Demissão de amizades
Coluna foi publicada nesta quinta-feira (12)
“A amizade nem mesmo a força do tempo irá destruir”. A música do grupo Fundo de Quintal versa sobre a solidez da força da amizade. Mas será que ela é tão forte assim? E se não é, será que era amizade mesmo? Precisamos entender uma coisa importante: colega não é amigo! Você achou que apresentaria um conhecimento complexo da psicologia? Se enganou!
Esta frase do senso comum, traz um conhecimento simples, mas de um poder incrível no nosso cotidiano.
Nas sociedades coletivas, a amizade tem realmente essa força. É por isso que, quando vemos alguém que não é rodeado de amigos, achamos que existe algo estranho ali.
Aqui, há uma visão de necessidade de pertencimento a um grupo. Antropologicamente, pertencer a um grupo era sinal de que estaríamos protegidos. Porém, existem vieses dessa garantia, pois acabamos nos apegando a pessoas que nada nos agregam apenas para termos “amigos”.
O fato é que nós mudamos! Mudamos porque a vida muda e os afastamentos são naturais dentro dela.
Veja, se eu me torno amiga de fulana devido às experiências que nos conectaram, quando estas experiências passarem a não fazer mais sentido para mim, das duas uma, ou criamos novas conexões, ou nos afastamos. Por exemplo, você quando estava na faculdade era ligado a seus amigos de sala, mas após formados vocês se afastaram.
Por que isso ocorre? Porque a rotina muda (não se veem mais todos os dias), as necessidades mudam (não precisam mais se preocupar com os trabalhos que faziam juntos), os compartilhamentos de experiências tornam-se escassos (já não sentem juntos raiva daquele professor carrasco). Tudo bem!
Só que aqui não há um abandono! Quando falamos de demissão de amizades, o abandono é a ação determinante.
A geração Millennials iniciou um movimento equiparado ao quiet quitting (demissão silenciosa) nas amizades.
Eles passam a fazer o mínimo necessário para se relacionar, ou seja, deixam de investir naquela relação, afastando-se e evitando o contato.
Isto ocorre pois acreditam que aquela pessoa em nada mais os agrega, e consumidores que são, a relação torna-se desnecessária. Eles observam o outro e não se identificam mais com alguns comportamentos, e decidem que não precisam mais conviver com aquilo e pronto. Puf! Somem!
Mas se é amizade verdadeira, não seria importante conversar sobre aquilo que vem desagradando? Não seria sensato terem uma conversa séria e quem sabe modificadora (para ambos)? É lógico que por vezes as conversas não são produtivas.
Mas se somos amigos para sempre (como dizia a música da minha formatura de ensino fundamental), ela é no mínimo necessária! A geração Millennials não pensa assim!
Na lógica baumaniana de liquidez moderna, eu consumo o que quero, enquanto quero!
E se não tenho mais o que consumir, busco outro “amigo” que esteja na minha perspectiva de padrão comportamental que eu desejo.
O problema que, se todo mundo fizer isso, as amizades serão sempre passageiras! E aí, quem estará ao seu lado no campo de batalha quando ele surgir?
- Sátina Pimenta é psicóloga clínica, advogada e professora universitária