. E isso dói! E se dói em mim, dói em qualquer um! Não serei eu quem manterá este ciclo!”.
Desejo então que você não seja o dedo inquisidor e sim o abraço acolhedor do outro e de si mesmo. Afinal, somos gigantes e não podemos ser resumidos por ninguém.