Bodas de Estanho
Coluna foi publicada nesta quinta-feira (1º)
Eu tenho 17 anos de formada e 17 anos de sala de aula. Hoje, especificamente, eu faço 10 anos que atuo em uma mesma instituição de ensino superior: a Estácio de Sá.
A docência é algo que me tomou de supetão. Lembro que fui fazer uma pós-graduação de Saúde e Intervenção Psicossocial e a coordenadora, após me ver apresentando trabalhos, me convidou para dar aula. Até aí, eu achei normal, mas o susto veio quando ela me informou que a turma era a anterior à minha. Imaginei: “esta mulher deve estar desesperada! O professor deve estar doente e por isso ela me chamou!”.
Não sou muito de fugir de desafios, então enfiei a cara nos livros e fui dar aula de Reforma Psiquiátrica… nunca mais saí da sala de aula depois daquele final de semana.
Recém-formada, sabia que precisava fazer o meu currículo para ser contratada por uma faculdade para dar aulas de graduação e assim, comecei a aceitar todas as aulas, de tudo que você possa imaginar, de Norte a Sul do Estado.
Já coloquei minha mãe e meu filho recém-nascido no carro e viajei quatro horas para dar aula no interior, nos intervalos eu o colocava em meu seio e o amamentava.
Cheguei a pensar que eu tinha perdido o juízo quando uma faculdade do Sul do Estado me chamou para dar aula três vezes por semana, o salário não pagava a gasolina que eu gastava e eu aceitei. Fiquei quatro anos, indo e voltando todas as noites, pois durante o dia eu era psicóloga do Presídio de Segurança Média I de Viana.
Enfim, o dia chegou, há 10 anos eu fiz a aula teste na faculdade da capital e fui aprovada. Mas tinha uma condição! Eu tinha que escrever um artigo científico em seis meses e entregar ao coordenador para permanecer lá.
Empolgada, não só fiz o artigo, mas submeti a um Congresso Internacional no Chile e fui apresentá-lo com apoio da faculdade. Os sonhos se realizam sim para quem realmente os almeja.
Eu cresci como profissional! Aprendi a dar as aulas estilo Sátina Pimenta (descalça, gesticulando, criticando, fazendo pensar, deixando eles doidos com os exemplos reais de vidas reais que a Psicologia e o Direito me ofertavam), participei de congressos nacionais e internacionais com meus artigos e tornei-me escritora.
Também idealizei cursos de graduação e pós e os coordenei (e ainda coordeno - sou Coordenadora de Psicologia), fiz meu mestrado e aproveitei todas as oportunidades possíveis para estudar mais (hoje faço Filosofia na Estácio e Ciências Sociais na Ufes).
E, eu juro para mim e para vocês, que eu não vou parar. Todavia, o mais importante de tudo isso que fiz foi conhecer meus alunos, milhares deles.
Eu os chamo de meus amores, meus filhos, meu continente! Eles são o motivo de tudo isso ter acontecido e ainda estar acontecendo.
Vou lhe contar uma coisa: a docência não é para os fracos e nem para os fortes. A docência é para os que creem! A docência de verdade, a que pulsa no peito e não só é um bico que paga umas contas, transforma vidas! As nossas e as dos outros que tocamos.
Assim, quero agradecer pelo tempo que estou crendo veementemente em tudo isso e quero agradecer a cada colega de profissão, instituição e aluno que alimentam a minha crença quando me mostram que tudo isso vale a pena.
Beijos da Profa Sátina Pimenta (ah! #tiaama)