Não esqueça seu cilindro
Coluna foi publicada nesta quinta-feira (18)
Uma vez eu vi um filme sobre um garoto de mais ou menos 15 anos que, surfista, era aficionado por ondas gigantes. O filme contava que ele foi um dos surfistas mais novos do seu tempo a surfar ondas gigantes Mavericks, que ocorrem na Half Moon Bay, na Califórnia (EUA).
Não conheço muito de surfe, mas isso deve ser um feito incrível e extremamente perigoso. Voltando ao filme! Ao final, o tal surfista resolve fazer um mergulho despretensioso nas Maldivas, arrisca-se a ir muito fundo e não consegue voltar.
Desculpem por fazer o spoiler do Filme “Tudo Por um Sonho” (2012), que conta a vida do surfista Jay Moriarity.
Eu vou ser sincera com vocês: eu adoro uma aventura! Mas tudo precisa ter um limite! A busca do nosso prazer não pode ser a única forma a nos impulsionar, já dizia o pai da Psicanálise Sigmund Freud.
Freud tem uma obra extensa e muito complexa, eu mesma não tenho conhecimento aprofundado sobre muito do que ele versa, mas sou muito impressionada quanto a elaboração das Primeira e a Segunda Tópicas. Principalmente a segunda, que explica as instâncias psíquicas do ID, ego e superego e os princípios da morte e do prazer. Elas me impressionam, pois eu consigo visualizá-las no cotidiano claramente.
Vou explicá-las um pouco a vocês, mas usarei de uma linguagem bem simplória, ou seja, do meu jeitinho (desculpem aí, psicanalistas de plantão).
O ID seria o nosso instinto, o que temos de mais animalesco. É com ele que enfrentamos tudo (literalmente) para conseguirmos ter “felicidade”, ou no caso da teoria freudiana – gozo.
O problema é que os limites são necessários para vivermos. Tanto como corpo, que padece quando não sabemos utilizá-lo como devemos (veja a respiração do nosso surfista), quanto para as nossas relações sociais.
Então, o superego nos castra (aí – é doí mesmo!) e diz “não, não… assim não pode”. Não é uma palavra linda! Maravilhosa, na verdade… ela nos salva de muita coisa…, mas também não nos permite arriscar, investir ou mudar! A sociedade, na verdade, é uma bela de uma ditadora com suas regras, normas e exclusões. Porém, existe Ele… o meio-termo…, o que vai nos permitir viver em sociedade e ter prazer, no limite certo!
O ego vai pegar de forma metafórica o nosso capetinha (ID) e o nosso anjinho (superego) tenta nos ofertar uma linda vida feliz e regrada.
O que aprendi com Freud e também com as minhas experiências, tanto embriagadas pelo ID quanto ceifadas pelo superego é que o limite é uma palavra necessária para todas as pessoas, na verdade, não só uma palavra, mas um ato de sobrevivência.
Sempre deixo claro que tudo na vida que é demais faz mal! Cada mergulho tem que ser realizado? Sim! Mas sempre pensando que depois precisamos voltar à tona. Então, não esqueça do cilindro de ar.